URCA debate políticas afirmativas: a implantação do sistema de cotas. Foto:Divulgação. |
A
Universidade Regional do Cariri (URCA), do campus pimenta, em Crato, realizou
durante todo o dia de ontem (terça-feira, 07), o I Seminário de Ações
Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas e contou com a participação de
mais de trezentas pessoas que se inscreveram, entre professores, universitários
dos mais variados cursos de graduação tanto da própria casa, como também da
Universidade Federal do Cariri (UFCA) e dos movimentos sociais negros do
cariri, com destaque para o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o
Grupo de Mulheres Negras do Cariri (Pretas Simoa).
O
evento foi aberto pelo vice-reitor da URCA, o professor Francisco do Ó de Lima
Júnior que ressaltou a importância histórica desse seminário para a instituição
que, em suas palavras é “a mais
nordestina de todas”. Francisco de Lima que ao justificar a ausência do
professor José Patrício Pereira Melo, que ora responde pela reitoria por que
estava participando de uma gravação para a UNESCO, frisou que o momento é mais
um dos marcantes que entrará para a história da universidade, pois entende que
o ato favorece a inclusão de parcelas da sociedade sempre excluídas.
Fizeram
uso ainda da palavra o professor Egberto
Melo, da Pró-reitora de Ensino e Graduação, destacando os trabalhos da Comissão
de Cotas que deu todo o suporte para a realização do seminário, inclusive
garantindo a participação de universitários como membro e fez questão de
lembrar a forte atuação da professora do Departamento de Pedagogia, Cícera
Nunes na organização do evento. Esta que ao tomar a palavra fez um balanço de
todo o percurso até o presente momento e disse que o seminário buscou garantir
a participação de todas as representações dos setores historicamente excluídos
– negros, índios e pessoas com os mais variados tipos de deficiência.
Professor Nicolau Neto fala sobre a luta do movimento social negro pela superação das desigualdades. Foto: Fran Oliveira. |
Com
o dia de programação, a manhã teve a realização de uma mesa com o propósito de
discutir e debater a temática “Ações Afirmativas e Movimentos Sociais: Lutas
pela Superação das Desigualdades”. Este professor, blogueiro e ativista das
causas negras pelo GRUNEC apresentou um panorama histórico das lutas dos
movimentos sociais negros para a superação das desigualdades associadas a raça,
cor e etnia, com enfoque para negros e negras. Nicolau, trouxe à luz do debate,
a conceituação de ações afirmativas tendo como suporte a lei 12.288/2010, que
versa sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Ao citar o inciso VI, do Art. I,
ele afirmou que elas compreendem os programas e medidas especiais adotadas pelo
estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais, bem
como para a promoção da igualdade de oportunidades. Para tanto, disse que a
ação da URCA na promoção do seminário é um ato de reconhecimento de que o país
é elitista e profundamente racista.
Nicolau
ressaltou que as políticas afirmativas são paliativas, mas necessárias que
ocorram, pois são formas que permitem a superação de obstáculos históricos,
políticos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da
diversidade étnica nos espaços de poderes, mas argumentou que as cotas são
apenas uma modalidade que coexistem com outras, citando a as leis 10.639/03,
11.645/08 e a 12.990/14. Estas versam sobre a o trabalho da história e cultura
africana e afro-brasileira; história e cultura indígena nos currículos
escolares e a reserva de vagas aos negros e negras (20%) em concursos públicos
na esfera federal. Estas, segundo ele, são importantes e fruto dos movimentos
sociais negros, mas que ainda não correm como diz a lei.
O
professor disse ainda que tão importante quanto o acesso desse grupo que
corresponde a mais de 50% da população na universidade é garantir sua
permanência sem que sofram quaisquer atos discriminatórios e racistas,
frisando, desta feita, que as ações afirmativas não podem e nem devem ser
entendidas tão simplesmente como reservas de vagas, mas fundamentalmente no seu
sentido real, qual seja, de reestruturação profunda dos espaços de poder
historicamente excludentes e finalizou citando o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa
Santos:
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa
diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferente quando nossa
igualdade nos descaracteriza. Dai a necessidade de uma igualdade que reconheça
as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as
desigualdades”.
A
mesa foi formada ainda por Kaio Cardoso – Acadêmico do Curso de Ciências
Sociais – URCA; Adão Pedro – Comunidade Quilombola de Vassouras – Porteiras –
CE; Ramiro Ferreira – Acadêmico do Curso de Direito – URCA. A Coordenação foi feita
pela professora Cicera Nunes – NEGRER/URCA.
Várias
intervenções foram realizadas como as de Maria Eliana, Cicero Chagas, Valéria e Verônica Neves (GRUNEC), Dayze
Vidal (Pretas Simoa) e do professor João Luís Mota, do curso de Economia da
URCA.
Professores da URCA discutem as ações afirmativas no Brasil para negros, indígenas e pessoas com deficiência. Foto: prof. Nicolau Neto. |
O
seminário seguiu a tarde com a palestra “Ações
afirmativas no Brasil: panorama histórico e experiências”, desenvolvida
pelos professores da própria instituição de ensino superior. O professor Ms.
Antônio
José de Oliveira, do Departamento de História, abordou as questões indígenas; a
professora Dr. Maria Telvira da Conceição, do mesmo departamento versou acerca
do povo negro e a professora Marla Vieira trouxe discussões concernentes as
pessoas com algum tipo de deficiência (surdo, mudo, baixa visão,
locomotora....).
À
noite, o evento teve prosseguimento com a apresentação de uma proposta da
PROGRAD e da Comissão da URCA, intermediada pelo Pró-reitor de Graduação,
professor Dr. Egberto Melo, com a coordenação do professor João Luís Mota do
Nascimento.
Ficou
acordado que na próxima terça-feira, 14, haverá a realização de uma audiência
pública com a finalidade de oportunizar mais pessoas a participarem das
discussões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!