Ana Nunes, professora e diretora da EEMTI Lindalva de Morais, em Milagres-CE. (FOTO | Acervo Pessoal). |
Por Ana Nunes, colunista
09 de fevereiro, o Ministério da Educação anunciou que iria antecipar o resultado do ENEM. Iniciamos a louca corrida para sabermos quem teria alcançado a tão sonhada nota mil na redação e as melhores médias gerais para que pudéssemos “celebrar”. Absorvidos pela lógica da competição, de celebrar os melhores, de exaltar o nome da escola através desses resultados, e colocar o ensino a serviço das necessidades do mercado, esquecemos todos os processos vividos por todos os estudantes e o papel social fundamental da escola.
Penso como educadora, que cada vez que celebramos resultados, sem considerar as trajetórias, fortalecemos a lógica perversa da meritocracia que desconsidera os esforços empreendidos por meninos e meninas que deram o seu melhor, que driblaram o funil educacional que persiste na educação brasileira.
A Secretaria de Educação do Estado do Ceará tem investido em programas para fortalecer a permanência dos estudantes e o seu retorno à escola, como a monitoria da Busca Ativa, ancorados em um discurso que se propõe para a equidade, porém essas ações se tornam contraditórias frente ao destaque que é dado somente aos que obtêm determinada nota no ENEM. É desalentador presenciar a tristeza quase que depressiva com que os meninos e meninas que fizeram tanto para chegar até o ENEM, olham para si próprio. Sentindo-se incapazes, inferiores, impossíveis de atingir o “OLIMPO” do ENEM. Ficam de certa forma tão desnorteados que sequer têm coragem de entrar no sistema e tentar uma vaga nas universidades pelo SISU ou PROUNI, pois segundo a linha do pensamento liberal empreendedor, parece que quem não conseguiu foi porque não quis, não se esforçou o bastante.
Não quero, entretanto que se conclua que sou contra que se torne público os resultados exitosos, o problema está na individualização que se faz dos resultados de uma educação que se propõe para equidade, e que com essa prática de teor meritocrático, e de uma psicologia opressora, abandona o coletivo em detrimento do indivíduo, esquecendo quais efeitos essa prática gera neste coletivo, e como é danosa para a construção da solidariedade e de consciência de classe, afinal a escola pública é composta pelos filhos e filhas da classe trabalhadora.
Não devemos nós da escola pública brasileira cairmos na armadilha da meritocracia, pois sabemos que o direito constitucional à educação, precede de muitos outros que ainda não se concretizaram para boa parte dos estudantes que frequentam nossas escolas.
Que a nossa celebração também seja para inclusão!