Sérgio Camargo é exonerado da Fundação Palmares

Sérgio Camargo. (FOTO/ Agência Brasil).


Sérgio Camargo, então presidente da Fundação Cultural Palmares, foi exonerado do cargo nesta quinta-feira (31). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União. A publicação não informava quem será seu substituto.

Jornalista de formação, ele acumulou polêmicas enquanto representante do órgão. Atacou as religiões de matriz africana, o movimento negro e até Moïse Kabagambe, espancado até a morte no Rio de Janeiro depois de exigir o pagamento de pendências trabalhistas.

Camargo chegou a dizer que Moïse “era um vagabundo morto por outros vagabundos”, gerando críticas não só no governo como também no Judiciário. O ministro Gilmar Mendes disse que ele precisava ser contido no seu comportamento discriminatório.

Na terça, dia 29 de março, Sérgio Camargo se filiou ao Partido Liberal (PL), mesmo partido de Jair Bolsonaro. "Filiei-me ao PL! Negros não precisam ser vítimas. Negros são livres. Pretos e brancos unidos. Palmares digna. Bolsonaro até 2026. Sigamos, patriotas!", escreveu ele no Twitter, mas não chegou a divulgar qual cargo deve disputar.

A Fundação Cultural Palmares é de federação brasileira e, através da Lei nº 7668, serve para a preservação e promoção de valores culturais e sociais de negros e afro-brasileiros no país. É uma fundação vinculada ao Ministério da Cultura, com a lei criada em 1988.

Agora ex-presidente da Palmares, Camargo também foi acusado de assédio moral por funcionários do órgão. Segundo as denúncias, ele perseguia pessoas com pensamentos próximos ao do movimento negro.

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Com informações do Alma Preta.

Entrevista com Nilma Lino Gomes (UFMG), vencedora do prêmio Carolina Bori/SBPC 2022

Nilma Lino Gomes.(FOTO/ Reprodução).

A professora e pesquisadora Nilma Lino Gomes (UFMG) foi a vencedora do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher de 2022. A partir da indicação da ANPEd para a categoria Humanidades, a associada teve sua trajetória reconhecida e celebrada. O percurso da professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG reverbera a luta antirracista e pelas ações afirmativas. Foi fundadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Afro-brasileiros (GIEAB) e do grupo Educação e Diversidade Étnico-Cultural (EDEC),  presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), integrou a CEB/CNE (2010/2014), foi reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2015) e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos (2015-2016). Atualmente é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Relações Étnico-raciais e Ações Afirmativas (NERA/CNPq). Dentre seus livros, referência para a área de Educação e outros campos, destacam-se "O movimento negro educador" (2017) e "O negro no Brasil hoje" (2006), dentre outros. Nilma é pesquisadora ativa do GT 21 da ANPEd, de Educação e Relações Étnico-Raciais.

Confira entrevista concedida pela pesquisadora ao portal da ANPEd, reforçando o caráter coletivo de sua trajetória e premiação, o imperativo de se discutir desigualdades incorporando questões de gênero e raça, além da importância da pesquisa e dos movimentos sociais para esse avanço.

Você recebeu o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, da SBPC. O que ele significa para sua trajetória pessoal e de pesquisadora?

Nilma Lino Gomes - Significa uma honra para mim, um reconhecimento do meu trabalho como pesquisadora engajada na luta contra o racismo, a discriminação e todo tipo de violência. Significa, também, o reconhecimento da trajetória de tantos intelectuais negras e negros, do passado e do presente, que lutamos para que a raça seja considerada como uma categoria de análise importante para a compreensão da realidade brasileira e para que o campo de estudos das relações raciais passe a ter a devida importância no campo das humanidades. Penso que nenhuma abordagem das humanidades que queira compreender a complexidade das relações históricas, sociais, culturais, políticas e econômicas, no Brasil, pode desconsiderar o peso das relações raciais, a forma como o racismo opera nas estruturas sociais e no cotidiano das pessoas. Receber o prêmio, para mim, reforça que a minha trajetória tem se construído coletivamente, pois se não fosse a nossa organização coletiva como negras e negras em movimento e como pesquisadores negros e negras, não teríamos chegado a esse patamar epistemológico e político. Ainda falta muito, tenho certeza, mas já demos passos muito importantes, seguindo o caminho de sabedoria deixado pelos nossos e nossas ancestrais.

Você recebeu uma premiação que destaca as mulheres como cientistas. De que forma a data de 08 de março, Dia da Mulher, pode ser trazida para debates necessários e urgentes, tais como desigualdades, opressões e feminicídio?

O 08 de março não é um dia de comemoração. É um dia de debate político sobre a importância da mulher na construção da nossa sociedade e de denúncia. Ainda vivemos  em uma sociedade de bases patriarcais e machistas que se reproduzem nas mais variadas instituições. Todo e qualquer debate sobre desigualdades sociais, políticas e econômicas precisa incorporar a questão de gênero e raça. Assim, poderemos desvendar as hierarquias de gênero e raça, entender como operam e reivindicar políticas públicas que superem essa situação. A discussão sobre o feminicídio e os seus impactos na vida das mulheres e na garantia de direitos é urgente. É também urgente denunciar e compreender mais uma perversidade e desdobramento do feminicídio: o feminicídio negro. O feminismo negro tem formulado muito bem a análise e a denúncia sobre esse desdobramento da violência contra as mulheres negras. Por isso, o movimento feminista e o feminismo negro lutaram para que  o feminicídio fosse reconhecido pelo Estado e pela Lei como um crime. Denunciar, desvelar e se contrapor ao feminicídio é se posicionar a favor da democracia e por uma vida com direitos para as mulheres. É também punir o agressor que, nas sociedades patriarcais e machistas, tende a ficar impune e se esconde atrás da frase machista e violenta de "matar em defesa da honra". Que honra é essa que autoriza  a morte da mulher pelo fato de ela ser uma mulher? E de ser considerada um ser inferior?  A educação ocupa um papel primordial nesse processo de reeducação nas relações de gênero. Por isso os grupos reacionários e conservadores reagem  com tanta resistência quando fazemos a discussão pedagógica e política sobre a questão de gênero na escola.

Você é uma docente e pesquisadora com passagens importantes pela gestão pública. Qual o papel da pesquisa para o desenvolvimento e efetivação de políticas públicas? O que tem pesquisado mais propriamente neste momento?

A pesquisa possibilita teorização, reflexão e uma refinada análise sobre a situação social, cultural, racial, política, de raça e gênero sobre a qual as políticas públicas incidirão. Por meio de dados recolhidos das pesquisas, das estatísticas formuladas contendo as mais variadas categorias para analisar a sociedade nas suas  diversas áreas: saúde, educação, trabalho, emprego, moradia, assistência, etc os gestores e as gestoras públicas podem ter um mapeamento dos pontos nevrálgicos sobre os quais as políticas públicas precisam incidir e, inclusive, construir novas políticas ou dar novas orientações aquelas já implementadas. A pesquisa também ocupa um papel crítico ao analisar o impacto ou não, o cumprimento ou não de políticas públicas sobre as mais diversas áreas.  Junto com a importância da pesquisa para o campo das políticas públicas quero destacar também a atuação dos movimentos sociais. Os movimentos sociais exercem um duplo papel nesse contexto: eles impactam o Estado e realizam o controle social das políticas já existentes indicando a urgência do atendimento de determinados setores em situação de maior desigualdade na sociedade e também indagam as pesquisas  e as ciências revelando lacunas e desigualdade no trato de determinados temas e questões urgentes para o aprimoramento das políticas. São os movimentos sociais que cobram e exigem que as pesquisas sejam realizadas por uma diversidade de pesquisadores: negros, brancos, indígenas, quilombolas, mulheres, pessoas do campo, com deficiência LGBTQUIA+ no campo da produção do conhecimento. Pesquisadores e pesquisadoras diversos enriquecem  a ciência e a análise das políticas pública realizadas em nosso país.

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Com informações da Anped.

Sueli Carneiro é eleita Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti

 

(Foto: Marcus Steinmayer).


A filósofa Sueli Carneiro, uma das principais teóricas do feminismo negro do Brasil, será a Personalidade Literária do Ano a ser homenageada na 64ª edição do Prêmio Jabuti. O anúncio foi feito na manhã desta terça-feira (29) em coletiva de imprensa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), que promove a premiação, a mais prestigiosa das letras brasileiras. Este ano, a cerimônia de entrega dos prêmios voltará a ocorrer presencialmente após dois anos de edições virtuais . A festa, que também será transmitida pela internet, acontecerá em novembro, embora a data e o local ainda não tenham sido definidos.

Fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e autora de livros como “Escrito de uma vida” e “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” , Carneiro luta há décadas por políticas públicas para a população negra, como a implementação das cotas raciais e a demarcação de terras quilombolas. A filósofa é a primeira autora de não ficção eleita Personalidade Literária do Ano, distinção já concedida a poetas e romancistas como Thiago de Mello , Adélia Prado, Conceição Evaristo e Ignácio de Loyola Brandão.

“Com muita esperança, homenageamos a trajetória e a obra de Sueli Carneiro. Ela é referência mundial não só de pesquisadora e intelectual orgânica, mas também nosso grande exemplo de escritora afeita ao debate aberto e franco, um modelo para quem busca um pensamento de práxis agregadoras. Em torno dela, na cerimônia, veremos reunirem-se muitas das forças culturais que buscam construir o Brasil plural que desejamos”, afirmou o curador do prêmio, Marcos Marcionilo, em nota divulgada após a coletiva.

Elogio à Semana de 22

Para homenagear o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 , o Jabuti convidou cinco grafiteiros, de todas as regiões do país , para repaginar a identidade visual do prêmio. São eles: o amazonense Raí, a cearense Tereza de Quinta, o mato-grossense Rafael Jonnier, o paulista Ciro Schumann e o gaúcho Marcelo Pax. Segundo Marcionilo, a escolha dos grafiteiros foi influenciada pela Antropofagia modernista , que pregava a canibalização de referências estrangeiras na construção da identidade nacional.

— Ao assumir o grafite, retomamos a Semana de 22 e a Antropofagia dos modernistas, que é capaz de mover nosso pensamento e nossa arte — afirmou o curador. — O grafite brasileiro é reconhecido no mundo todo e é desejo do Jabuti assimilá-lo e assemelhá-lo às nossas Literaturas.

Também foram anunciadas mudanças em duas categorias. A antiga Biografia, Documentário e Reportagem foi renomeada Biografia e Reportagem. E a categoria Ciências Humanas passa a considerar também obras de crítica literária. O Jabuti conta com quatro eixos (Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação) e 20 categorias. Cada um dos premiados receberá uma estatueta e R$ 5 mil. Os vencedores das categorias dos eixos Literatura e Não Ficção concorrem ao Livro do Ano, cujo prêmio é de R$ 100 mil. No início do ano, jurados do prêmio reclamaram ao GLOBO do processo de escolha “quase aleatório” do Livro do Ano .

As inscrições do Prêmio Jabuti começam às 12h desta terça-feira no Portal de Serviços da CBL e se estendem até às 18h do dia 26 de maio. Pelo sexto ano consecutivo, os valores das inscrições não formam alterados e variam entre R$ 285,00 e R$ 515,00. Haverá desconto de 10% para todas as inscrições realizadas nos próximos 30 dias.

Presidido por Marcos Marciolino, sódio da Parábola Editorial, o conselho curador do Jabuti também é composto por Bel Santos-Mayer, Camile Mendrot, Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Rodrigo Casarin.

Confira os eixos e categorias no Prêmio Jabuti:

– Eixo Literatura (oito categorias): Conto; Crônica; HQ; Infantil; Juvenil; Poesia, Romance Literário; Romance de Entretenimento.

– Eixo Não Ficção (seis): Artes; Biografia, Documentário e Reportagem; Ciências; Ciências Humanas; Ciências Sociais; Economia Criativa;

– Eixo Produção Editorial (quatro categorias): Capa; Ilustração; Projeto Gráfico; Tradução;

– Eixo Inovação (duas categorias): Fomento à Leitura; Livro Brasileiro Publicado no Exterior.

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Com informações do Geledés. 

Após 43 anos, processo do assassinato que motivou criação do MNU vem a público

(FOTO/ Reprodução/ Alma Preta).

Após 43 anos da prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, a família e a sociedade poderão acessar os documentos do processo judicial do crime. O jovem de 21 anos foi morto na 44° Delegacia de Polícia de São Paulo no dia 4 de maio de 1978. O caso é um dos impulsionadores da criação do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho daquele mesmo ano.

A disponibilização dos documentos faz parte de uma mobilização de Lucas Scaravelli, pesquisador cuja tese de doutorado será sobre a vida de Robson. “Eu fui atrás dos arquivos e agora a partir da força de articulação com pesquisador, desembargador, consegui a liberação e acho que é um momento importante para todas as lideranças”, conta. A pesquisa será desenvolvida pela área de antropologia social da Universidade de São Paulo (USP).

O protesto vai contar com a participação de Carlos Cardoso, advogado do caso na época, ativistas do movimento negro e a família de Robson.

O caso foi sentenciado em 1988, com a responsabilização do delegado Luiz Alberto de Abdalla e os policiais José Maximino Reis e José Pereira de Matos. O primeiro foi afastado do cargo e os outros dois exonerados da polícia civil. A família só recebeu a indenização e a sentença aos policiais só foi cumprida em 1996, 18 anos depois da morte de Robson Silveira da Luz.

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Com informações do Alma Preta. 

"Cara no fogo": fala de Bolsonaro sobre Milton Ribeiro viraliza; veja repercussão da demissão

 

Bolsonaro troca ministro da Educação pela quarta vez após denúncias de corrupção contra Ribeiro; na foto, o ex-ministro durante posse no Palácio do Planalto - Clauber Cleber Caetano/PR

Uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a honestidade do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que pediu demissão nesta segunda-feira (28), viralizou nas redes sociais.

Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Uma covardia o que estão fazendo”, disse o presidente, na última quinta-feira (24), sobre as denúncias sobre a existência de um "gabinete paralelo" formado por pastores lobistas no Ministério da Educação.

Quando o cara quer armar, ele vai pelado na piscina, para a praia, pro meio do mato, não bota na agenda”, afirmou o presidente, que exigiu provas da corrupção praticada na pasta.

Milton Ribeiro pediu demissão do cargo de ministro com uma carta direcionada ao presidente. Ele admitiu que deixa o cargo em função das denúncias sobre o suposto favorecimento de pastores na distribuição de verbas do ministério.

A demissão

Mais cedo, o Brasil de Fato mostrou que Bolsonaro demitiria Ribeiro por pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional. O chefe do Ministério da Educação (MEC) está no centro do escândalo dos pastores lobistas na pasta desde a semana passada.

Na tarde desta segunda-feira, a CNN Brasil e o G1 obtiveram uma versão da carta escrita por Ribeiro a Bolsonaro. Ele diz que a decisão da saída do MEC é um "até breve" e termina o texto com o slogan eleitoral de Bolsonaro: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Nas redes sociais, o nome de Milton Ribeiro era o terceiro tópico mais comentado do Brasil no Twitter, às 17h. Uma grande parte das publicações relembra a fala de Bolsonaro sobre a honestidade do ministro demissionário.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e veja a repercussão.

“Falta de temática étnico-racial nas escolas causa desinteresse pela educação”, alerta pesquisadora

 

(FOTO/ Pixels).

As atitudes racistas geralmente se iniciam no ensino infantil, quando as crianças reproduzem falas e comportamentos aprendidos no meio familiar, ou ao serem vítimas de diferenciação no tratamento docente. Uma pesquisa recente feita em uma creche pública em Minas Gerais mostrou que bebês negros são vítimas dos próprios professores em atos simples como não terem direito a tomar banho.

Uma escola e um professor que não valorizam o pertencimento étnico-racial dos estudantes criam um desinteresse pela educação. A criança e o jovem passam a querer faltar, a não ligar para as tarefas, muitos ficam agressivos. A internalização de estereótipos também é um fator que leva à não aceitação de si mesmo, da sua origem”, explicou a pesquisadora e professora de História da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ana Cristina Juvenal da Cruz, em entrevista ao jornal O Globo.

Ainda na reportagem sobre educação antirracista, Jaqueline Santos, consultora de equidade racial do Projeto Seta (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista), pontua que é preciso planejar uma gestão educacional entre governos e profissionais da educação. Ela também ressalta que é preciso reconstruir materiais didáticos e implementar atividades que tragam o debate para o ambiente escolar. “Secretarias de Educação e Ministério da Educação devem assumir essa agenda em todas as suas necessidades: fortalecimento do marco legal, formação de profissionais da educação, financiamento de pesquisa e produção de materiais didáticos e paradidáticos, gestão democrática com foco em equidade racial e comunidade escolar sensibilizada, comprometida e engajada na temática, condições institucionais com recursos financeiros, materiais e humanos e monitoramento e avaliação. Tudo isso dá base para a implementação efetiva da temática.”, explica a consultora.

Vale destacar que racismo é crime previsto na Lei 7.716/89 e sempre deve ser denunciado. A legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores. A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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Com informações do Notícia Preta.

PCB e PCdoB celebram centenário

O PCdoB, por sua vez, realiza o Festival Vermelho, em Niterói (RJ). O evento tem início nesta sexta-feira (25) e encerra no sábado (26) com atividades culturais e políticas no centro cultural Caminho Niemeyer.(FOTO/ Reprodução).

O Partido Comunista do Brasil foi fundado há exatos 100 anos, em 25 de março de 1922. Duas siglas que seguem atuantes no cenário político do país festejam o centenário, completado nesta sexta-feira: PCB e PCdoB. Ambas as legendas têm origem no mesmo ato de fundação. No entanto, separaram-se em 1962. O PCB herdou a sigla, com uma sutil alteração no nome, para Partido Comunista Brasileiro. O PCdoB, com essa sutil mexida na sigla, herdou o nome de batismo, Partido Comunista do Brasil.

Para marcar a data, o PCB realizar um evento presencial em São Paulo. Neste sábado (26), os militantes do partido vão se reunir, às 16h, para o Samba Centenário, na sede do Sindicato dos Metroviários, próximo ao Tatuapé.

Em um texto publicado em seu site, o partido afirma que “o PCB segue leal a essa trajetória de luta revolucionária do proletariado brasileiro – e, como tal, legítimo herdeiro desse legado”.

Em Porto Alegre (RS), militantes do PCB fizeram uma série de intervenções na cidade resgatando o nome de lideranças políticas que foram ligadas ao partido.

PCdoB tem festival e presença de Lula

O PCdoB, por sua vez, realiza o Festival Vermelho, em Niterói (RJ). O evento, com início nesta sexta, vai até o sábado (26) com atividades culturais e políticas no centro cultural Caminho Niemeyer.

Com o tema “Floresce a Esperança”, o festival vai reunir diversas lideranças políticas como o ex-presidente Lula, o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, a ex-deputada Manuela D’ávila, a vereadora Cida Pedrosa e o prefeito de Niterói, Axel Grael.

A programação inclui debates, lançamento de livros, feira gastronômica, shows, cinema e espaço para crianças. O acesso é livre e gratuito, mediante apresentação do comprovante de vacinação contra a covid-19.

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Com informações da RBA.

Combate à desigualdade racial é decisivo na redução da pobreza 

 

(FOTO/ Fernando Frazâo/ Agência Brasil).


Neste ano, a Lei 12.711 de 2012 – mais conhecida como Lei de Cotas -, será reavaliada. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a presença de negros nas universidades dobrou de 9%, em 2011, para 18%, em 2019. Os números são referentes a estudantes que frequentam o ensino superior, entre 18 e 24 anos.

Segundo Wanderson Pinheiro, advogado do Movimento Negro Unificado, é inegável que o combate ao racismo seja um compromisso de toda a sociedade, mas não se pode negar o papel central do Estado na elaboração de ações afirmativas para o enfrentamento dos desafios. Exemplo disso é o comparativo de rendas mensais em nossa estrutura social: enquanto brancos ganham, em média, R$ 2.796 mensais, a renda de negros não passa de R$ 1.608. “Com dados tão discrepantes, manter a política de cotas é fundamental para promover uma sociedade mais igualitária”, afirma o advogado.

O modelo constitucional brasileiro propõe um sistema de discriminação positiva, com o intuito de alcançar a igualdade substancial, que é tratar os desiguais na medida de suas desigualdades. Nessa esteira, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a constitucionalidade da política de cotas, que foi capitaneada pela Universidade de Brasília (UnB). Segundo Pinheiro, nesse julgamento, o STF buscou reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais no Brasil.

Assim, surgiu a Lei de Cotas, com a premissa de permitir a superação das desigualdades decorrentes de situações históricas. Todavia, esse marco legal prevê uma revisão única, que ocorrerá na próxima sessão legislativa, em 2022. Fato é que não serão 10 anos de vigência da lei de cotas que irão corrigir 348 anos de tráfico e tortura de pessoas negras relegadas à própria sorte após a abolição”, explicou Wanderson. Para ele, é de suma importância trazer luz aos projetos legislativos que têm sido farol na construção da perspectiva material do princípio constitucional da isonomia.

De acordo com a deputada estadual pelo PSOL-RJ, Dani Monteiro, a universidade é um sonho para a maioria dos jovens negros no Brasil. Com as cotas, o espaço privilegiado de excelência e saber tornou-se acessível. “Foi assim comigo. Na universidade, eu me formei militante e ativista, porque mesmo com o acesso facilitado, é preciso lutar pela permanência, já que a maioria de nós ainda tem de trabalhar enquanto estuda”, pontua.

Para a deputada, a estabilidade do aluno negro e pobre no ensino superior segue uma tarefa material e simbolicamente árdua. “Por isso mesmo, a luta pela melhoria do ensino superior público precisa ser uma bandeira de todos nós”, assegura. “Ainda temos uma batalha pela frente, por isso é importante que o assunto esteja sempre em nossas mentes, que as crianças pretas e pobres já sejam habituadas a pensar que, sim, elas têm direito e têm um lugar legítimo a ocupar. Como a educação e a boa formação, a universidade também é para nós”, conclui Dani Monteiro.

Também cotista pela Universidade Católica de Minas Gerais, a vereadora em Contagem pelo PT, Moara Saboia, lembra que a cota faz parte da história de sua família: os irmãos são estudantes cotistas da Universidade Federal de Minas Gerais e os pais se formaram depois dos 60 anos por intermédio, também, das cotas.

Ela diz acreditar que o sistema de cotas é uma grande possibilidade, a abertura de uma porta para os sonhos. “Você não vai escolher o que vai ser para sempre a partir da cor da sua pele. As cotas nos permitiram sonhar com sermos aquilo que exatamente quiséssemos: eu faço engenharia, meus irmãos também, mas a gente poderia ser médico, psicólogo, cientista social, a gente poderia ser qualquer coisa”, garante a vereadora.

De acordo com a filósofa e educadora Sueli Carneiro, as cotas permitiram que a universidade faça parte do sonho das famílias negras. Para ela, o fim da discriminação passa efetivamente pela política de cotas e pela consequente igualdade econômica. Confira suas ideias na entrevista exclusiva da Revista Mátria reproduzida abaixo:

Em 2010, a senhora foi convidada para uma audiência no STF sobre política de acesso ao ensino superior. Defendeu e ressaltou a importância das cotas e da igualdade econômica para o fim da discriminação. De lá para cá, como a senhora enxerga o percurso das cotas no Brasil?

Com as cotas raciais, promovemos a democratização do acesso ao nível universitário e tornamos os campi universitários num espetáculo inédito de diversidade racial e étnica; elas vêm permitindo ainda a ampliação do horizonte epistemológico em diferentes áreas do conhecimento com as novas perspectivas que os cotistas agregam aos estudos acadêmicos. Como efeito positivo adicional, é o fato de as cotas para negros nas universidades terem colocado a universidade no imaginário das famílias negras. Fazer uma faculdade não era uma ambição da minha geração; é ambição das atuais. E, por fim, as cotas raciais retiraram os racistas do “armário” e os obrigaram a saír em defesa dos privilégios que sempre desfrutaram no acesso às vagas das universidades públicas no Brasil.

Como a senhora vê a relação entre escravidão, o racismo e a atual onda de autoritarismo que vivenciamos no país?

Não se passa impunemente por quase 400 anos de escravidão, sucedida por uma abolição inconclusa, que não previu nenhuma estratégia de inclusão dos ex-escravizados à sociedade brasileira, mas que ao contrário foram considerados estoques populacionais indesejáveis no novo país que seria forjado pela República. Por isso, sob a influência do “racismo cientifico”, ideologia corrente à época, essas populações deveriam ser substituídas por imigrantes europeus, para criar um novo povo e embranquecer o país. As ideias de superioridade e inferioridade racial, propagadas pelo “racismo científico” sobre a diversidade humana, impactaram e permanecem impactando a sociedade brasileira, por mais falaciosas que sejam, como já foi amplamente demonstrado pelas ciências contemporâneas.

Um dos argumentos que sustentam a negação da aplicação das cotas é que ela não focaria na questão estrutural da desigualdade, que seria a pobreza. Como a senhora enxerga esse argumento?

Considero esse um argumento que está a serviço da postergação no enfrentamento do problema. Defende-se a luta para garantir uma escola pública universal, gratuita e de boa qualidade, como se isso não tenha sido uma prioridade na luta dos negros desde a abolição; basta assinalar que era a principal reivindicação da Frente Negra Brasileira na década de 1930. Os que se aferram a esse argumento entendem, a meu ver, que enquanto a escola pública de qualidade não vem, os negros devem esperar, de preferência “bem quietinhos”, pois a reivindicação de cotas raciais não seria suficientemente transformadora segundo alguns dos seus críticos.

Portanto, a defesa da escola pública de qualidade, velha reivindicação das classes populares, entra na retórica das classes média e alta como remédio para impedir que os excluídos do direito ao conhecimento de qualidade conspurquem com o seu ‘‘baixo nível’’ o reduto de reprodução das elites em que se constituem as universidades públicas por elas privatizadas.

Por outro lado, em diferentes estudos, sobretudo os realizados pelo IPEA, se demonstrou que o problema da pobreza no Brasil não resulta de falta de recursos, mas sim de um alto grau de desigualdade. A segunda constatação é que as políticas universalistas não têm sido capazes de reduzir as desigualdades. A terceira é que o combate à desigualdade tem impacto superior sobre a redução da pobreza do que via crescimento econômico. É mais rápido e mais barato.

Segundo a socióloga Márcia Lima, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pnad-2007, realizou projeções para a diminuição da desigualdade racial e apontou que seria necessário manter o mesmo ritmo de queda durante, ao menos, quarenta anos para que se consolidasse uma sociedade racialmente mais igualitária. Mas os opositores das cotas passam, intencionalmente, ao largo dessas evidências.

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Com informações do Geledés.

A escravidão no Ceará não foi extinta em 1884, diz professor Darlan

 

Darlan Reis Jr. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Por José Nicolau, editor

Darlan Reis Jr.,  professor  de História da Universidade  Regional do  Cariri (URCA), usou  as redes  sociais  para falar sobre a Data  Magna no Ceará, instituída como feriado estadual no dia 6 de dezembro de 2011, na gestão do ex-governador e atual senador Cid Gomes (PDT).

A versão contada e que embasou o texto aprovado na Assembleia Legislativa, destaca que o Ceará aboliu a escravização em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea e dando destaque a Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", o "Chico da Matilde" como o grande defensor do abolicionismo.

Segundo Darlan, Dr. em História,  "em 25 de março de 1884 a escravidão não foi extinta no Ceará, nem foi promulgada alguma lei neste sentido."  O que aconteceu foi "uma festa dos abolicionistas em Fortaleza, mas a escravidão continuou, por exemplo, em Milagres."

A luta contra a escravidão teve que continuar no Ceará assim como no restante do Brasil, destacou ele.

Darlan frisou  ainda que "se no ano de 2011, o 25 de março virou "Data Magna" e feriado, foi por motivação daqueles que querem promover a versão do abolicionismo gradual, feito também por membros da elite cearense".

A questão do processo de escravização e a luta pelo seu fim no estado cearense também tem outras versões que foram apagadas, como por exemplo, a preta Tia Simoa, negra liberta que foi crucial na greve dos jangadeiros e que junto com seu companheiro, o Napoleão, lideraram as lutas por liberdade e não se renderam a sociedade escravocrata. O professor Carlos Cesar, da Escola Lindalva de Moraes (Milagres) e a ativista e integrante do Grupo de Mulheres Negras Preta Simoa, Karla Alves, tem trabalhos desenvolvidos nesse sentido.

Dia da Data Magna no Ceará: quando foi insttituido como feriado

 

Museu Senzala Negro Liberto. Na foto: Casa grande e objetos de época (carta de abolição dos escravos em Redenção) (foto: RAFAEL CAVALCANTE).


Na sexta-feira, 25, é comemorada a Data Magna do Ceará, instituída como feriado estadual no dia 6 de dezembro de 2011, na gestão do ex-governador e atual senador Cid Gomes (PDT). A iniciativa foi do então deputado estadual Lula Morais (PCdoB), o qual apresentou o projeto. O dia celebra o marco histórico do fim da escravidão no Ceará. O Estado foi a primeira província brasileira a libertar os escravos. As informações são da Assembleia Legislativa.

O Ceará se antecipou em quatro anos à abolição da escravatura em todo o Brasil, ocorrendo aqui no dia 25 de março de 1884, há 138 anos, enquanto no restante do País aconteceu somente em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea.

Um personagem teve papel fundamental na luta pela libertação dos escravos da província cearense, Francisco José do Nascimento, também conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde. Homem de origem humilde, participou ativamente no Movimento Abolicionista no Ceará.

Para saber mais sobre clique no link abaixo:

Tia Simoa definiu os rumos da abolição da escravidão no Ceará

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Com informações  do O Povo.

Conheça o hotsite do ANANSI - Observatório da Equidade Racial na Educação Básica!

 

ANANSI - Observatório da Equidade Racial na Educação Básica!/Imagem: CEERT

Está no ar o hotsite do ANANSI - Observatório da Equidade Racial na Educação Básica. Confira neste link.

O Observatório visa contribuir no monitoramento e controle social da equidade racial na educação no Brasil, a partir da produção, troca e compartilhamento de conteúdos, além da incidência em políticas públicas. Lançado em dezembro, o projeto ganha o hotsite e fortalece também a mobilização de pesquisadores/as.

A produção de conhecimento objetiva subsidiar e qualificar o debate público para a agenda da equidade racial na educação e fortalecer o controle social do cumprimento da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), obrigando o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira.

Além de produzir e compartilhar conteúdos e referências teórico-metodológicas, o ANANSI reunirá parceiros no campo da sociedade civil organizada e entidades públicas, articulando redes de observação, informação e ação coletiva no campo da educação básica.

Grupo de pesquisadores/as

Em evento realizado pelo CEERT em 9 de fevereiro, o grupo de pesquisadores/as e supervisores/as do Edital Equidade Racial na Educação Básica: Pesquisas Aplicadas e Artigos Científicos, debateu formas de contribuir e fortalecer o Anansi.

“O ANANSI está muito vivo no CEERT desde o primeiro semestre de 2021, quando a nossa conselheira Flávia de Oliveira nos impulsionou a compartilhar o rico acúmulo do CEERT na área da educação básica considerando o forte impacto da pandemia Covid19 na vida educacional do alunado negro brasileiro. Nossa atuação pode e precisa ser, incisiva, a partir do conhecimento de mais de 30 anos”, disse Cida Bento, conselheira da organização.

Cida ainda citou o ANANSI como um espaço importante para compartilhamento de resultados e impactos dos trabalhos de educação antirracista realizados pelos pesquisadores/as do Edital, nas cinco regiões do Brasil, em um ano tão emblemático, como o de 2022, onde nós temos um processo eleitoral e queremos incidir nos programas do Executivo e dos parlamentares, pressionando pela implementação da Lei 10.639/03

Objetivos

Segunda Maria das Graças Gonçalves, especialista do CEERT e Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), o ANANSI visa contribuir com informações que traçam cenários da temática e com ações estratégicas para a Lei 10.639/2003 seguir fortalecida como principal marco regulatório do combate ao racismo e a construção de equidade racial, como agenda norteadora das políticas educacionais brasileiras.

O segundo objetivo é analisar e acompanhar resultados de ações institucionalizadas, transversais nos sistemas de gestão, ensino e formação, dando transparência aos dados da situação educacional da população negra local, regional e nacional.

“Nosso principal interesse é agilizar as comunicações e por isso pensamos em diferentes redes, se articulando na nossa base. A gente pensa em colaboradores e parceiros alimentando e fortalecendo os dados de educação antirracista”, diz a professora.

Eixos

Na reunião com os pesquisadores, foram debatidos três dos eixos de ação do Anansi: advocacy, indicadores e projetos.

Daniel Bento Teixeira, diretor-executivo do CEERT, ressalta que as ações do eixo de Advocacy são estruturantes da missão central do observatório, envolvendo a defesa dos direitos da criança e do adolescente – sobretudo o direito à educação.

“Temos a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e sobretudo a LDB, juntamente com uma legislação internacional, como um arcabouço normativo. São os instrumentos legais que a gente tem para fazer o questionamento nas instâncias do poder executivo ou judiciário, junto ao Ministério Público. A ideia é que o ANANSI receba dos municípios as percepções e evidencias sobre a implementação da lei, em parceria com organizações locais da sociedade civil ligadas ao movimento negro, promovendo essa prática de defesa de direitos”, explica o diretor-executivo.

Já o Eixo Indicadores, segundo Mario Rogério, diretor do CEERT, contribui na sistematização e disponibilização de dados quantitativos e qualitativos.

“Temos focado na importância da coleta do quesito cor e na qualidade dos dados em pesquisas, com o objetivo de produzir indicadores e divulgar análises, criando uma ponte de acesso aos indicadores educacionais de uma forma fácil e simples. A ideia é que profissionais de educação tenham informações muito precisas para o dia a dia no avanço da equidade racial na educação básica”, explica Mario Rogério.

O Eixo Projetos e Materiais reúne estudos, pesquisas, formação e desenvolvimento de materiais no campo da educação básica, disponibilizando conteúdos para consultas, replicação e ampliação. É um espaço virtual para intercâmbio de experiências exitosas em ações antirracistas.

História

Em mais de 30 anos de atuação, o CEERT realiza ações visando a equidade racial na educação, a partir da formação de professoras/es, gestoras/es e subsídios ao ensino antirracista, reunindo significativo acervo. Desde 2020, o Edital Equidade Racial na Educação Básica identifica e apoia pesquisas aplicadas, que apontem soluções para os desafios da construção da equidade racial na educação básica no Brasil. Saiba mais sobre os resultados da iniciativa neste link.

O CEERT entende que a promoção da educação antirracista é essencial para o combate ao racismo estrutural e para a construção da equidade racial, como agenda norteadora das políticas educacionais brasileiras. Assim, o convite é tecer coletivamente a teia da educação as relações étnico-raciais.

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Com informações do Ceert.

Quando se pede a lua ao prefeito

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução/ Facebook).

Por Alexandre Lucas, colunista

A democracia sofre fraturas diárias na luta pelo direito à cidade. Pensar em gestões democráticas e participativas é um desafio em construção, inclusive de compreensão. Equivocadamente e de forma recorrente, esse conceito, é posto como uma engenharia harmônica e consensual, desconsiderando neste caso a realidade concreta, marcada por disputas de narrativas, desigualdades sociais e antagonismo de classe.

Gestão democrática e participativa não é conceito dogmático, em que é constituída por pares e é erguida a partir de uma única verdade, mas é a partir do encontro das ideias conflituosas e de interesses distintos que a democracia se tempera, necessariamente, isso não acontece pelo diálogo. A história tem demonstrado que o conflito é algo presente quando existem interesses antagônicos.

Apesar do conceito de gestão democrática e participativa ser algo novo relativamente, a luta pelo direito de participar e decidir sobre a cidade é algo bem mais antigo. Entretanto, o recorte das lutas de classes continua sendo válido para compreensão da democracia e evitarmos cairmos na concepção de idealista e romantizada que desconsidera as contradições e as forças em disputa, na tentativa de erguer um falso discurso de equilíbrio social e de dialogicidade.

Conselhos setoriais, conferências, audiências e consultas públicas são espaços criados para aprofundar a democracia, essencialmente são esferas políticas que cabem a diversidade e pluralidade de ideias e de concepções políticas, inclusive, não distingue a participação das pessoas dos mais diferentes partidos políticos, até porque isso é uma prerrogativa constitucional. Enfatizar essa questão é desmascarar a suposta neutralidade das instâncias de participação social.       

A gestão democrática e participativa não deve ser compreendida como o quintal da nossa casa, mas como a casa de gregos e troianos, de muitas brigas, ocupações, construções e desconstruções e é a partir dessa síntese de confusões que a democracia vai se constituindo ou se destruindo.   

Cabe continuar insistindo no aprofundamento da democracia e na organização popular para construir uma nova realidade de participação e acessibilidade  social.

Democracia não é desfile militar, onde todos vestem a mesma roupa e dão as mesmas passadas.  É preciso se preparar para democracia recheada de assimetrias e desconfortos.

As gestões públicas devem romper com as velhas práticas abortivas sobre a decisão da cidade.  Optar por gestões democráticas e participativas vai além de eleger instâncias de participação e é um desafio que se coloca na ordem do dia, aliada aos princípios que regem a gestão pública e os direitos constitucionais da população.

As demandas da população são imensas e complexas, objetivas e subjetivas, viáveis e inviáveis e estão postas. Os gabinetes de gestão têm a tarefa de dar respostas, de orientar, de fazer com que os preceitos da carta magna sejam cumpridos, por  engavetar as demandas da população, é uma atrocidade as conquistas de 88, uma ataque à democracia.  Obviamente, quando for solicitado  ao prefeito a lua, ele ficará impedido de atender, mas isso não exclui a necessidade de justificar os motivos do não atendimento. Construir uma gestão democrática e participativa é aprender a dar respostas até para o pedido da lua.

Sueli Carneiro recebe título de honoris causa da UnB

Sueli Carneiro. (FOTO/ André Seiti / acervo Itaú Cultural).

A Universidade de Brasília (UnB) deu o título de doutora honoris causa para a filósofa e escritora Sueli Carneiro. A decisão foi tomada em reunião do Conselho Universitário (Consuni) da UnB nessa sexta-feira (18/3).

Carneiro é conhecida por sua produção intelectual sobre o feminismo negro, entre outros temas, e por seu ativismo no movimento antirracista. Além da atividade teórica e analítica amplamente difundida nos seus escritos, Carneiro fundou o Instituto Gelédes, que luta contra o racismo e o sexismo.

A vida de Sueli Carneiro é contada no livro “Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro”, escrito pela jornalista Bianca Santana.

A reitora da UnB, Márcia Abrahão, disse para a coluna que é “uma alegria e uma honra” para a universidade atribuir o título para Carneiro “principalmente no mês da mulher”.

Com esse gesto, a UnB dá mais uma demonstração de reconhecimento do valor da diversidade para a construção do conhecimento e de seu empenho no combate ao racismo. Eu me orgulho da decisão tomada pelo Consuni”, acrescentou.

O título de doutor honoris causa é dado a pessoas com “relevante projeção nacional ou internacional, que tenham contribuído de modo notável, para o progresso das Ciências, Letras, Artes ou Cultura em geral e/ou que tenham beneficiado de forma excepcional à humanidade ou o país”, explicou, em nota, a UnB.

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Com informações do Metrópole.

Projeto em homenagem a Lima Barreto é lançado nas plataformas digitais

 

Obra de Lima Barreto será contada em vídeos por personalidades negras. (FOTO/ Reprodução).

Espalhe Lima Barreto” é o nome da iniciativa em comemoração ao centenário da morte do jornalista e escritor Lima Barreto. O projeto, lançado de forma virtual, destaca o legado do autor por meio de vídeos, artes e textos em formato bilíngue e de livre acesso e o primeiro vídeo, feito pela escritora e filósofa, Djamila Ribeiro, que dá voz a excertos do livro “Clara dos Anjos”, já está disponível.

Entre fevereiro e novembro, mês que marca os 100 anos da morte do autor, vídeos inéditos serão lançados com personalidades negras declamando trechos da obra do autor, como Conceição Evaristo, Lázaro Ramos, Elisa Lucinda, Hilton Cobra e Silvio Almeida.

O apoio artístico e técnico da Baioque foi fundamental para a criação da plataforma Espalhe Lima Barreto. Sob coordenação do Brazil LAB (Universidade de Princeton) e da Companhia das Letras, esse projeto ilumina o legado de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, cuja obra foi silenciada pelo racismo e permanece atual frente aos dilemas contemporâneos. Ao longo do mutirão Espalhe Lima, nos tornamos uma única equipe e já estamos nos mobilizando para novas colaborações”, explica Guilherme Fagundes, antropólogo e representante do Brazil Lab, realizadora do projeto.

Newman Costa, Diretor de Audiovisual da Baioque, responsável pela produção audiovisual do projeto, explica que o movimento “Espalhe Lima” será uma oportunidade de reconhecer a vida e obra de Lima Barreto, mas também lançar nas redes conteúdo de impacto social, pilar caro à empresa. “Trazer sua obra, além de ampliar acesso a um conteúdo cultural riquíssimo, levanta uma provocação para que a sociedade reflita sobre questões como a exclusão social e o racismo. Já temos o exemplo do embranquecimento de Machado de Assis, contra o qual até hoje precisamos lutar, e o pequeno espaço dedicado a Lima dá continuidade ao apagamento da produção negra no Brasil. Para nós, este trabalho é uma homenagem, mas também uma luta”, conclui.

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Com informações do Notícia Preta.

Estado laico: o que é?

 

Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo. FOTO/ Valter Campanato/Agência Brasil).


No mundo inteiro, o ideal do Estado laico gera polêmicas. Nos últimos anos, foram registrados diversos casos em que a liberdade religiosa se chocou com a ideia de laicismo, gerando protestos. Ocorreu na França, com a proibição do uso do véu, na Alemanha, com a proibição de freiras de usarem hábito em escolas e repartições públicas e também aqui no Brasil, onde foi discutida a questão da presença de crucifixos em repartições públicas, entre outros assuntos.

Afinal, o que significa um Estado ser laico? Vamos apresentar esse significado, as origens históricas do laicismo e como o Brasil se apresenta dentro deste contexto.

Conceito

Um Estado é considerado laico quando promove oficialmente a separação entre Estado e religião. A partir da ideia de laicidade, o Estado não permitiria a interferência de correntes religiosas em assuntos estatais, nem privilegiaria uma ou algumas religiões sobre as demais. O Estado laico trata todos os seus cidadãos igualmente, independentemente de sua escolha religiosa, e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião.

O Estado também deve garantir e proteger a liberdade religiosa de cada cidadão, evitando que grupos religiosos exerçam interferência em questões políticas. Por outro lado, isso não significa dizer que o Estado é ateu, ou agnóstico. A descrença religiosa é tratada da mesma forma que os diversos tipos de crença.

História do Estado Laico

O laicismo é uma doutrina que defende que a religião não deve ter influência nos assuntos de Estado. Essa ideia foi responsável pela separação moderna entre a Igreja e o Estado e ganhou força com a Revolução Francesa (1789-1799). Portanto, podemos dizer que o Estado laico nasce com a Revolução Francesa e que a França é a mãe do laicismo.

Nos anos que se seguiram à revolução, o Estado francês tomou medidas em direção ao laicismo propriamente dito.

1790: todos os bens da Igreja foram nacionalizados;

1801: a Igreja passou para a tutela do Estado;

1882: o governo determina que o sistema de ensino público deve ser laico;

1905: a França se tornou um Estado Laico, separando definitivamente Estado e Igreja e garantindo a liberdade filosófica e religiosa;

2004: entra em vigor uma lei que proíbe vestes e símbolos religiosos em quaisquer estabelecimentos de ensino.

Vale ainda mencionar o caso dos Estados Unidos e a separação entre Igreja e Estado. A Constituição Americana foi aprovada em 1787 – e portanto, antes da Revolução Francesa – não criava nenhum vínculo entre Igreja e Estado, o que pode nos levar ao entendimento de que este tenha sido o primeiro país laico. Porém, a Constituição não deixava explícito que eles deveriam estar separados, apenas não fazia qualquer menção ao tema. Foi apenas na primeira emenda constitucional, em 1791, que se estabelece que “o Congresso não fará lei estabelecendo religião oficial, ou proibindo o livre exercício delas”.

No entanto, essa emenda tratava apenas do governo federal, e muitos estados continuaram religiosos depois da ratificação. Foi apenas com o caso Every vs Board of Education, em 1947, que a Suprema Corte incorporou a Establishment Cause, tornando os Estados Unidos da América definitivamente laico.

Posições do Estado em relação à religião

Apesar de a laicidade ser adotada em diversos países mundo afora (alguns exemplos são Estados Unidos, Japão, Canadá, Áustria e África do Sul), ainda existem outras formas de relação entre Estado e religião. Abaixo, relacionamos algumas delas:

Estado confessional

O Estado confessional é aquele que adota oficialmente uma ou mais religiões. Existe influência religiosa nas decisões do Estado, mas o poder secular predomina. São exemplos de Estados confessionais:

Reino Unido: a Inglaterra, maior nação do país, adota o cristianismo anglicano como religião oficial. Bispos anglicanos têm direito a 26 vagas na Câmara dos Lordes (equivalente ao nosso Senado). Na prática, é o primeiro-ministro e a Câmara dos Comuns que concentram o poder político;

Dinamarca: o Estado dinamarquês adota o cristianismo luterano como sua religião. Na prática, há ampla liberdade religiosa no país, onde vivem muitos imigrantes muçulmanos;

Butão: a constituição do país estabelece o budismo tibetano como religião oficial. Essa nação asiática garante liberdade religiosa, mas tem colocado limites a práticas de outras religiões (como atividades missionárias e construção de templos);

Arábia Saudita (islamismo): adota oficialmente o Islã e proíbe a prática de qualquer outra religião. Todos os cidadãos sauditas devem professar a fé islâmica, sob pena de serem executados pelo crime de apostasia.

Estado teocrático

Nas teocracias, as decisões políticas e jurídicas passam pelas regras da religião oficial adotada. Em países teocráticos, a religião pode exercer o poder político de forma direta, quando membros do próprio clero têm cargos públicos, ou de forma indireta, quando as decisões dos governantes e juízes (não religiosos) são controladas pelo clero.

Exemplos de Estados teocráticos são: o Irã, que adota o islamismo como religião oficial e possui um aiatolá como chefe de Estado; e o Vaticano, o país-sede da Igreja Católica, cujo chefe de Estado é o próprio papa.

Estado ateu

Um Estado ateu é caracterizado pela proibição ou perseguição a práticas religiosas. O Estado não apenas se separa da religião, mas a combate. Exemplos de ateísmo de Estado podem ser encontrados em experiências socialistas ou comunistas do século XX: União Soviética (URSS), Cuba, China, Coreia do Norte, Camboja, entre outros.

Hoje em dia, parte desses países adota a liberdade religiosa e o secularismo: a Rússia é um país laico; a China garante a liberdade de crença, apesar de permitir apenas um conjunto de religiões registradas; e a Coreia do Norte também permite oficialmente a liberdade religiosa, apesar de que cerca de 64% da população norte-coreana não professa nenhuma religião, segundo David Alton.

E o Brasil?

Pleno do Supremo Tribunal Federal ostenta um crucifixo, símbolo religioso católico. (FOTO/ STF).

O Brasil é o maior país católico do mundo, com uma estimativa de 127 milhões de fiéis, o que equivale a 65% da população do país e aproximadamente 12% dos católicos no mundo (dados de 2013 do IBGE). Mesmo com maioria católica, o país é oficialmente um Estado laico, ou seja, adota uma posição neutra no campo religioso, busca a imparcialidade nesses assuntos e não apoiando, nem discrimina nenhuma religião.

Apesar de citar Deus no preâmbulo, a Constituição Federal afirma no artigo 19, inciso I:

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.

Esse trecho de nossa Constituição determina, portanto, que o Estado brasileiro não pode se manifestar religiosamente. Também vale notar que o artigo 5º, inciso VI também diz:

É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Dessa forma, a liberdade religiosa na vida privada está completamente mantida, desde que devidamente separada do Estado.

Em 2012, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello fez afirmações nesse sentido em sua decisão sobre o aborto de anencéfalos. Ele afirmou que “os dogmas de fé não podem determinar o conteúdo dos atos estatais.” Também sustentou que: “as concepções morais religiosas — unânimes, majoritárias ou minoritárias — não podem guiar as decisões de Estado, devendo, portanto, se limitar às esferas privadas.”

Polêmica: o caso dos crucifixos em repartições públicas

Uma das principais polêmicas em relação à laicidade do Estado brasileiro é o uso de símbolos religiosos, como crucifixos, em repartições públicas. De acordo com críticos, essa prática fere os princípios do Estado laico porque, uma vez que instituições públicas ostentam símbolos de uma religião, estariam privilegiando-a em detrimento das demais crenças (ou descrenças).

A controvérsia já motivou decisões como a do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), que determinou a retirada de crucifixos de todos os prédios da Justiça gaúcha, em 2012. Mas a decisão foi revertida mais tarde pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que entendeu que a colocação dos crucifixos “não exclui ou diminui a garantia dos que praticam outras crenças, também não afeta o Estado laico, porque não induz nenhum indivíduo a adotar qualquer tipo de religião”.

Outros pontos em que a laicidade não estaria sendo respeitada são a frase “Deus seja louvado”, imprimida no canto das notas da moeda oficial do país, o real, e a expressão “sob proteção de Deus” inserida no preâmbulo da Constituição Federal.

A bancada evangélica

Além da presença de referências religiosas em instituições estatais, existe preocupação em relação ao crescimento do grupo de deputados federais e senadores evangélicos. A bancada evangélica se opõe a pautas como descriminalização do aborto, da eutanásia e leis contra a discriminação contra homossexuais e transexuais, enquanto defendem projetos como o Estatuto da Família, que reconhece como único núcleo familiar a união entre um homem e uma mulher, e a redução da maioridade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos.

O número de evangélicos apenas cresce no país e isso se refletiu na composição do Congresso. De acordo com dados da Câmara, a bancada evangélica teria cerca de 200 integrantes (198 deputados, incluindo alguns que não estão no exercício do mandato, e 4 senadores).

A presença de um amplo grupo identificado com correntes religiosas específicas é vista como um desafio para a laicidade do Estado, uma vez que muitas das pautas citadas possuem relação com as convicções religiosas dos parlamentares (a ideia de família apenas como união entre homem e mulher, por exemplo).

A bancada também não é unanimidade entre os próprios evangélicos. Teólogos ouvidos no 10º seminário LGBT na Câmara entendem que o grupo é fundamentalista, porque busca impor suas convicções morais a toda a sociedade, além de fazer proselitismo religioso (ou seja, promover esforços para converter pessoas para sua religião).

Conclusão

Como você pode perceber, a laicidade é um tema que gera muitas controvérsias, pois implica a manutenção de um equilíbrio tênue entre liberdade de crença e imparcialidade do Estado em relação à religião. Esse equilíbrio é delicado, mas tem como benefício esperado um Estado que respeita a diversidade de crença existente dentro da população. E você, como enxerga a questão da laicidade? Deixe sua opinião!

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Com informações do Politize.