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O Ato Institucional nº 5 foi decretado em 1968, durante o governo de Artur Costa e Silva. (FOTO/ FGV/CPDOC). |
O
Ato Institucional nº 5, conhecido usualmente como AI-5, foi um decreto emitido
pela Ditadura Militar durante o governo de Artur da Costa e Silva no dia 13 de
dezembro de 1968. O AI-5 é entendido como o marco que inaugurou o período mais
sombrio da ditadura e que concluiu uma transição que instaurou de fato um
período ditatorial no Brasil.
O
AI-5 não deve ser interpretado como um “golpe
dentro do golpe”, isto é, não deve ser visto como resultado de uma queda de
braços nos meios militares que levou um grupo vitorioso a endurecer o regime.
Ele deve ser enxergado como o resultado final de um processo que foi
implantando o autoritarismo no Brasil pouco a pouco no período entre 1964 e
1968. Foi a conclusão de um processo que visava a governar o Brasil de maneira
autoritária em longo prazo.
O
AI-5, na visão das historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, “era uma
ferramenta de intimidação pelo medo, não tinha prazo de vigência e seria
empregado pela ditadura contra a oposição e a discordância|1|. Já o historiador
Kenneth P. Serbin fala que, por meio do AI-5, as forças de segurança do governo
tiveram carta branca para ampliar a campanha de perseguição e repressão contra
a esquerda revolucionária, oposição democrática e Igreja|2|.
Esse
ato institucional foi apresentado à população brasileira em cadeia nacional de
rádio e foi lido pelo Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva.
Contava com doze artigos e trazia mudanças radicais para o Brasil. Por meio
desse decreto, foi proibida a garantia de habeas corpus em casos de crimes
políticos.
Também
decretou o fechamento do Congresso Nacional, pela primeira vez desde 1937, e
autorizava o presidente a decretar estado de sítio por tempo indeterminado,
demitir pessoas do serviço público, cassar mandatos, confiscar bens privados e
intervir em todos os estados e municípios.
Por
meio do AI-5, a Ditadura Militar iniciou o seu período mais rígido, e a censura
aos meios de comunicação e a tortura como prática dos agentes do governo
consolidaram-se como ações comuns da Ditadura Militar.
Contexto histórico
O
AI-5 foi decretado em 13 de dezembro de 1968. Esse ano para a história do
Brasil e do mundo ficou marcado por grande mobilização popular. O movimento
estudantil juntou-se contra o regime a partir de março daquele ano e, no fim
desse mês, o estudante Edson Luis de Lima Souto foi morto pela polícia em um protesto
realizado no Rio de Janeiro.
A
morte de Edson Luis sensibilizou o país e deu força para o movimento
estudantil. O enterro do estudante contou com a presença de mais de 60 mil
pessoas|3| e, a partir desse momento, novas manifestações estudantis aconteceram.
Em junho, houve violentos confrontos da polícia contra os estudantes que
reivindicavam o fim da ditadura.
Em
junho de 1968, ainda aconteceu a Passeata dos Cem Mil, que mobilizou 100 mil
pessoas nas ruas do Rio de Janeiro e contou com a presença de artistas e
intelectuais. Em julho, a ditadura proibiu a realização de manifestações e, em
agosto, começou a intervir diretamente nas universidades públicas. A ditadura
agia para acabar com a força do movimento estudantil, e muitos dos estudantes,
acuados, optaram por ingressar na luta armada.
A
oposição ao regime não acontecia somente por meio dos estudantes, mas também
por intermédio da luta armada. Em razão da implantação da ditadura e da
perseguição à oposição, determinados grupos da sociedade ingressaram na luta
armada como forma de combater a ditadura. Um dos grandes nomes da luta armada
que se engajaram contra a ditadura foi Carlos Marighella, que reivindicou a
autoria de um atentado contra o Consulado dos Estados Unidos em São Paulo, por
exemplo.
Além
do movimento estudantil e da luta armada, a ditadura também teve de lidar com a
oposição do movimento operário, que, em 1968, engajou-se contra a ditadura por
causa de todas as perdas que os trabalhadores tiveram com a política de arrocho
social implantada por esse regime a partir de 1964. Houve grandes mobilizações
de trabalhadores em Contagem (Minas Gerais) e Osasco (São Paulo). Percebe-se,
portanto, que 1968 foi um ano intenso na história brasileira, e a oposição
contra a Ditadura Militar ganhou força em diversas frentes.
Estopim para o AI-5
O
estopim para que a Ditadura Militar implantasse o AI-5 em nosso país aconteceu
com o discurso do deputado Márcio Moreira Alves, do Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). O discurso do deputado emedebista aconteceu em 3 de setembro
de 1968 e, na ocasião, duros ataques foram feitos à ditadura.
Márcio
Moreira discursou contra a violência cometida pelos militares, convocou a
população a boicotar os desfiles de 7 de setembro e questionou quando o
Exército deixaria de ser um “valhacouto de torturadores”. O discurso foi
realizado com o Plenário vazio, mas enfureceu os militares.
O
Exército exigiu uma punição ao deputado da oposição, mas a Câmara dos Deputados
recusou-se a punir Márcio Moreira. Essa derrota mostrou que a oposição contra a
ditadura ganhava força até nos meios políticos. Com isso, o Conselho de
Segurança Nacional organizou uma reunião conhecida como “missa negra”.
Durante
a missa negra, o vice-presidente, Pedro Aleixo, procurou convencer os militares
a não impor o AI-5 e apenas estabelecer estado de sítio. A proposta de Pedro
Aleixo foi rejeitada, e o AI-5 foi anunciado no dia citado, 13 de dezembro de
1968.
O
AI-5 foi a resposta do regime militar para toda a crise que a Ditadura Militar
enfrentava em 1968. Em razão das mobilizações de estudantes, operários,
artistas e intelectuais, somadas à luta armada e à oposição de políticos às
ordens do governo, a cúpula militar reuniu-se para endurecer o regime. Sendo
assim, como já salientado, o AI-5 não foi um “golpe dentro do golpe”, mas uma
resposta pensada dos militares para as tentativas da sociedade brasileira de
resistir contra a ditadura.
Consequências do AI-5
O
AI-5 deu ao presidente o direito de promover inúmeras ações arbitrárias e
reforçou a censura e a tortura como práticas da ditadura. Além disso, como
efeito imediato desse ato|4|:
500
pessoas perderam seus direitos políticos;
5
juízes de instância, 95 deputados e 4 senadores perderam seus mandatos.
Outro
reflexo imediato do AI-5 foi que personalidades influentes da política
brasileira, como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek, foram presos por ordem
dos militares. Além disso, intelectuais e artistas passaram a ser mais
perseguidos, e 66 professores universitários foram demitidos|5|.
Revogação do AI-5
O
AI-5 foi revogado dez anos depois durante o governo de Ernesto Geisel. A
revogação do AI-5 aconteceu com a Emenda Constitucional nº 11, de 13 de outubro
de 1978. No entanto, essa emenda só entrou em vigor a partir do 1º de janeiro
de 1979 e foi parte do processo de abertura política conduzida durante o
Governo Geisel.
|1|
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São
Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 455.
|2|
SERBIN, Kenneth P. Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça
social na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 22.
|3|
NAPOLITANO, Marcos. História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto,
2016, p. 89.
|4|
Idem, p. 94.
|5| GASPARI,
Elio. A ditadura envergonhada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014, p. 344.
______________________________
Texto
de Daniel Neves, no Brasil Escola.
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