Com
Brasil de Fato e O Globo
Do
norte da África, passando por Recife, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, até
se libertar da escravidão em Nova Iorque no ano de 1847. Assim foi uma parte da
jornada de Mahommah Gardo Baquaqua, único escravo que passou pelo Brasil a ter
escrito uma autobiografia.
Capa com imagem de Baquaqua Divulgação/Bruno Véras |
“Uma
interessante narrativa: biografia de Mahommah G Baquaqua”, em tradução
livre, foi escrita em inglês e lançada pelo próprio Baquaqua em 1854 na cidade
estadunidense de Detroit para arrecadar fundos para a campanha abolicionista.
O
historiador Bruno Véras, com o apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do
Canadá, onde estão os originais da obra, estudou a publicação que deve ser
traduzida para o português até o final de 2015, segundo noticiou o Jornal O
Globo.
“Baquaqua sempre foi um personagem que me
intrigou. Ele escreveu a única autobiografia de um africano escravizado em
terras brasileiras. Apesar disso, ele não é conhecido em nossa História nem em
nossos livros didáticos”, contou Verás em entrevista ao jornal carioca.
A
história de Baquaqua começa onde hoje é o norte de Benin. Filho de um
comerciante, ele estudou em uma escola islâmica e aprendeu a ler e adquiriu
conhecimentos em matemática. Foi escravizado pelo Império Ashanti, pois
trabalhava em uma rota comercial onde vendia especiarias. Tempos depois seu
irmão o comprou, mas ele foi pego novamente e enviado para o Brasil.
Sua
obra conta com detalhes como era o tratamento dos escravos desde a entrada nos
navios negreiros até como os escravos os tratavam em terras brasileiras.
"Meus companheiros não eram tão constantes quanto eu, sendo muito dados à
bebida e, por isso, eram menos rentáveis para o senhor. Aproveitei disso para
procurar elevar-me em sua opinião, sendo muito prestativo e obediente, mas tudo
em vão; fizesse o que fizesse, descobri que servia a um tirano e nada parecia
satisfazê-lo. Então comecei a beber como os outros e, assim, éramos todos da
mesma laia, mau senhor, maus escravos", conta em uma passagem.
Quando
saiu do Recife e foi para o Rio de Janeiro, seus conhecimentos em matemática e
literatura fez com que ele atuasse dentro de um navio de comércio de charque
entre a capital e o Rio Grande do Sul.
Em
uma encomenda de café que tinha como destino Nova Iorque, Baquaqua conta que um
inglês ensinou a palavra “liberdade” a ele e dois companheiros a bordo, já que
os Estados Unidos já haviam abolido a escravidão. Ele tentou fugir do navio e
acabou preso, mas com a ajuda de abolicionistas locais, conseguiu escapar da
prisão e ir rumo ao Haiti.
O último local que se teve notícias dele foi
na cidade inglesa de Liverpool, em 1857, provavelmente por conta de seu
engajamento na luta abolicionista.