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Cortejo Cultural marcará o Dia das Crianças no Gesso

 

(FOTO | Reprodução | WhatsApp).

Por Alexandre Lucas, Colunista

A 14ª edição do Dia das Crianças no Gesso realizado pelo Coletivo Camaradas em parceria com a comunidade e outros pontos de cultura será marcada pelo tradicional cortejo cultural. Esse ano, 12 grupos da cultura popular, reisado, maracatu, coco, capoeira e outras expressões culturais e artísticas ocuparão as ruas da localidade. A população aproveita a oportunidade para improvisar fantasias e adereços para participar da festa. O evento acontecerá no dia 12 de outubro, a partir das 15h.

Monocultura institucional nas festas populares

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Arquivo Pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista

A política do pão e circo está distante de ser extinta das práticas de gestores públicos, mesmo com os avanços na estruturação do planejamento das políticas públicas e mecanismo de controle e participação social no âmbito da cultura. A quantidade de recursos públicos destinados as festas populares sem critérios e marcadamente interligadas aos interesses de mercado e eleitoral tem sido o modus operandi.

O rio que nos abraça

 

(FOTO | Reprodução).


Por Alexandre Lucas, Colunista

O rio assimétrico desenha vaginas no seu percurso. As águas caminham transbordando música. Os pássaros cantam e desaparecem entre as árvores. Mastigo algumas sementes e me cubro de sol e sombra.

Hoje é dia de me rasgar

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo Pessoal).

Alexandre Lucas, Colunista

Hoje quero me rasgar todo em silêncio. Fechei as portas para não ser incomodado, já que tenho muito incômodo acumulado. Decretei luto na varanda, por lá se encontra um banco vazio, boldo que não serve para minhas dores de barriga e minhas roseiras, algumas com botões, todas com espinhos. A taróloga não entende minha dor, logo ela, que sentiu minha língua navegando no seu corpo e a angústia de sua partida. Disse logo: E eu sou obrigada a adivinhar? Até posso ver nas cartas. Escolha o método de atendimento: Uma pergunta, sete reais, duas perguntas doze reais, três perguntas, vinte reais, trinta minutos, cinquenta reais e uma hora, cem reais. Dispensei os seus serviços sem palavras.  As únicas cartas que acredito que ainda são cartas de amor porque  são exageradamente verdadeiras de mentiras.

Pontos de Cultura do Ceará celebram 10 anos do movimento latino-americano e 05 anos da Lei Estadual, no dia 07 de Julho

 

(FOTO | Reprodução | WhatsApp).


Por Alexandre Lucas, Colunista

A Comissão Cearense Cultura Viva (CCCV) realizará no dia 07 de julho, em Itaitinga e Fortaleza, ações alusivas as lutas da Rede Cearense Cultura Viva e aos 05 anos de conquista da Política Cearense Cultura Viva. As atividades contarão com a presença da secretária Márcia Rolemberg da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, representantes da CCCV, SECULT, parlamentares e especialistas. Esse ano também se comemora 09 anos da Política Nacional Cultura Viva e 10 anos do Movimento Latino-americano de Cultura Viva Comunitária.

A programação do dia 07, terá início pela manhã, entre 10h e 12h, visita ao Ponto de Cultura Acauã das Artes, em Itaitinga. No período da tarde visitas a Pontos de Cultura de Fortaleza. Às 16h a secretária Márcia Rolemberg terá uma reunião reservada com a CCCV sobre a conjuntura nacional e local. O encerramento será às 18h com apresentações artísticas e com uma mesa intitulada “05 anos da Lei Cultura Viva Cearense e 09 anos da Lei Cultura Viva Nacional – perspectivas desde o olhar do Movimento e do Estado”. A referida mesa contará com a participação de Marcos Antonio Monte Rocha (CCCV), Márcia Rolemberg (SCDC -Ministério da Cultura, Renato Roseno (Deputado Estadual), Cecília Rabêlo (Advogada e especialista em Direitos Culturais) e Secult. O evento deverá servir também para acolher os novos Pontos de Cultura certificados pelo Estado.

Em 2023 comemoramos 05 anos da Política Cearense Cultura Viva, 09 anos da Política Nacional Cultura Viva e 10 anos do Movimento Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. A intenção da Comissão Cearense do Cultura Viva é refletir, avaliar e desenvolver modos de fortalecimento do movimento social e da política pública. Desde o dia 18 de maio já realizou seis lives sobre diferentes temas relacionados ao movimento e política Cultura Viva (https://www.youtube.com/@redeculturavivaceara5165/streams) e uma Audiência Pública, provocada pela CCCV e requerida pelo deputado estadual Renato Roseno.

Açaí com suflê

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo Pessoal).


Alexandre Lucas, Colunista

Aquele sofá parecia um divã. O silêncio acolhia a beleza do encontro. Os cachorros latiam como se estivessem rindo e roçaram mendigando ternura.

Carlos foi convocado, veio num livro capa amarela, talvez para proclamar a alegria e disfarçar a sua poesia repleta de dúvidas e atestada de ironia. Para recebê-lo chamou Morzat com a delicadeza dos seus toques. Fechou os olhos como se sentisse as palavras assoprando o seu corpo, encaixando no seu ritmo e brincando de ciranda na ponta dos seus seios. Drummond falava do amor: incerto, contraditório e real.

Entre os poemas, a partilha das comidinhas, a leitura das minhas interrogações e o gosto do amendoim caramelado. Paz e Guerra, não, não, era obra posta à mesa, nem disposta entre as pernas, mas o redemoinho entre a carne e a mente.

Era presente aquele encontro, desses para tomar água. Beber água diminui a quentura do corpo e reduz as batidas do coração. Distante reviro os botões procurando no vestido a poesia decotada, os olhos estrelados e o descanso do sofá.

Festa marcará 22 anos do Grupo de Valorização Negra do Cariri

 

Grunec celebra 22 anos. (FOTO | Reprodução | WhatsApp).


Por Alexandre Lucas, Colunista

O Grupo de Valorização Negra do Cariri - Grunec, fundado em 21 de abril de 2001, realizará festa de comemoração dos seus 22 anos, no dia 05 de maio, a partir das 16h, na sua sede localizada na Rua Coronel Secundo, 287, no Centro.

A confraternização deverá ser marcada por ato político em defesa da igualdade racial e da luta pelos 2% do orçamento do município do Crato para cultura e deverá reunir além da militância dos movimentos negros da região, representantes dos Pontos de Cultura, instituições parceiras, coletivos e voluntários. Está previsto para comemoração lançamento da nova identidade visual, música, bazar, comes e bebes e intervenções artísticas.

Atualmente o Grunec conta com cerca de 30 integrantes e é presidido pela advogada Lívia Nascimento.

Durante esses 22 anos o Grupo publicou a edição do 1° jornal de imprensa negro do Cariri, o "Afrocariri"; o assessoramento do primeiro processo judicial sobre injúria racial do Cariri; organização da 1ª Audiência Pública Federal no ano de 2007 para discutir a implementação da Lei nº 10.639/03 reunindo representantes de 42 municípios; realização do 1º Seminário no Crato em 2005 para discutir a Igualdade Racial; realização da Semana da Consciência Negra; o mapeamento das comunidades negras e quilombolas do Cariri; construção da caminhada contra a intolerância religiosa realizada anualmente em Juazeiro do Norte; realização da Marcha das Mulheres Negras do Cariri; incidência em questões ligadas à educação, saúde, mulheres negras, convivência com o semiárido, juventudes negras, acolhimento e integração de imigrantes, cotas, segurança pública, cultura, entre muitas outras ações.

Ao longo desta trajetória recebeu honrarias como: Prêmio Frei Tito de Alencar de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e Comissão de Direitos Humanos e Cidadania; Prêmio Fórum Justiça de Direitos Humanos Maria Amélia Leite; Comenda de mérito defensorial da Defensoria Pública do Ceará, entre outros.


Sou uma mentira

 

Alexandre Lucas. (FOTO| Acervo Pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista

Já confundo todos os olhares e desconheço todas as luas. Construo versos para trincar certezas e já não me deito na cama para enganar o coração. É tempo de amor, porque ele nunca sai de moda.

Sou toda mentira que o amor é capaz de fazer. Inventei na palavra que o amor era maior que a imensidão do universo e previsivelmente mais quente que o sol, fui dogmática e professei que o amor era eterno. Lógico que dopada e embriagada pela realidade alienante.

Eu espedaçada, fui triturada, mas o amor nos faz mosaico, um todo formado de pedaços. Enquanto me deito, não espero nada, mentira, estou esperançando e de vez em quando sonho, nem tudo é desespero. Ainda vejo estrelas e mares nos olhos. Estou vivinha, ainda, assim quero ficar. Porque dizem por aí que o amor é perigoso, vejo nas manchetes dos jornais flores, infelizmente nós caixões.

O amor é um bicho louco. O amor me esperou na esquina. Teve uma vez que passou no trem. O amor ficou em casa guardado nos livros. Apareceu cansado e o vi pelas frestas. O amor é teimoso e não obedece a razão. É carne, fogo e furacão, mas é também são manhãs de domingo mais preguiçosas, as equações de sexto grau, que não sei nem o que é, só sei que são de difícil resolução, principalmente para mim que não tenho nenhuma intimidade com a matemática.

Depois que cercaram as terras, o amor ficou tão desigual que desconfio que ele foi reinventado.

2% para cultura nos municípios

O Projeto ARCA, em Altaneira-Ce, é desde 2011 um dos 242 Pontos de Cultura do Estado do Ceará. Quadro montado por este blogueiro a partir de imagens do arquivo do blog. 

 

Por Alexandre Lucas, Colunista

O processo de retomada das políticas públicas para a cultura no país com a reabertura democrática sinalizada pela vitória de Lula abre caminhos para consolidação do marco legal da cultura, tendo como instrumentos imprescindíveis o Sistema Nacional de Cultura e a Lei  Cultura Viva, a política dos Pontos de Cultura. Os governos de Michel Temer e Bolsonaro representaram a ruptura e desmonte do processo iniciado em 2003, com o primeiro mandato do atual presidente. A garantia de recursos públicos para investimentos em infraestrutura, manutenção de equipamentos e desenvolvimento do fomento cultural é uma necessidade histórica para o setor.

Estabelecer mecanismos jurídicos que garantam a continuidade anual de recursos para a cultura, é uma luta que se faz necessária e urgente para os diversos segmentos da cadeia produtiva da cultura. É preciso estabelecer um percentual mínimo de recursos garantidos por lei, como já acontece com Saúde e a Educação.

A cultura deve ser percebida como parte dos direitos humano, indispensável ao processo de desenvolvimento social, apesar que esse entendimento não basta, se faz prudente colocar a cultura dentro do lastro da luta de classes, do campo da disputa de interesses, do entendimento que a cultura não é única, nem neutra, que ela ao mesmo tempo contribui para o processo de emancipação como também contribui para o processo de opressão. É preciso definir o que nós queremos, enquanto perspectiva política da cultura, alinhada aos interesses da classe trabalhadora. 

No novo governo Lula, uma das tarefas políticas emergenciais de reestruturação da política cultural, além da recomposição do Ministério da Cultura  e dos seus órgãos vinculados é a realização da Conferência Nacional de Cultura, o que possibilitará um grande movimento de debate e de norteamento nos municípios e nos estados sobre os caminhos democráticos que poderão ser   estabelecidos no  horizonte das políticas públicas nas três esferas da federação: Municípios, Estados e União.

A defesa de caminhos democráticos que possibilitem a acessibilidade à população da produção historicamente desenvolvida pela humanidade caminha concomitante com a luta pela garantia das condições objetivas, o que indiscutivelmente significa dinheiro para cultura. A discussão sobre os percentuais mínimos de aplicação de recursos para a cultura não é nova, está atrasada.  O que ficou conhecida como PEC da Cultura e que se perdeu ao longo do desmonte orquestrada pela direita no país, já apontava a aplicação de recursos de:  2% para União, 1,5% para os estados e no mínimo 1% para os municípios.

A Lei Aldir Blanc foi um exemplo nítido de como o setor cultural foi reoxigenado, num momento crítico, de crise sanitária, econômica e política. Os recursos da Lei Aldir foi um mecanismo que impulsionou o repasse de recursos da União para Estados e Municípios, como prevê a Lei do Sistema Nacional de Cultura. A Aldir Blanc ainda serviu para promover o debate entre sociedade civil e poder público sobre planejamento mínimo para aplicação de recursos.

Entretanto, é preciso municipalizar o debate sobre a garantia de recursos e o planejamento da política pública para a cultura, impulsionado os Sistemas Municipais de Cultura, marco legal que precisa ser consolidado em cada município brasileiro e ao mesmo lutar para que o percentual de no mínimo 2% para a cultura esteja previsto em lei própria, visando evitar  que as porcentagens em recursos destinados à cultura sejam oscilantes de ano a ano e de governo a governo.

Os recursos previstos com as Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc II que serão injetadas nos estados e municípios entre 2023 e 2024 devem complementar os recursos de fomento dos entes federados.  O que não exclui, isenta ou justifica a ausência de investimentos com recursos próprios dos estados e municípios. Paralelamente precisamos aprofundar as discussões sobre uma legislação específica de acesso aos recursos públicos para o setor cultural visando desburocratizar, simplificar  e otimizar.

É  2% para cultura nos municípios! Nada menos!

Julgada

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Acervo Pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

O corpo estava desenhado de dor, camuflado entre terra e mato, a pele parecia brotar do chão, a tatuagem dava nome: cova rasa. Era o suficiente sabe disso para revirar os olhos, coçar a cabeça e remoer o estômago.

Para alguns isso não era satisfatório, se fazia necessário panfletar a brutalidade como se estivesse espalhando flores.

Não era cinema com violência, mas a violência sem dramaturgia. A mão na cabeça já não pedia consciência. Os gritos desesperados para parar aumentavam a dosagem de selvageria. A faca fez vala como se fizesse rede de pesca.

Na arena romana, a festa se fazia da morte dos bichos.  Na arena de hoje, os bichos estão salvos, com algumas exceções. O tribunal da morte dava a sua sentença acompanhado de aplausos e filmagens.

A vida é real, apesar das ilusões que nos jogam para arena das flores artificiais e dos leões famintos. Seus olhos estão fechados: ela foi julgada infinitas vezes, nunca escutada. Agora é tarde. Corpos não brotam da terra.

Mestre Nena e o Estado criminoso

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

O caso do mestre Nena e de sua família agredida fisicamente e verbalmente pela Polícia ( Raio), em Juazeiro do Norte, região do Cariri-CE, no dia 21 de janeiro, suscitou um debate urgente,  que é a ação do Estado como agente do crime.  O relato de violência amplamente divulgado pela família não é um caso isolado, mas uma prática corriqueira nas periferias brasileiras, que sofre de forma mais embrutecida com o racismo estrutural e a truculência policial. 

Quando agentes públicos agem fora da legalidade estão cometendo crimes, premissa básica de um criminoso.  Buscas e apreensão sem mandado, invasões domiciliares, violência psicológica, agressões físicas, torturas, ameaças e até assassinatos fazem parte do cotidiano das áreas espacialmente marginalizadas das cidades do país.

A concentração de riquezas nas mãos de poucos gerou um crescimento desordenado das cidades e estratificação social dos espaços, gerando áreas marginalizadas e situações de vulnerabilidade social destinadas às camadas populares. Esse contexto nos remete historicamente aos espaços ocupados pela população pobre e negra, após o período da escravatura. Livres dos senhores de escravos, a população negra teve que se submeter à repressão do Estado.

A Lei da Vadiagem é um exemplo da ação do Estado contra a sua própria omissão. As manifestações de religiões de matriz africana e a própria capoeira foram criminalizadas pelo estado Brasileiro.  Existem um padrão de suspeito para as forças de repressão, ser pobre e negro é uma credencial.

O ódio e a prepotência contra as populações periféricas foram ensinados. As “canções TFM” (Treinamento Físico Militar), são um dos exemplos, apresentam músicas de apologia à violência em que a periferia é o alvo. A narrativa dominante reproduz um discurso de criminalidade nascente nesses espaços e esconde as raízes geradoras da desigualdade e vulnerabilidade social.

No caso do Mestre Nena, o tiro saiu pela culatra, os seus algozes, não esperavam que aquele senhor de 71 anos, fosse um Mestre da Cultura e o caso repercutisse. Brincantes, outros mestres, gestores públicos, parlamentares, representantes de Pontos de Cultura, pesquisadores e lideranças dos movimentos sociais saíram em defesa da família de seu Nena, mas que isso se manifestaram contra a violência do Estado e a criminalidade de agentes públicos. O Mestre Nena representa neste momento o símbolo contra a truculência policial nas periferias brasileiras.    

O crime contra a família do Mestre Nena aponta para o governo do Ceará a oportunidade de abrir um amplo debate com a sociedade civil e as forças de segurança visando reduzir a delinquência praticada pelos servidores do Estado contra a população. 

O bairro João Cabral onde aconteceu o crime contra a família do Mestre Nena merece ser recontado para além das páginas policiais, essa é a narrativa que sempre se sobressai. Outras histórias são escondidas e apagadas e possivelmente são essas que devemos evidenciar na luta constante pelo direito à cidade.

O João Cabral é um complexo das manifestações da tradição popular, é ponto de conjugação da identidade e resistência cultural do Cariri. É lugar de gente que ficou acordada, enquanto o estado dormiu.  

O João Cabral do Mestre Nena é também dos grupos:  - Reisado dos Irmãos - Discípulos de Mestre Pedro, Renascer a Tradição, Reisado Estrela Guia, Reisado São Miguel, Guerreiro Beija-flor, Guerreiro Nossa Senhora Aparecida, Guerreiro Santa Madalena, Banda Cabaçal Meninos da Paz, Banda Cabaçal Meninos Maluvidos; Banda Cabaçal São Bento, Maneiro Pau do Mestre Raimundo; Quadrilha Matutino Júnior; Quadrilha Rochedo dos Matutinos; Cia.Teteretete. Carroça de mamulengos, Mágico Mister Van, Cantares de Almas e os Bacamarteiros da paz, grupo do Mestre Nena. São 18 grupos, é muito mestre e mestra, brincante e brincadeira.

Se nos falta o pão, não nos tire o riso.

A rede

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista 

Sal para não apodrecer a carne retalhada. Por aqui estão salgando o coração. Os olhos são rios efêmeros, já não conseguem ser mar. Os livros, até tem por aqui, tem uma biblioteca cheia de mundo, próxima à esquina. As poesias foram espalhadas pelas ruas. Paramos algumas vezes para brincar com as crianças. Pintamos os muros, estão mais coloridos. 

A bola corre solta por aqui, é uma das poucas opções para suar e dar brilho aos olhos. A bala também corre solta, já ela não chega a ser opção. Há quem fale em escolhas, mas as linhas da vida não são escritas apenas de vontades. Temos tanto o que não queremos e isso não é opção, jamais é escolha. 

Na madrugada, o menino dormia como menino, na rede, e seus sonhos eram pequenos, seus pesadelos existiam sem dormir. O menino não acordou: as balas apagaram os seus míseros sonhos. 

A menina acorda com notícia da morte e carrega no seu ventre o filho do descuido. O tempo apagou. 

O menino quis ter uma moto, ser jogador de futebol. Talvez procurasse o que nunca teve: uma casa em que se plantasse flores e distribuíssem abraços. 

Foi homem sendo menino. Ricardo seu nome, não chegou a ser o Ricardão. Foi mais um pendurado nas estatísticas tristes dos nossos afetos. A poesia não muda a vida, quando o Estado resolve dormir. 


Deus me livre

 

Golpistas invadem sedes dos três poderes em Brasília - EVARISTO SA / AFP.

Por Alexandre Lucas, Colunista

"Invadimos tudo", grita o homem branco de camisa azul. Usa boné amarelo com bordado verde, inscrito B-38, o B pode ser de qualquer bobagem, já o 38 é uma referência a arma de fogo mesmo. "Estamos vencendo a guerra, graças a deus, em nome de Jesus estamos vencendo", continua gritando o homem. No seu entorno, outras pessoas gritam num clima de festa e destruição. O pastor transmite a invasão com entusiasmo e pede para o seguirem nas redes sociais.

Mulheres se ajoelham entre cadeiras quebradas e papéis espalhados. Algumas têm rostos pintados, lembra teatro, mas é real, elas cantam e oram. A oração parece que fortalece a cegueira do ódio e do destroço. Excluíram Jesus da cerimônia e usaram indevidamente o seu nome.

"Deus, pátria, família e liberdade" se repete como eco entre a multidão hipnotizada, que avança sobre os cavalos, as vidraças, as obras de artes e as pessoas, nada deve ficar intacto. Criam uma notícia falsa para o terror, os lobos se dizem cordeiro.

O homem com a bandeira do Brasil, sobe em cima de um quadrado de madeira branco, desses que colocam obras de artes, desce as calças e simula obrar.

Outro pastor Mala, insiste, insiste em vender o ódio como amor. Solta frases aceleradas, sem ponto, vírgula e ar. Incita o caminho da violência pela via do morde e assopra. "Deus tenha misericórdia do Brasil", grita furioso e espumando os beiços de mentira.

Não se sabe ao certo o que esse povo quer.  Uma é coisa certa: não querem que o peixe e o pão sejam divididos, como ensinou um jovem revolucionário, há muito tempo atrás, devia ser comunista, mas foi abandonado por seus falsos discípulos nas rampas conflituosas do poder. 

Escuto silêncios

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Acervo Pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Se essa rua fosse minha, abriria de silêncio e a fecharia para escutar o vento e os pássaros. Aqui faz barulho. As músicas brigam. Os cachorros não descansam e, à noite, a gatalhada se ama nas alturas.  Não dá tempo para se escutar. Ao ler um livro, o som esbarra no entendimento das palavras.

A rua não é minha. Escuto um jazz para distrair o barulho, no fundo, vozes de crianças celebram suas brincadeiras. Chupetinha, a velha louca, bêbada e solitária canta para encontrar companhia, as crianças se divertem. O carro com som volante anuncia um bingo, enquanto a furadeira do vizinho perfura as paredes.

Na calçada, homens e mulheres riem narrando a vida alheia. Dentro da casa, a família chora o assassinato do filho.

A polícia grita com a jovem preta e espanca o seu namorado que tem menos de 18 anos. A população grita por dentro e silencia por fora.

Como essa rua não é minha, aprendi a escutá-la e sentir como nossa.  Percebo que ela é mais silenciosa que os gritos contra a impunidade.

O amuleto

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo Pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

Os dias estão cheios de pouca graça e as trilhas precisam ser refeitas. O mato cresceu e preencheu as passagens. Na mesa, os versos também crescem, mas a felicidade fica de castigo.

O escritor escreve romances de açúcar, enquanto as nuvens formam imagens efêmeras. O descanso vai sendo adiado, mesmo assim o mato cresce.

O horário passa, o escritor resolve incluir o amuleto para recompor a história. Mastiga um chocolate Ouro Branco, sorri, enquanto lê uma declaração de carinho. Escorre algumas lágrimas amarelas. A alegria passou perto.

O amuleto é de rocha dura, mas a crença é mais forte ainda. O desejo pede calmaria para comer tranquilamente o poema da rua,  como se chupasse uma manga madura, onde   mãos e  rosto se amarelassem de prazer.

O escritor não acredita em amuletos, observa os passarinhos voando solitários e escreve novos horizontes para o mesmo céu.

Desenhando na palma da mão

 

(Alexandre Lucas |Foto | Reprodução)

Por Alexandre Lucas, Colunista 

Pedalava nos pensamentos procurando encontrar um travesseiro. Era um desses dias, em que se olha para o horizonte e parece que ele tem cebolas: os olhos se enchem de lágrimas como se fossem adubar a esperança. Ainda é cedo, é preciso esperar a noite, pedalar mais um pouco, o corpo sua, talvez transpire poesia.  

A mala foi desarrumada na tentativa de arrumar a vida. Ainda é cedo, é preciso esperar a noite. Na mala encontrei algumas fotos, tinha sorrisos, mas estava triste. A pulseira de couro estava ali, foi de um período em que sonhava conhecer o Brasil vendendo artesanato ao lado da pessoa amada: adolescente não tem chão. Encontrei as roupas que não uso há anos, presentes para serem esquecidos, mas não temos amnésia para as histórias dolorosas da vida.  

O horizonte parece que tem cebola mesmo. Brinco com os dedos aumentando os cachos, talvez seja para rebobinar imagens que nunca existiram e fabricar sonhos. Parece uma calmaria em procissão, mas lembro que no tumulto não se tem procissão. Ainda é cedo, é preciso esperar a noite.    

Confiança é algo difícil, após vários bombardeios, talvez seja preciso fechar a janela e colocar a roseira como um despertador. É possível sentir o perfume da rosa e transgredir momentos. Ainda é cedo, é preciso esperar a noite.  

A noite vem com timidez e as dúvidas do dia seguinte. Chegou a hora de sentar à mesa, pedir alguns cafés, observar o baralho de palavras, os ventos que passam e os pássaros que insistem em cantar para lua. Perceber a noite vestida de mistério, afrouxar a leveza. Desenhar na palma da mão, isso mesmo, na palma da alma, para que o simples tenha a grandeza da magia. É possível fazer algo diferente.    

Terrorismo como tática política de Bolsonaro

 

(FOTO | Reprodução | TV PT).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

A fabricação do medo, através da mentira, da intimidação e da violência tem sido a tática política de Bolsonaro nas redes e nas ruas. O terrorismo eleitoral tem incitado uma onda violenta em todo o país, não são casos isolados, como alguns tentar impor, mas compõe uma política bem orquestrada, a qual se utiliza da ciência para ganhar capilaridade e potência segredada nas redes sociais e que tomar as ruas,  a partir das poderosas estruturas religiosas que tem conexões nos mais diversos segmentos sociais e com forte ligação com as camaradas populares.

A violência bolsonarista já tem demonstrado os seus resultados: Mortes, agressões físicas e a demonização da esquerda, dos movimentos sociais e até mesmo dos ensinamentos cristãos, isso mesmo, pastores a serviço do anticristianismo. As Marchas para Jesus serviram como palanques para Bolsonaro, espaços das pautas antidemocráticas e de favorecimento do lema usado pelo fascismo à brasileira “Deus, Pátria e Família”, expressão usada pelos integralistas brasileiros (fascistas do Brasil). Por outro lado, cresce, os   diversos setores religiosos que fazem barreira ao discurso do ódio e da violência que se entranhou em diversas igrejas. Pastores e padres progressistas se unem em defesa da democracia.

Essa eleição é marcada por posições antagônicas bem definidas que colocam em risco a própria democracia no país. Não é uma eleição qualquer. Precisamos agir e tomar cuidado a todo instante, os estopim como Roberto Jefferson já estão sendo incendiados  há um bom tempo, basta lembrar o crescimento de armas  de fogo e munição no Brasil, após Bolsoanaro e os assassinatos e agressões de ordem política praticadas pelos apoiadores do atual presidente. 

O Partido Comunista do Brasil – PCdoB saiu bem antes das eleições defendendo uma frente ampla para além das esquerdas que conseguisse aglutinar os setores progressistas e democráticos no país em torno de uma tática única e central: derrotar o bolsonarismo nestas eleições. A posição do PCdoB se apresentou como acertada. A estrutura e os apoios políticos de uma campanha é condição objetiva na correlação de forças para ganhar a disputa eleitoral. É a somatória de votos que ganha uma eleição e não necessariamente as boas ideias. Isolados não temos condições de ter incidência política nas grandes discussões nacionais.

A vitória de Lula é capaz de reconstruir a perspectiva de um projeto nacional desenvolvimentista. É preciso insistir nesta vitória. O projeto representado por Bolsonaro não será derrotado do dia para a noite, muito menos  no dia 30 de outubro, ainda teremos uma intensa batalha, para garantir a governabilidade e os mecanismos de gestão democrática e participação popular, numa conjuntura adversa,  em que o inimigo tem musculatura e resistência.    

Falta menos de uma semana, pouco tempo, a frente ampla está nas ruas e nas redes, o inimigo está bem vivo e longe de dar descanso, ainda é hora de conquistar os indecisos, reduzir as abstenções e de dividir o lado de lá.  O terrorismo eleitoral não vai cessar, a tendência é ampliar. Os bolsonaristas nos querem fora das ruas e das redes, é preciso desobedecer. A tática das redes vai ser ampliar a nossa visibilidade, curtir, comentar, compartilhar tudo em defesa da nossa candidatura, não vamos trabalhar para a direita! Nossas bandeiras, toalhas, adesivos e cartazes devem tomar as ruas na guerra cultural contra o fascismo. Ainda temos como lutar!

A casa está fechada

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo Pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Estão mortas, outras desamparadas, secas. O jardim testemunha a ausência humana. Casa fechada. O único verde que resta são as lembranças daqueles olhos perdidos de esperança. O seu banco continua na varanda, dura uma vida, foi herança do seu avô, um assento para descanso ou esperar a paciência.

Uma garrafa de vinho, guardava uma carta de amor, de um casal clandestino. As bolsas de couro feitas pelas suas mãos estavam atrás da porta, a poeira, escondia os detalhes dos carimbos.

O sofá vermelho guardava em silêncio confidências, mas não suportava mais nenhum peso.

Os livros continuavam organizados na estante junto ao mofo e às traças.

Caixas vazias estavam amontoadas na sala, nenhuma mudança prevista.

Na mesa da cozinha, uma mosca se suicida, na caneca com café e a barata caminha em cima do pão seco.

Batidas na porta. O homem da companhia energética chegou para cortar o abastecimento de energia, atrasada durante todo o verão. A casa já não precisa de luz.

O testamento, por Alexandre Lucas*

 

(FOTO | Reprodução).


É colunista, pedagogo e artista-educador*

Teve que partir. Tomou água, sentiu dor na barriga, olhou pela janela, viu um abismo e uma rosa vermelha como se estivesse de braços abertos. Mordeu os lábios com força, quase que bebeu do seu sangue. Seus olhos um bocado de brilho de lembranças.

As malas ainda não estavam prontas e o desejo de partir desarrumado. Tinha que sair assim mesmo, sem vontade. Parece que colocaram agulhas nas horas e a cada segundo uma sessão de tortura se iniciava. O tempo, na hora da dor, é mais demorado, até parece que é para sempre. Como os finais de histórias previsíveis que contam para as crianças. 

Ainda não acreditava na sua partida, achava que era pesadelo e logo acordaria. Na agenda, deixou anotado um testamento, onde dividia o que não era possível empacotar, nem sentir com as mãos. Por falar em mãos, as suas estavam deliciosamente sujas de chocolate. O Testamento ficou literalmente achocolatado.

Belchior cantando, o vento soprando a cabeça, os filmes passando, o movimento. A pipoca foi se espalhando pelo chão para enganar os caminhos, enquanto a sede aumentava.

Frente da Cultura com Elmano

Frente da Cultura com Elmano. (FOTO  | REPRODUÇÃO.

Por Alexandre Lucas, Colunista 

Nos últimos anos vem se consolidando uma política pública estruturante para a cultura no estado do Ceará. Ampliou e descentralizou a quantidade de equipamentos no estado, investiu no fomento, com a ampliação e diversificação da política de editais, criou o Sistema Estadual de Cultura, o que vem possibilitando fortalecer os mecanismos de controle e participação social, planejamento participativo da política pública e ampliação dos recursos. O norte da gestão na Cultura tem sido a promoção dos direitos humanos e culturais, o que tem possibilitado a inclusão, transversalidade e circularidade da economia da cultura. É a continuidade desta política cultural que defendemos com ampliação e como vetor estruturante de uma política de estado com caráter emancipatório.

Ao defender essa continuidade, enquanto perspectiva de projeto político para o cultura no Ceará, se faz necessário afirmar a necessidade de uma frente ampla da cultura que aglutine as/os brincantes, as/os artistas das diversas linguagens, as produtoras e os produtores, as gestoras e os gestores, as pesquisadoras e pesquisadores, as candidaturas a deputados e deputadas estaduais e federais comprometidas com a pauta cultural.  

Essa frente precisa ser mais ampla ainda, e deve ser um chamado para a diversidade religiosa, as/os patriotas, as/os democratas, as representações das associações de moradores e do setor produtivo e os amplas frentes dos movimentos sociais. Os segmentos da cultura e a esquerda sozinha não aglutina força suficiente para derrotar o perigo que amedronta a democracia no país e no nosso estado.  

Um delegado candidato a deputado federal, pelo PL (22), partido de Bolsonaro, neste 7 de setembro, ganhou notoriedade nos veículos de comunicação, ao dar o tom da cultura que está em jogo “Se a gente não ganhar nas urnas, nós vamos ganhar na bala”.

Essa frente da cultura ao defender a candidatura do Elmano, do Partido dos Trabalhadores (PT), se coloca frontalmente contrária à candidatura que representa Bolsonaro no Ceará: Capitão Wagner.

Precisamos derrotar o discurso e a prática do ódio e da violência, as bandeiras da exclusão e antidemocráticas devem ser combatidas. Deus, Pátria, Família é uma fake News contra os princípios humanitários, o desenvolvimento nacional produtivo e a família enquanto espaço de humanidade e de acolhimento. Essas três palavras apregoadas pelos alinhados de Bolsonaro já foram defendidas em outros momentos truculentos da nossa história: a ditadura militar que perseguiu, enlouqueceu, torturou e matou aquelas e aqueles que ousaram defender a democracia e a liberdade.

É contra essa cultura que não fortalece as liberdades democráticas, a diversidade e a pluralidade artística, literária e cultural, que promove o medo, o assistencialismo e amputa a criatividade do nosso povo, a qual demoniza a distribuição da renda, do emprego, da terra e de felicidade que nos colocamos contrário. O projeto que representa o fascismo e o bolsonarismo no Ceará deve ser escanteado e para isso é preciso uma frente ampla e unidade.

Bolsonaro e Capitão Wagner tem já repúdio de amplos setores da cultura, pelo que vem promovendo: ódio, violência e retiradas de direitos. Os Pontos de Cultura do Ceará, por exemplo, demonstram combatividade ao rejeitar em carta aberta os dois inimigos da cultura e da democracia. 

Elmano é a candidatura que representa Camilo Santana e Lula, por conseguinte, os avanços dos índices  sociais dos seus governos. Ele  reúne o conjunto de forças políticas e sociais capaz de consolidar e ampliar uma política de estado estruturante, inclusiva, transversal, inovadora, híbrida, diversa, plural, democrática, desenvolvimentista e emancipatória. O que está em jogo, não é o nome do Elmano, mas a defesa de um projeto de política de cultura e de cultura política em que o povo seja o seu próprio representante.