Nicolau Neto defende obrigatoriedade de disciplina sobre História Afro-indígena em formação na EEM Patativa do Assaré

 

Nicolau Neto defende obrigatoriedade de disciplina sobre História Afro-indígena em formação na EEM Patativa do Assaré. (FOTO | EEM Patativa do Assaré).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

A EEM Patativa do Assaré, localizada na Serra de Santana, zona rural do município de Assaré, realizou durante toda a manhã desta quinta-feira, 25 de maio, uma formação para parte do corpo docente. A formação - como explicou o diretor da instituição - o professor Flavio, visava refletir sobre os 20 anos da Lei 10.639/2003.

Queremos antecipadamente agradecer o professor Nicolau Neto por prontamente ter aceitado nosso convite para esse momento que será um conversa com nossos professores e professoras. O Estado escolheu esse ano a temática da cultura africana e afro-brasileira para seus eventos. Então, a gente trouxe o professor para dialogar sobre ‘os aspectos legais para trabalhar as relações étnico-raciais na educação’”, disse ele.

O momento foi aberto com a exibição de um vídeo produzido com os (as) estudantes da instituição durante a participação na fase escolar do evento Alunos que Inspiram que esse ao teve como tema “a cultura afro-brasileira e sua contribuição para uma educação antirracista”.

O professor Nicolau começou agradecendo o convite da escola e parabenizando-a por estar preocupada em refletir e traçar estratégias no combate ao racismo e, por tanto, em construir políticas pedagógicas que não só reconheça, mas valorize e propague os saberes do povo negro e indígena.

Nicolau destacou que seus objetivos com a conversa era analisar como os povos africanos e indígenas aparecem nos livros didáticos adotados e utilizados na EEM Patativa do Assaré, além de “refletir sobre a nossa prática do ensino” e indagou “onde aparece os saberes afro-indígenas no meu plano de curso”?

Analisar e refletir sobre o processo ensino-aprendizagem com base na relações étnico-raciais é uma necessidade urgente. Não há democracia plena onde o racismo ainda define lugares que pretos, pretas e indígenas devam ou não ocupar. Nesse sentido, a escola, como um dos mais importantes espaços de promoção e divulgação de saberes sistematizados, precisa assumir seu papel na construção de uma sociedade que respeita, valoriza e propaga os multisaberes, desarranjando toda forma de preconceito, discriminação e racismo. (Nicolau Neto durante a formação, 25/05/23).

Para corroborar com sua assertiva ele dialogou com uma fala do professor e artista plástico Abdias do Nascimento que em uma entrevista respondida por e-mail por sua esposa, Elisa, e subscrita por ele para O Inverso do Contraditório, destacou “o racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial”.

Segundo Nicolau, a fala de Abdias é atualizada a cada dia. Basta perceber o silenciamento em muitas instituições, inclusive nas escolas, quanto o assunto é o cumprimento das leis 10.639/2003 e 11.645/2008. Ambas falam da obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e do ensino sobre História e Cultura indígenas no âmbito de todo o currículo escolar. “Há muita resistência”, pontuou Nicolau. “Quando muito se fala é em eventos esporádicos. Não há uma política educacional direcionada”, destacou.

Intelectuais como a filósofa Lélia Gonzales e o sociólogo Jessé Souza foram incorporados a fala de Nicolau para dizer que institucionalmente ainda estamos muito distantes de construir uma educação antirracista. De Lélia foi mencionado trechos do livro “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira (1984)” e de Jessé, o livro “Como o Racimo Criou o Brasil (2021)”.

Professor Nicolau Neto junto a professores e professoras da EEM Patativa do Assaré. (FOTO | EEM Patativa do Assaré).

A conversa foi regada a muitas intervenções e contribuições dos professores e professoras que entre outras reflexões mencionaram a questão da política de cotas raciais e da representatividade negra e indígena (a ausência, na verdade) nos espaços de poder.

Por fim, o professor Nicolau destacou diversos exemplos de como as leis mencionadas podem ser trabalhadas em sala e em todas as disciplinas e destacou que, apesar de esforços individuais e de algumas escolas, é preciso que se tenha uma modificação curricular. “Necessitamos de um currículo que seja de fato descolonizado. Que contemple os multisaberes que foram e continuam sendo apagados da história da educação brasileira” e defendeu a necessidade das disciplinas “História e Cultura afro-brasileira” e História e Cultura indígena” como obrigatórias e presenciais na educação básica.

Só assim para romper com as falas sobre a gente apenas em eventos esporádicos”, disse. “Mas enquanto isso não ocorre, o que eu enquanto professor e professora tenho feito? “Onde estão os saberes afro-indígenas no meu plano de curso”, indagou.

Nicolau citou além das duas leis mencionadas como marcos legais, a LDB/96 alterada, as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana e o Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP).

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