A
presidenta Dilma Rousseff não fará pronunciamento em cadeia nacional de rádio e
televisão nesta sexta-feira (1º), Dia do Trabalho. A decisão foi tomada na
reunião de coordenação política do governo no início da noite de segunda-feira
(27). Será a primeira vez que a presidenta não fará o pronunciamento na TV no
Dia do Trabalho, em seu quinto ano de governo. Medida certa para uns, erradas
para outros.
O
ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República,
Edinho Silva, disse: “A presidenta vai
dialogar com os trabalhadores, com a sociedade brasileira, pelas redes sociais.
É uma forma de valorizarmos outros meios de comunicação”.
Tecnicamente,
digamos, nos momentos em que um governo está mal avaliado nas pesquisas de
opinião, o governante entrar em rede de TV aberta costuma fazer aumentar a
rejeição, a menos que tivesse medidas muito boas para anunciar, o que não é o
caso no atual momento. Sob este ponto de vista, a decisão estaria correta. Os
governadores tucanos, por exemplo, costumam submergir no noticiário quando há
crises em seus estados.
Dilma
falou em rede de TV pela última vez no Dia Internacional da Mulher, 8 de março.
No pronunciamento, usou a maior parte do tempo para explicar ao cidadão o
ajuste fiscal e o momento econômico. Guardadas as devidas proporções e
gigantescas diferenças de conjuntura, foi um discurso meio que para pedir
"sangue, suor e lágrimas" feito por Winston Churchill quando o Reino
Unido, do qual era o primeiro-ministro, entrou na Segunda Guerra Mundial. No
caso da fala de Dilma, o falar "olho no olho" não surtiu efeito para
reverter a má avaliação do governo.
Outra
parte do último pronunciamento foi dedicada a anunciar medidas de combate à
corrupção, aparentemente visando esvaziar os protestos que já estavam agendados
para o domingo seguinte, 16 de março, e que foram organizados via redes sociais
por grupos radicais que querem a volta da ditadura e o impeachment.
Durante
o pronunciamento houve panelaços e buzinaços também organizados nas redes
sociais pelos mesmos grupos, que fizeram muito barulho em determinados bairros
de São Paulo, mas com pouca adesão em outras cidades.
Pronunciamento
em cadeia nacional não é voltado para conter "paneleiros", e sim para
passar a mensagem do governo à maioria silenciosa que assiste e não bate
panelas. Mas o problema é que nos noticiários só deu panelaço dominando a
pauta, inclusive nos dias seguintes, mesmo que o bater das panelas tenha sido
pífio fora da capital paulista.
Esta
ênfase do noticiário apenas nas reações negativas, ignorando o conteúdo do
discurso, acabou se sobrepondo à mensagem da presidenta à maioria silenciosa
que votou nela e também à parcela da população que não votou, mas respeita o
resultado das urnas.
Aquele
pronunciamento também não funcionou para esvaziar a manifestação do dia 15. Há
até quem avalie que o pronunciamento de Dilma do dia 8 até motivou mais gente a
participar dos protestos da turma conservadora da semana seguinte.
Por
outro ponto de vista, há entre os apoiadores de Dilma quem considere errado não
ir à TV, como se fosse um recuo político, um medo de enfrentamento e uma quebra
da tradição. É compreensível esse sentimento, mas analisando com profundidade,
medo é uma palavra que não cabe à presidenta, e não pode ser confundido com
cautela.
Dilma
já está reeleita e não tem mais nenhuma eleição pela frente, por isso, nem há o
que temer. Seu compromisso é com as transformações históricas que seu governo
deixará para sua base eleitoral de trabalhadores e da população mais pobre, e
com seu grupo político para não perder o bonde da história na conclusão deste
projeto nacional de desenvolvimento humano e econômico. Decisões como ir ou não
à TV devem atender ao que é bom para o cumprimento destes compromissos. E na
conjuntura atual, ir à TV é o mesmo que dar munição justamente à quem se opõe
ao projeto de nação que vem se implantando desde 2003.
Além
disso, mesmo com a quebra da tradição, Dilma pode marcar um tento, inclusive na
politização do cidadão. Sem ter medidas muito boas ou extremamente necessárias
para anunciar, para a maioria das pessoas não é agradável um governante, por
mais popular que seja, "entrar na casa" e interromper sua hora de
lazer, para fazer discursos apenas protocolares. No século 21, o cidadão pode
escolher buscar informação sobre seu governo na hora que quiser pela internet.
Muita gente pode ver com simpatia a atitude da presidenta.
Além
disso, se a batalha da comunicação não é travada com intensidade no dia a dia
das pautas dos noticiários, não é um pronunciamento que irá resolver. Pelo
contrário irá agravar. Diga o que disser no pronunciamento, os telejornais,
hegemonicamente oposicionistas, sempre pautarão suas coberturas sob um viés
negativo.
Colocando
tudo na balança, a decisão é positiva. Mais importante são as ações, gestos e
atitude do governo em benefício do trabalhador neste 1º de Maio.