João Zuba é patrono do acadêmico Nicolau Neto. (FOTO/ Heloisa Bitu). |
João Sabino Dantas foi um homem simples. Agricultor por profissão, mestre da cultura por paixão. Foi um exímio exemplo de esposo e pai. Passou boa parte de sua vida construindo cacimbas, quando as águas do açude pajéu ainda não eram realidade nas residências dos munícipes. É o que contou sua esposa e seus dois filhos em entrevista a este blogueiro.
“Nois começemos a cavar cacimbão cum pai nois tinha numa faxa de 15 anos de idade. De 15 anos nois fiquemos até de 18 a 19 anos trabaiano de cacimbão cum ele. Aqui onde existir um cacimbão (pausa). É raro uma pessoa perguntar... não ser nois ter feito esses cacimbão ai. Quase todos. Foi eu e ele”, disse um dos seus filhos em entrevista no último dia 3 de novembro do ano em curso.
Mas
ninguém conhecia João Sabino Dantas pelo nome de batismo. Todos o conheciam e
ele passou para a história do município como “João Zuba”. Poucos o conheciam pela
sua arte em fazer cacimba. Embora esta tenha sido um dos prazeres em sua vida. Seu
João Zuba figurou no imaginário popular como o tocador de pífano, um
instrumento tradicional da região nordeste do país. Mas ele, como disse sua esposa,
não só tocava. Era ele quem confeccionava seu próprio instrumento. Foi do
pífano que se originou a única Banda Cabaçal no município.
Seu
João Zuba, ou Mestre João zuba não tinha erudição, mas sobrou conhecimento
adquirido nas vivências, vindo a transmitir a cultura do pífano. Ele abriu
espaços para aprendizes do ramo da música, sanfoneiros, violeiros e cantores
semiprofissionais – como o cantor Sebastião Amorim (conhecido popularmente por
Charles Tocador) - que até então não eram visibilizados.
Sob
a égide cultural dos sons do pífano e da zabumba que tão bem marcou seu João
Zuba, uma geração de jovens decidiu criar a primeira Banda de Pífano no
município, se constituíndo, pois, como uma ferramenta importante para manter
viva a tradição da Banda Cabaçal.
Nos
últimos anos a saúde do mestre já vinha debilitada e suas apresentações que já
não eram tão vistas, ficaram comprometidas por completo. Antes de sair de cena,
ele tinha participado em fevereiro de 2012 da III Conferência Municipal de
Cultura na execução do Hino de Altaneira, do XII Festival Junino desta
municipalidade em junho do mesmo ano, onde a Banda Cabaçal foi homenageada pela
quadrilha da Escola Joaquim Rufino de Oliveira e da Mostra Sesc Cariri em
novembro de 2013, na praça Manoel Pinheiro de Almeida.
Nicolau Neto e familiares de João Zuba. (Foto: Cicera Chavier). |
É
impossível falar de cultura em Altaneira sem destacar a participação ativa e
ousada do agricultor João Zuba. Além de idealizador e propagador de uma cultura
inspirada no trabalho braçal, na vida simples do homem e da mulher da roça, foi
um colaborador no fortalecimento do vínculo dos mais jovens com suas raízes
indígenas e africanas através da música.
Nascido
no sítio Coité, zona rural de Assaré, onde trabalhou inicialmente moendo
cana, o mestre João Zuba veio a falecer em 24 de fevereiro de 2017 com problemas
cardíaco e de diabetes.
O
Mestre da Cultura de Altaneira, João Zuba, se tornou imortal, pois este
signatário ao integrar a Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe (ALB/Araripe) o escolheu
como patrono. Nicolau ocupa a cadeira 33 e já iniciou seu trabalho de pesquisa
sobre seu patrono junto aos familiares, amigos e companheiros seus de banda.
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Nicolau
Neto é
professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história e
cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito racial,
diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e humanos
das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec);
membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe (ALB/Araripe);
servidor público no município de Altaneira, diretor vice-presidente da Rádio
Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do Blog Negro Nicolau (BNN).
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