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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante pronunciamento e rede nacional de rádio e televisão. (FOTO/ Carolina Antunes/ Presidência da República). |
Jair
Bolsonaro voltou a falar em cadeia nacional de rádio e TV, na noite desta
quarta (8), sobre a pandemia de coronavírus. Defendeu o uso da cloroquina nos
estágios iniciais da infecção e o fim do isolamento social, além de listar
medidas que seu governo vem tomando. Ao final, citou sua passagem bíblica
preferida, o Evangelho de João 8:32 - "conhecereis
a verdade, e ela vos libertará".
A
questão é: em qual das "verdades" do presidente devemos confiar? Pois
ele tem apresentado diferentes narrativas dependendo do interlocutor e da
plataforma.
Nas
redes sociais, o chamado "gabinete do ódio" comanda ataques diários a
membros do seu próprio governo, como o general Hamilton Mourão,
vice-presidente. O próprio Bolsonaro atacou Mandetta e divulgou notícias falsas
sobre a pandemia - como é o caso do vídeo do Ceasa de Belo Horizonte, que ele
mesmo apagou após ele ter cumprido seu papel de ataque a governadores e
prefeitos.
Em
entrevistas informais, Bolsonaro usa declarações que não seriam chanceladas se
passassem pelo crivo da cúpula militar do Palácio do Planalto que o assessora -
ou tutela, dependendo do ponto de vista. Por exemplo, em conversa com o
jornalista José Luiz Datena, na TV Bandeirantes, na tarde de hoje, disse que as
pessoas têm que "colocar seu vovô e vovó num canto, evitar o contato a
menos de dois metros, e tem que trabalhar". O problema é que, nas favelas
brasileiras, nas residências de cômodo único, não chegar a menos de dois metros
do idoso significa não entrar na casa.
Na
defesa do fim do isolamento social e da volta à normalidade, ele novamente
passou por cima de cuidados civilizatórios mínimos. Chegou a dizer que
"cada família tem que cuidar dos mais idosos, não pode deixar na conta do
Estado". Ou seja, cada um por si e Deus acima de todos.
Já
no pronunciamento em cadeia nacional, ele foi mais sutil. Responsabilizou
governadores e prefeitos pelos impactos econômicos das medidas de quarentena ao
mesmo tempo que chamou para si o sucesso no combate ao vírus. Sutilmente disse
que é o uso da cloroquina e não o isolamento que vai evitar mortes. Até parece
que o texto foi escrito por terceiros - no caso os tais tutores militares.
Como
a estratégia de aplicar conteúdos de discursos diferentes a públicos diferentes
deu certo na campanha, ele segue por esse caminho.
Mas
uma parte considerável da população está assustada com tudo o que está
acontecendo. Segundo o Datafolha, 51% acreditam que ele mais atrapalha do que
ajuda e 17% dos seus eleitores se arrependem do voto. Ele já não reina mais no
Twitter como antes, como mostram as análises de impacto político na rede. A
continuidade do sucesso dessa estratégia depende, portanto, da contagem de
corpos ser muito menor do que o previsto.
E,
infelizmente, foram registrados 133 óbitos nas últimas 24 horas. O número de
mortos continua acelerando.
__________________________________
Por
Leonardo Sakamoto, em sua coluna no Uol
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