A cor da devoção: o legado do povo negro no Cariri cearense

 

Maria Telvira é Pós-Doutora em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Professora do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Qual é a cor dos devotos de Padre Cícero? A constituição das romarias em Juazeiro do Norte (CE) informa sobre um processo histórico que remonta o final do século XIX. Tradicionais na região Nordeste, essas práticas são reconhecidas como um dos maiores fenômenos religiosos do Brasil. Anualmente, estima-se que mais de dois milhões de romeiros/as ocupem os espaços sagrados, valendo-se de um longo ciclo de peregrinações. Diante da expressividade numérica e simbólica dessas manifestações religiosas, interrogo sobre a participação do povo negro nas romarias de devoção ao Pe. Cícero Romão. Essa  indagação remete à poesia-monumento de Aimé Césaire: “Minha negritude não é uma pedra, surdez arremessada contra o clamor do dia. Minha negritude não é uma mancha de água morta sobre o olho morto da terra. Minha negritude não é uma torre ou uma catedral […]”.


Berço do Pe. Cícero – Momento de visita de romeiros no Museu Casa do Pe Cícero. Juazeiro do Norte (CE), s./d. Fonte: Acervo do Centro de Psicologia da Religião.

Este texto é fruto da pesquisa A cor da devoção: africanidade e religiosidade no Cariri contemporâneo, realizada com recursos da bolsa produtividade da Fundação Cearense de  Amparo à Pesquisa (FUNCAP-CE), desenvolvida entre 2017 e 2018, com desdobramentos em 2019 e 2020 durante o pós-doutoramento no Programa Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará. As análises focalizaram as cidades de Juazeiro do Norte e Crato (CE). As fontes utilizadas incluem documentos de arquivos físicos e virtuais, 34 entrevistas orais, bem como dados resultantes da aplicação de um questionário para 2.009  romeiros/as. Além disso, foi possível coletar informações com os/as romeiros/as durante a realização de conversas, rezas, benditos, celebrações, as narrativas de curas e de fé. A  interlocução com os/as devotos/as no tempo presente favoreceu a articulação de temporalidades e de contextos históricos diversos.

Ao longo da investigação a questão central observada diz respeito sobre o silenciamento da identidade racial dos/as devotos/as. Situação que denomino de as fronteiras do silêncio. Contudo, no percurso desta  pesquisa, 74% dos romeiros/as entrevistadosas se autorreconheceram  negros/as (pardos e pretos). Vale ressaltar que essa porcentagem ultrapassa o quantitativo do  Brasil e do Ceará.  No que tange às práticas devocionais, no caminho aberto por Carlos Moore, podemos dizer que “ a cor não se presta a dúvida”. Contudo, apesar das evidências, há reiteradas tentativas de apagamento das faces negras nas romarias da região.

A fim de desnaturalizar essa visão, eu dialogo com a  perspectiva contra-colonial, de   Antonio Bispo,  que  enfatiza a necessidade de reconhecer as soberanias intelectuais, alimentares, cartográficas e religiosas dos povos originários africanos, chamados pelo autor de  afropindorâmicos. Essa abordagem favorece a emergência de novas interpretações sobre o passado e o presente.


Negro zelador do Cemitério do Perpétuo Socorro. Fotografia: Roque Miranda. Juazeiro do Norte (CE), 1951. Fonte: Arquivo pessoal de Renato Cassimiro e Daniel Walker.

Em termos históricos desde os primórdios da tradição, beatos/as majoritariamente negros/as participaram de forma ativa. Os registros mostram que eles/as desenvolviam atividades de assistência religiosa na comunidade local. O que incluía, por exemplo, acompanhar pessoas que estavam no leito de morte, bem como a realizar cantos fúnebres conhecidos como as incelências. De igual modo, podiam exercer a função de zeladores de cemitério. Também estavam envolvidos/as com ações que visavam angariar recursos financeiros, como o pedido de esmolas para sua própria sobrevivência. Essas práticas integravam parte significativa do trabalho de caridade. O que  incluiu a participação negra nas missões humanitárias do Pe. Ibiapina no Nordeste da década de 1870.

A partir do século XIX, ocorreram migrações negras de todo o Nordeste para Juazeiro. Situação que favoreceu a constituição de agenciamentos individuais e coletivos em torno das romarias. Dentre eles destaco:  a trajetória da Beata Maria de Araújo, afilhada do Pe Cícero, que desde a adolescência dedicou-se à vida religiosa, bem como a existência da comunidade revolucionária do Caldeirão, liderada por José Lourenço.


Fotografias de beatos da História de Juazeiro do Norte. Juazeiro do Norte (CE). Fonte: Ciclo Operário Complexo da Matriz de Nossa Senhora das Dores – Exposição Temporária.

Ademais, ainda no século XVIII, o Cariri conheceu a formação de irmandades negras, sendo a Irmandade do Rosário de Barbalha considerada a mais antiga. Essas organizações eram formas de vivenciar religiosidades, de estreitar relações e, sobretudo, de enfrentar as consequências da apartação racial, elemento fundante da sociedade brasileira. Suas práticas coletivas atravessaram o século XIX e chegaram até o século XX, conforme ocorreu com a Irmandade  Penitentes Aves de Jesus e a Irmandade  Penitentes da Santa Cruz do Deserto. 

Pela força do racismo, indivíduos e coletividades negras, além de apagados da história, foram insultados pela elite, pela imprensa da época e pela própria igreja como “rudes, atrasados, delirantes, vagabundos e fanáticos”. Importante destacar que, mesmo tendo suas ações desqualificadas como curandeirismo ou macumbaria, esses/as sujeitos/as continuaram expressando suas devoções e participando da dinâmica sociocultural do Cariri.  Narrar suas experiências é uma forma de promover reparação histórica, pois, conforme lembra o historiador Michel-Rolph Trouillot, a história tem sido um discurso de poder que se caracteriza pela produção da invisibilidade.

Nesse sentido, é preciso combater aquilo que o autor chamou de o “poder da distribuição do registro”. A história que tem sido considerada legítima sobre o Cariri subtrai as realizações, os fatos e as labutas do povo negro.  

Com efeito, mesmo diante do silêncio historiográfico, do controle da Igreja e dos preconceitos da sociedade, essas experiências negras atravessaram a cronologia do silêncio, instituindo modos singulares de exercer a religiosidade. Para isso, articularam sofisticados sistemas de memória e de vivências coletivas. São histórias de reelaborações da existência cuja singularidade pode ser expressas pela poética de Conceição Evaristo: “Meu rosário é feito de contas negras e mágicas. Nas contas de meu rosário eu canto Mamãe Oxum e falo padres-nossos, ave-marias”.

Assista ao vídeo da historiadora Maria Telvira da Conceição no Acervo Cultne sobre este artigo:


          

Sem liberação de armas, Brasil teria evitado mais de 6 mil mortes violentas entre 2019 e 2021

 

(FOTO/ Pixabay).

O país poderia ter evitado 6.379 homicídios, entre 2019 e 2021, se o governo federal não tivesse flexibilizado o acesso às armas de fogo, revelou um levantamento exclusivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado na última quinta-feira (29).

Uma explicação trazida no estudo é que o aumento de circulação de armas, a partir de 2019, tem relação com a ilegalidade: quanto mais armas nas mãos da população, mais delas migrarão para o mercado ilegal — seja por meio de extravios, roubos ou ações premeditadas de seus proprietários. A pesquisa também revelou que a criminalidade cresce 1,2% — em latrocínio (roubo seguido de morte) — a cada 1% a mais de pessoas armadas. Já a cada 1% de aumento de armas, a taxa de homicídio cresce 1,1%.

Mais armas circulando

Em 2019, após assumir a presidência da República, Jair Bolsonaro (PL) promoveu uma verdadeira mudança na legislação armamentista. Com mais de 40 atos normativos e decretos publicados para fragilizar os mecanismos estabelecidos pela lei 10.826/03, as mudanças promovidas implicaram na facilitação dos requisitos para aquisição de licenças, especialmente de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), ampliação do limite de armas para todas as categorias, aumento da quantidade de recargas de cartucho de calibre restrito que podem ser adquiridos por atiradores desportistas anualmente, dentre outras.

As ações do governo resultaram no crescimento de 476,6% nos registros ativos de CACs entre 2018 e 2022 e em, ao menos, 4,4 milhões de armas em estoques particulares, conforme dados recentes divulgados no Anuário do FBSP.

Redução poderia ser maior

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, desde 2018 o país vem reduzindo a taxa de mortes violentas intencionais, saindo de 30,9 por 100 mil habitantes em 2017 e chegando a 22,3 em 2021. No entanto, "o aumento da difusão de armas terminou por impedir, ou frear uma queda ainda maior das mortes. No caso dos latrocínios os efeitos também foram diretamente proporcionais e marginalmente mais fortes. Por fim, não encontramos relação estatisticamente significativa entre a disponibilidade de armas e outros crimes contra a propriedade, o que evidencia a falácia do argumento armamentista, segundo o qual a difusão de armas faria diminuir o crime contra a propriedade”, diz o estudo.

O levantamento considera como hipóteses explicativas dessa queda na violência letal a mudança do regime demográfico rumo ao envelhecimento da população, mudanças nas políticas de segurança pública em alguns estados, e a dinâmica pelo controle do narcotráfico no país - entre 2016 e 2017, o país assistiu a uma guerra envolvendo as duas maiores facções criminais – o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) que culminou no crescimento abrupto da taxa de letalidade violenta.

Os resultados robustos e estatisticamente significantes indicaram que quanto maior a difusão de armas, maior a taxa de homicídios. Isso implica dizer que se não fosse a legislação permissiva quanto às armas de fogo, a redução dos homicídios (provocada por outros fatores, como o envelhecimento populacional e o armistício na guerra das facções criminosas após 2018) teria sido ainda maior do que a observada”, avaliou o estudo feito pelo Fórum.

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Com informações do Andes.

O que causa exclusão e morte é a política de aversão a pobre

 

(FOTO/ Rovena Rosa/EBC)

As principais vítimas da tragédia de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, e o crescimento da população em situação de rua nas grande cidades têm uma raiz em comum: a aporofobia. Ou, em português claro, a aversão a pobres. Na visão do padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, a especulação imobiliária é um dos combustíveis para esse processo de invisibilização dos mais pobres. E tem como aliado o poder público, quando este, em vez de combater a exclusão social e suas causas, culpa os excluídos por sua condição.

Aporofobia, por exemplo, é o que nós estamos vendo em São Sebastião. Quem é que ficou soterrado? Os soterrados são os pobres e os trabalhadores. Que os condomínios e hotéis não os querem perto”, observa padre Júlio. O religioso faz a comparação ao comentar a lei, que leva seu nome, que proíbe as cidades de praticar intervenção hostil contra moradores de rua. “Assim, a intervenção hostil é um sintoma da aporofobia, quando se colocam estacas, pontas de lanças, gotejamentos, graxas e outros obstáculos que não deixem espaço para as pessoas”, diz.

O Congresso Nacional aprovou a Lei Júlio Lancellotti no ano passado. O ex-presidente tentou vetá-la, mas o Congresso rapidamente derrubou o veto. No estado de São Paulo, a Assembleia Legislativa aprovou lei com mesmo teor, mas também vetada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ou seja, mesmo governador que visitou as cidades do litoral norte de São Paulo depois das tragédias nas chuvas, barra, em seu quintal, uma ação de “luta pela vida e pela dignidade humana”, nas palavras de Júlio Lancellotti.

Gestão pública, interesses privados

Na capital paulista, prefeitura e especulação imobiliária também travam batalhas contra os moradores de rua movidos a aporofobia. Porque não em vez de enfreta as causas e da pobreza, enfrentam os pobres mesmo. Ou seja, a gestão pública se une aos interesses privados com objetivo de jogar toda a população da cidade contra a população de excluídos.

Essa prática fez com que o padre Júlio, junto com o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), ingressassem com uma ação civil pública contra a gestão do prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB). Com a ação, conseguiram barrar temporariamente a ofensiva do prefeito contra os sem-teto e suas barracas.

A cidade de São Paulo tem 48 mil pessoas em situação de rua, segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais baseado no Cadastro Único do governo federal. Ou seja, pondera Júlio Lancellotti, o número de moradores de rua na capital paulista deve ser ainda maior, já que boa parte dessa população não tem sequer acesso a meios de se inscrever no CadÚnico. “Eu convivo diariamente com essa população e ainda encontro muitas pessoas que nem sequer têm o CadÚnico por problemas de falta de documentos”,

Veja o problema que veio à tona após a tragédia em São Sebastião. Os condomínios e hotéis que ocupam as áreas próximas à praia não querem os pobres por perto. Tampouco os seus trabalhadores os hotéis e condomínios querem por perto”, diz o padre.

Ele observa ainda a dificuldade de seguir o que o presidente Lula pediu em sua visita a São Sebastião: que os prefeitos encontrem áreas seguras para novas moradias. “Então, as áreas seguras a especulação imobiliária não quer disponibilizar para moradia para os pobres. E isso acontece em São Paulo também (e com a população de rua de toda grande cidade também).”

População contra população

O coordenador da Pastoral explica: “Existe um decreto municipal desde a gestão de Bruno Covas (morto em 2021 e sucedido por Ricardo Nunes) que determina que a prefeitura não pode retirar itens essenciais à sobrevivência das pessoas em situação de rua. Mas eles mesmos não obedecem o próprio decreto deles”, critica. “E eles retiram documentos, remédios, água, alimentos, vestuário, colchões, cobertas, além da barraca.”

Lancellotti avalia que ações desse tipo visam a “retirar de vista” os sem-teto e são agravadas quando os poderes públicos afirmam que eles não teriam motivo para estarem nas ruas. “Dizem que nós (os defensores dos direitos do povo de rua) queremos que as pessoas fiquem nas ruas. E jogam a população da cidade contra a população em situação de rua quando se diz que eles estão na rua porque eles querem. O próprio prefeito chegou a dizer ‘eu não sei por que eles estão na rua’. Ora, é só perguntar pra eles, que não haverá respostas, nem qualitativamente, nem quantitativamente. Não se pode enquadrar a todos na mesma resposta.”

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Com informações da RBA.

Intelectuais negros, lideranças políticas e religiosas se reúnem para receber o ativista Mamadou Ba

 

Intelectuais negros, lideranças políticas e religiosas se reúnem para receber o ativista Mamadou Ba. (FOTO/ Zezzynho Andraddy).

Uma potente campanha internacional antirracista foi formada nesta quinta-feira (23), para receber Mamadou Ba - intelectual e ativista, que vem sendo perseguido em Portugal por conta dos seus posicionamentos antirracistas.

Mamadou Ba, dirigente da ONG SOS Racismo, recebeu em 2021, o prêmio internacional Front Line Defenders, atribuído a ativistas de direitos humanos em risco, pela sua dedicação à luta antirracista. É coautor de vários documentos públicos sobre racismo e direitos humanos e autor de artigos em jornais, revistas e livros, bem como orador em conferências sobre temas relacionados com a imigração, a diversidade étnica e o racismo. O ativista antirracista vem sendo perseguido pela extrema direita em Portugal, com ameaças de morte e difamação. Assim como, o SOS Racismo, criado em 1990, tem sido duramente perseguido pelos detratores da democracia objetiva dos em movimentos sociais como o neonazismo e que organizaram, inclusive, uma marcha contra a organização e contra Mamadou, além de conteúdos violentos e racistas produzidos para mobilização das redes sociais.

O encontro foi organizado pelo Professor Doutor Babalawô Ivanir dos Santos, que reuniu lideranças em um jantar em sua casa, na Mangueira, para um acolhimento à Mamadou Ba, mas também para uma ampla frente de apoio ao ativista. “Mamadou tem atuado na luta contra o racismo e a xenofobia como dirigente da ONG SOS Racismo em Portugal, o encontro foi mais uma etapa no combate ao racismo mundial. O intuito foi promover e assegurar a dignidade humana em todos os lugares e lutar contra todas as formas de intolerância e opressão. Temos que refletir profundamente sobre os nossos avanços e retrocessos no combate ao racismo”, debateu Ivanir dos Santos

Mamadou com 49 anos, é residente há mais de 25 anos em Portugal, tem nacionalidade portuguesa, luso senegalês, nascido no Senegal e doutorando no Canadá, na Universidade de British Columbia, no Departamento de Gênero, Raça e Justiça Social. Formado em Letras pela Universidade Cheikh Anta Diop, se especializou em Tradução pela Universidade de Lisboa. Desde 2022, mora em Vancouver / Canadá.

O Prof. Deputado Federal Reimont (PT-RJ), se comprometeu em levar propostas e as ações para a bancada do PT na Câmara dos Deputados, em Brasília. “O encontro foi um aprendizado, é preciso lutar, é preciso combater o racismo”, declarou o parlamentar.

Ba, já conta com em torno de 500 depoimentos, dos muitos, de Sílvio Almeida - Ministro dos Direitos Humanos do Brasil, Mia Couto, Antonio Pitanga, Paulo Betti, Associação Brasileira de Antropologia, ABRAPLIP (Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa), Boaventura de Sousa Santos, Grada Kilomba, Michael Löwy, entre outros que gravaram depoimentos e fizeram cartas de apoio.

Acusações. Dos 12 processos no total, 3 foram arquivados e 9 estão em andamento. O processo que irá a julgamento entre 11 de abril e 10 de maio, com várias audiências já marcadas, é o mais absurdo de todos, o judiciário português aceitou uma queixa crime do líder neonazista português Mário Machado, conhecido pelo seu envolvimento em vários crimes de sangue, incluindo o assassinato do jovem negro de origem cabo verdiano Alcindo Monteiro, em 1995 - O judiciário aceitou a queixa crime do neonazista por difamação. O juiz Carlos Alexandre acompanhou a acusação do MP e entendeu que o líder neonazista tinha direito à defesa de sua suposta honra

"Como se pudesse ser difamado quem se orgulha dos crimes que cometeu e das ideias que professa.  Esse mesmo juiz aceitou recentemente ser testemunha abonatória de um agente policial que agrediu barbaramente uma mulher negra, Cláudia Simões, por motivações racistas. Este agente policial faz parte dos 591 policiais identificados numa investigação jornalística como elementos infiltrados das ideias da ultra direita nas forças policiais, com discursos abertamente racistas e violentos citando nominalmente Mamadou e a ex deputada negra Joacine Catar com ameaças de violência", argumentou a Prof Dra Camila do Valle, professora de Literaturas Africanas e Literaturas de Língua Portuguesa da UFRRJ.

Para Mamadou - "‘Portugal é um país estruturalmente racista, nossa luta é pela construção de uma frente antirracista. É preciso dar maior visibilidade à luta antirracista travada em Portugal".

Entre os processos enfrentados por Mamadou está o de ter ofendido um herói da pátria portuguesa, o oficial do Exército Marcelino da Mata, um dos mais condecorados na história do país, durante o período da ditadura salazarista. Tinha orgulho das torturas que praticou contra os africanos que lutavam pela independência. O partido de ultradireita ‘Chega’ homenageou Marcelino. Mamadou, criticou veemente a homenagem. Mas lei portuguesa, considera crime ofender a honra de heróis nacionais, resultando em outro processo contra Mamadou

"O encontro foi fundamental, porque temos que juntar forças e fazer um enfrentamento internacional contra o racismo", defende a Pastora Lusmarina Campos Garcia.

Lideranças de pesos marcaram presença, como o sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, a prof Dra Helena Theodoro, o Prof. Dr. Carlos Alberto Medeiros, o Desembargador Siro Darlan, o Secretário Municipal de Cidadania do Rio Renato Moura, o Prof. Dr. Renato Noguera, Fátima Andrea Monteiro - Movimento Negro Unificado RJ, o advogado Carlos Nicodemos - Litigância estratégia de proteção dos direitos humanos, o escritor Jacques d' Adesky, Mônica Alexandre / OAB, Maria Soares, no alto dos seus 98 anos, um símbolo da luta feminista contra o racismo e intolerância. Presença da sacerdote Márcia Marçal, Marcelo Monteiro - Movimento Axé do PDT, Cezar Vasquez, Prof. Wallace de Moraes, os jornalistas Pedro Bassan e Arnaldo Bloch, Diane Kuperman, representantes da CCIR, entre outros.

"O jantar com o Prof. Mamadou Ba, além de ter sido uma aula sobre a questão racial em Portugal, foi a fundação de uma frente ampla internacional de combate à ideologia de extrema-direita", declarou o muçulmano carioca Abdul Karim.

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Texto de Rozangela Silva, Assessora de Imprensa, encaminhado a redação do blog. 

A identidade comunista não está ultrapassada

 

Foto histórica dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, na base aérea do Galeão, Rio de Janeiro, antes de partirem para o exílio no México, em setembro de 1969. Registro marca a história da luta armada de esquerda no Brasil. Outros dois presos políticos foram agregados ao grupo na ida ao México. Fonte: Wikipedia.

Por Alexandre Lucas, Colunista

Teve um tempo em que negar a identidade comunista era uma necessidade de sobrevivência individual e coletiva. Os comunistas tiveram de usar pseudônimos, entrar na clandestinidade, desaparecer dos holofotes oficiais e silenciar a sua existência, ao mesmo tempo que precisaram reafirmar princípios e aglutinar forças políticas para derrotar os períodos de Estado de Exceção no país: Estado Novo e a Ditadura Militar.

Na história brasileira, as organizações comunistas foram as mais atacadas: O PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro), principais organizações dos comunistas no país, tiveram seus dirigentes e militantes presos, torturados, perseguidos e assassinados.  Há cerca de 100 anos, os comunistas tem que conviver e enfrentar cotidianamente a intensa campanha anticomunista, nos mais diversos níveis e segmentos da sociedade. A campanha anticomunista tem capilaridade social e é difundida pelos diversos aparelhos ideológicos do estado, que vai desde as instituições religiosas, escolas ao conglomerado de empresas de comunicação e de produtos.   O discurso da classe dominante é a narrativa da manutenção do estado burguês, da ditadura da burguesia, ou seja, a luta anticomunista se justifica para elites econômicas, detentoras do capital, como mecanismo de redução e esfacelamento da organização, dos espaços de poder e das conquistas da classe trabalhadora.

Os comunistas, a partir de amplo leque de forças políticas do campo democrático e progressista, tiveram papel essencial no processo de redemocratização do país, após 21 anos de ditadura militar. Desde os meados da década oitenta do século passado, os comunistas e suas organizações podem usar suas cores, suas siglas e seus símbolos como a foice e o martelo que simboliza historicamente o entrelaçamento do proletariado e do camponês.

Com a abertura democrática no país, crescem também as abordagens de percepção social, as formas de organização e de luta da sociedade. Formas isoladas de perceber e resolver os problemas sociais vão ganhando espaço e fragmentando a luta pela transformação social. É notório neste período o crescimento do conceito de “orguinização” da sociedade, crescimento das mais diversas ONG com discursos de substituição do papel do estado, como também do denominado movimento identitário.  As quais têm demandas socialmente negadas e que precisam ser fortalecidas no seio da luta da classe trabalhadora pelo seu processo de emancipação.

A redemocratização continua impondo aos comunistas e as suas organizações o enfrentamento ao anticomunismo e ao mesmo tempo a defesa de princípios teóricos sobre a concepção das relações geradoras de exploração e opressão. 

A todo tempo tentam impor uma narrativa de que ser comunista está ultrapassado, como se as relações de exploração, opressão e a desigualdades sociais e econômicas tivessem sido superadas.

As últimas eleições demonstraram uma peculiaridade que precisar ser percebida no contexto de aglutinação de forças sociais de caráter orgânico. A direita de feição fascista e a chamada da esquerda identitária, ambas tiveram um bom desempenho eleitoral, a partir da afirmação de seus princípios e uma comunicação com o mesmo teor, isso não aconteceu de forma relâmpago, mas processual.

Os comunistas hoje não precisam mais esconder as suas identidades. Vivenciamos uma atmosfera política favorável à ampliação da comunicação e da formação que reafirma a  identidade comunista. 

A identidade comunista se afirma a partir dos princípios teóricos e não se assemelha ao achismo, espontaneísmo e idealismo.  Refirmar Lênin continua sendo atual: "Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário". Ao mesmo a  identidade comunista deve se incorporar a uma comunicação que  reafirme a sua própria identidade.  A Coca-Cola por exemplo, maior símbolo do capitalismo no mundo, não abre não da sua identidade, não se bebe Coca-Cola sem rótulos. No campeonato de futebol os times não jogam sem termo, para não confundir os torcedores. No campo da política os comunistas não podem jogar sem sua identidade. É se reafirmando que os comunistas fazem crescer a sua militância e a sua densidade eleitoral. É possível se afirmar, sendo amplo, falando para além dos pares e sem negar identidades e princípios.  

Bolsistas da Funcap buscam reajuste das bolsas de produção cientifica no Ceará

 

Deputado Idilvan Alencar em reunião com bolsistas. (FOTO | Reprodução | Redes Sociais).

Grupo se reuniu nesta sexta-feira (24) com o deputado federal Idilvan Alencar para buscar apoio à pauta

Pesquisadores e estudantes universitários cearenses estão buscando o aumento das bolsas de produção cientifica no Ceará. Na semana passada, o governo federal anunciou o reajuste dessas bolsas (Capes e CNPQ) que estavam congeladas há dez anos. 

Um grupo de mais de 100 pessoas, de diferentes locais do Ceará, que recebem bolsa da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (SECITECE), se reuniu na tarde desta sexta-feira (24) com o deputado federal Idilvan Alencar para pedir apoio à pauta. A reivindicação é que os valores ofertados pela Funcap acompanhe o reajuste oferecido pelo governo federal.

De acordo com o grupo, para se equiparar aos novos valores das bolsas do CNPq e da CAPES, as bolsas da FUNCAP necessitam de um reajuste de R$250,00 na graduação (Iniciação Cientifica), R$440,00 no mestrado e R$660,00 no doutorado.

Outra reivindicação é que seja criado um calendário de pagamento das bolsas, haja vista que não há uma data certa para o repasse ser feito aos bolsistas. 

Idilvan destaca que a produção cientifica traz importantes contribuições para a sociedade. “A partir do trabalho desses pesquisadores e estudantes muitas politicas públicas são criadas para resolver os problemas sociais”, comenta o deputado.

Idilvan divulgou que vai conversar com o governador Elmano de Freitas e com a secretária Sandra Monteiro (SECITECE) para pedir que sejam discutidas alternativas para o reajuste das bolsas, para a criação do calendário de pagamentos e para a melhoria das condições de trabalho dos pesquisadores.

No reajuste concedido pelo governo federal, o parlamentar cearense conseguiu incluir os estudantes bolsistas do Prouni que, inicialmente, não tinham previsão de aumento da bolsa permanência que recebem.

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Texto de Aglécio Dias / Assessor do deputado Idilvan e encaminhadoa redação do bog.

Encontro de Pontos de Cultura do Cariri será realizado nesta terça-feira (28)

 

(FOTO | Ricardo Alves).

Acontece nesta terça (28), no Sesc Crato, Encontro de Pontos de Cultura do Cariri realizado pelo Coletivo Camaradas

Na próxima terça-feira (28), o Coletivo Camaradas realiza encontro com os pontos de cultura da Região Metropolitana do Cariri, na cidade de Crato. O evento acontecerá na unidade do Sesc do município. Com o tema “Agitação e Propaganda na Contemporaneidade”, o evento acontece a partir das 14 horas e deve reunir cerca de 100 pessoas de diversos pontos.

Tendo como objetivo fortalecer a rede de comunicação e a articulação dos pontos de cultura da região do Cariri, o encontro também aprofundará o debate sobre o conceito de agitação e propaganda para os movimentos sociais na contemporaneidade. A mesa contará com falas de Alexandre Lucas, da comissão cearense do Cultura Viva e portal Vermelho e Natália Alves, Naju Sampaio e Paulo Rossi, graduandos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) com atuações voltadas à cultura.

Cada ponto de cultura poderá inscrever três participantes. As demais organizações e coletivos culturais ainda sem certificação também podem se inscrever. Atualmente, o município do Crato conta com 37 pontos certificados pelo município e/ou Estado. Esta é uma das ações do projeto “Agitprop – Cultura Viva Crato”, aprovado pelo Coletivo Camaradas em edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. O encontro conta ainda com o apoio da Rede Cearense do Cultura Viva, a Rede Municipal do Cultura Viva Crato, Sesc e a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará - Secult/CE.

SERVIÇO:

Encontro dos Pontos de Cultura do Cariri - Agitação e Propaganda na Contemporaneidade

Data: 28/02/2023

Horário: 14 horas

Local: Sesc Crato - R. André Cartaxo, 443 - Palmeiral, Crato - CE, 63100-555.

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Texto de Paulo Rossi, Bolsista de comunicação do Coletivo Camaradas.

11 revistas em quadrinhos sobre História do Brasil

 

Página de Angola Janga, de Marcelo D´Salete. Foto: reprodução.

Desde o início do século XX, o passado é objeto de histórias em quadrinhos. Tintim (1929) e Spirou (1938) são os exemplos mais populares ao mobilizar eventos do passado em narrativas do presente. No Brasil, a narrativa histórica em quadrinhos (bandas, em Portugal) ganhou grande impulso nos 1990, quando o formato deixou de ser associado somente à leitura infanto-juvenil e passou de vez a ser vista como objeto cultural de consumo de adultos. Nos últimos anos, são várias as opções que contemplam a História do Brasil, sobretudo abordando temas como povos indígenas e escravizados. Há por aí material excelente de sobra para quem deseja conhecer a história do país de forma lúdica e professores em busca de bons materiais para uso em sala de aula. Confira a nossa seleção.

(1) “Revolta da Vacina” (André Diniz)

Trabalho muito cuidadoso de André Diniz.  Amparado em pesquisa histórica, Diniz explora a conhecida revolta ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro. Naquele ano, a cidade vivia uma crise social e sanitária. Insatisfeitos com a falta de transparência e planejamento humanizado das autoridades sanitárias da então capital, parte do povo, especialmente a parte mais pobre, se revolta contra o poder público. Diniz é autor premiado. Em 2012 venceu o conceituado prêmio HQ MIX, como melhor roteirista nacional.

(2) “Ditadura no ar: coração selvagem” (Raphael Fernandes e Rafael Vasconcellos)

A história se passa em São Paulo, 1969, depois da promulgação do AI-5. Após o desaparecimento de sua namorada Lenina, o fotógrafo Félix Panta entra em uma investigação para descobrir o que os militares fizeram com a estudante comunista. Músicas de protesto, exilados políticos, reportagens proibidas e o terror das torturas estarão em seu caminho nesse Brasil onde a população alienada encobre a ação de ódio dos que estão no poder. Baseada em relatos reais e em uma extensa pesquisa histórica, a HQ é uma ficção inspirada nos anos de chumbo. “Ditadura No Ar” reúne as quatro edições da minissérie independente ganhadora do Troféu HQMix, mas com artes e textos revisados. O roteiro policial é de Raphael Fernandes e a arte é de Rafael Vasconcellos, o Abel.

(3) “As Barbas do Imperador” (Lilia Moritz Schwarcz e Spacca)

O livro “As barbas do Imperador”, da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, foi lançado em 1998 e logo se tornou um marco na historiografia brasileira. O livro mostra o mito monárquico ao descrever a construção dos palácios, a mistura de ritos franceses com costumes brasileiros, como a boa sociedade se civilizava, a criação de medalhas, emblemas, dísticos e brasões, a participação do monarca e o uso de sua imagem em festas populares. Nesta edição em quadrinhos do livro, lançado em 2014, Schwarcz volta à parceria com o premiado ilustrador Spacca, na dobradinha que já rendeu o best-seller “D. João Carioca”, também HQ. Muito utilizado por professores do Ensino Básico.

11 revistas em quadrinhos sobre História do Brasil 1
Trecho de “Os Sertões” (Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa). Reprodução.

(4) “Castanha do Pará” (Gidalti Jr.)

O romance gráfico “Castanha do Pará” reconta, em forma de fábula, uma situação cada vez mais comum atualmente: Castanha é um menino-urubu que vive suas aventuras pelos cenários do tradicional mercado público Ver-o-Peso, em Belém. Mora sob o céu aberto e sobrevive dos furtos e das migalhas de atenção que sobram do mundo ao seu redor. O romance gráfico de estreia de Gidalti Moura Jr. uma visão lúdica e ritmada da realidade.

(5) “Jubiabá” (Jorge Amado e Spacca)

Este clássico romance brasileiro do escritor baiano Jorge Amado escrito entre 1934 e 1935 foi adaptado para uma história em quadrinhos pelo artista Spacca. A história se passa na Bahia no início do século XX e conta a história de um jovem negro chamado Antônio Balduíno, que sonha em se tornar um percussionista famoso. Além de estudar profundamente o romance de Jorge Amado, Spacca se baseou num extenso material sobre a Salvador de antigamente: livros de arte, de fotos, mapas e também outras obras de Jorge Amado. Spacca viajou ainda a Salvador, onde consultou a Fundação Gregório de Matos sobre aspectos da Salvador dos anos 1920.

(6) “A Guerra dos Farrapos” (Alexandre de Maio e Tabaja Ruas)

A Revolução Farroupilha é um dos mais importantes eventos históricos do Brasil e “A Guerra dos Farrapos” é uma quadrinização da epopeia rio-grandense. Escrita por Tabajara Ruas, esta adaptação traça um panorama que contempla os principais aspectos e personagens da guerra civil de 1835, reconstituída no traço de Flavio Colin.

(7) “Os Sertões” (Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa)

Nova edição do clássico do século XX adaptado para os quadrinhos chega pela Globo Livros Graphic. O livro, que levou o prêmio HQ Mix 2015 de melhor adaptação para os quadrinhos, tem roteiro do ilustrador, artista plástico e diretor de cinema Eloar Guazzelli, além da arte de Rodrigo Rosa. Ele respeita o texto original de Guimarães Rosa, mantendo a linguagem (que é uma marca) do autor mineiro.

(8) “Contra tempo – uma viagem de 200 anos” (Ana Cardoso, Hyna Crimson, Igor Marques e João Paulo Garrido Pimenta)

A jovem estudante de História Beatriz viaja no tempo para salvar o Brasil de um conjunto de retrocessos vividos em sua História contemporânea. Na viagem, a jovem ajuda a contar outras histórias sobre o bicentenário da Independêcia e se depara com os conflitos sociais de cada época. Em sua jornada pelo passado, Bia tem a oportunidade de viver na pele fatores que ajudaram a constituir o Brasil atual. Seu trunfo é ter o poder de transformá-lo. É possível fazer a leitura online da HQ neste site.

Marcelo D’Salete

Um de nossos autores preferido é o paulista Marcelo D’Salete, um dos autores de HQs mais premiados e reconhecidos da atualidade, no Brasil e no exterior. D’Salete tem formação em História da Arte, usa pesquisa historiográfica para escrever suas histórias e desempenha um papel de intelectual. Costuma visitar escolas, participa de feiras literárias, escreve artigos e participa de debates. Aqui estão três HQs dele:

(9) “Cumbe”

Coletânea de histórias que se passam durante a escravidão no Brasil. Cada uma das histórias apresenta um personagem diverso e trata de vários aspectos da vida de escravos e libertos no Brasil do século XIX. As histórias são bem fundamentadas e detalhadas, com um traço forte e expressivo que captura as emoções e os conflitos dos personagens.

(10) “Angola Janga: Uma História de Palmares”

HQ baseada na história do Quilombo dos Palmares, um dos maiores movimentos de resistência negra da história do Brasil. A narrativa acompanha a vida do líder Zumbi dos Palmares, apresentando as batalhas e táticas empregadas pelos quilombolas para se defender dos ataques dos colonizadores. A história apresenta uma visão profunda da vida e da cultura dos escravos fugidos no Brasil do século XVII.

(11) “Noite Luz”

Em ‘Noite Luz’, todos estão mortos e o protagonista é um onipresente sentimento de fatalidade nas pessoas que vagam pela noite, pelas ruas ou presas às suas condições sociais. Visa discutir-se a violência, a urbanidade e a possível fantasmagoria das pessoas nas grandes cidades.

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Com informações do Café História.

Imperatriz é campeã do carnaval do Rio com enredo sobre história de Lampião

 

(FOTO | Ismar Ingber | Riotur).

Há 22 anos a Imperatriz Leopoldinense esperava por esse título: campeã do carnaval carioca. A Escola do bairro de Ramos, Zona Norte do Rio, levou para a avenida o enredo “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida“.

Ao receber o resultado a presidente da Escola, Cátia Drumond, agradeceu à comunidade: “Obrigada Complexo do Alemão, sem vocês não somos nada”. O carnavalesco da Imperatriz é Leandro Vieira, que estreou no Grupo Especial com a escola onde havia sido campeão da Série Ouro em 2020.

Esse é o 9º título da Escola de Ramos.

O Nordeste que foi apresentado destacou o sertão, o semiárido, registrando os signos mais próximos ao cangaço. O carnavalesco se debruçou nos cordéis que vislumbraram um destino pós-morte para a figura de Lampião, esse personagem mítico do imaginário nordestino brasileiro, que, em diferentes áreas das artes, foi abraçado como uma figura típica da brasilidade.

O destino de Lampião após a morte são nuances desse desfile. A ida ao inferno, onde não consegue abrigo; a ida ao céu, onde também não é recebido; e, por fim, seu lugar na terra, onde ocupa um lugar nos imaginários dos brasileiros, especialmente entre os nordestinos.

Representando Lampião, Matheus Nachtrgaele levantou as arquibancadas ao lado de sua Maria Bonita, interpretada por Regina Casé.
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Com informações do Notícia Preta.

Tem a escola pública o direito de celebrar resultados e esquecer as trajetórias?

 

Ana Nunes, professora e diretora da EEMTI Lindalva de Morais, em Milagres-CE. (FOTO | Acervo Pessoal).


Por Ana Nunes, colunista

09 de fevereiro, o Ministério da Educação anunciou que iria antecipar o resultado do ENEM. Iniciamos a louca corrida para sabermos quem teria alcançado a tão sonhada nota mil na redação e as melhores médias gerais para que pudéssemos “celebrar”. Absorvidos pela lógica da competição, de celebrar os melhores, de exaltar o nome da escola através desses resultados, e colocar o ensino a serviço das necessidades do mercado, esquecemos todos os processos vividos por todos os estudantes e o papel social fundamental da escola.

Penso como educadora, que cada vez que celebramos resultados, sem considerar as trajetórias, fortalecemos a lógica perversa da meritocracia que desconsidera os esforços empreendidos por meninos e meninas que deram o seu melhor, que driblaram o funil educacional que persiste na educação brasileira.

A Secretaria de Educação do Estado do Ceará tem investido em programas para fortalecer a permanência dos estudantes e o seu retorno à escola, como a monitoria da Busca Ativa, ancorados em um discurso que se propõe para a equidade, porém essas ações se tornam contraditórias frente ao destaque que é dado somente aos que obtêm determinada nota no ENEM. É desalentador presenciar a tristeza quase que depressiva com que os meninos e meninas que fizeram tanto para chegar até o ENEM, olham para si próprio. Sentindo-se incapazes, inferiores, impossíveis de atingir o “OLIMPO” do ENEM. Ficam de certa forma tão desnorteados que sequer têm coragem de entrar no sistema e tentar uma vaga nas universidades pelo SISU ou PROUNI, pois segundo a linha do pensamento liberal empreendedor, parece que quem não conseguiu foi porque não quis, não se esforçou o bastante.

Não quero, entretanto que se conclua que sou contra que se torne público os resultados exitosos, o problema está na individualização que se faz dos resultados de uma educação que se propõe para equidade, e que com essa prática de teor meritocrático, e de uma psicologia opressora, abandona o coletivo em detrimento do indivíduo, esquecendo quais efeitos essa prática gera neste coletivo, e como é danosa para a construção da solidariedade e de consciência de classe, afinal a escola pública é composta pelos filhos e filhas da classe trabalhadora.

Não devemos nós da escola pública brasileira cairmos na armadilha da meritocracia, pois sabemos que o direito constitucional à educação, precede de muitos outros que ainda não se concretizaram para boa parte dos estudantes que frequentam nossas escolas.

Que a nossa celebração também seja para inclusão!