Por Nicolau Neto, editor
Era
para ser só mais um ano. Mas não foi. 2021 foi o ano do verbo esperançar
alcunhado pelo educador Paul Freire. As vacinas anticovid-19 chegaram e com
elas a esperança de que todos e todas se conscientizassem da sua eficácia e eficiência para salvar vidas. Foi ainda o ano em que enquanto mídia não só
resistimos, mas insistimos e não desistimos de continuar sendo “antirracista”. Não é só um lema, é um projeto de vida.
E
partindo dessa premissa resolvemos trilhar outro caminho. É muito raro
encontrar mídias antirracistas no Ceará, pois a esmagadora maioria delas, inclusive
as que se autointitulam “progressistas”, não rompem com a forma tradicional de
fazer e divulgar conteúdos. Mesmo assim, resolvemos encarar o desafio: escrever
e sugerir pautas para elas.
Foi
assim que sites como o Badalo, Gazeta do Cariri, Miséria, Okariri, Brasil de Fato
Ce, Caririensi, Fooba e blogs como o do Amaury Alencar e do Ambrósio Santos, dentre
outros, reproduziram os textos do Blog Negro Nicolau. Textos que falam sobre
nós, nossas vivências, ancestralidade, da importância que a comunidade negra
tem; escritas que falam sobre as intelectualidades negras no Brasil; artigos
que dizem o quanto somos e estamos ausentes dos livros didáticos, ao tempo em que apontam caminhos para a superação dessa violência que está presente
desde o século XVI: o racismo estrutural.
Nunca
temas como esses foram tão vistos em mídias do cariri quanto em 2021. Conseguimos
romper a barreira do silenciamento dessas redações.
Achas
que é pegadinha? Digita no Google, por exemplo, “plano de combate ao racismo em Altaneira”
e “feriado no dia da consciência negra
Altaneira” e veja o que aparece.
Mas as
frustrações vieram a galope. Os mesmos textos que encaminhamos para as redações
dos sites listados acima foram também para os sites alcunhados de "antirracistas" e "progressistas". Mas nenhum foi publicado. O que explica isso? Essa problemática rende
um bom artigo científico. Então, mão na massa. Ou melhor, mão no teclado.
Por isso, é bom insistir mas sem se iludir. Abdias Nascimento, uma das vozes mais eloquentes e um dos intelectuais negros mais conhecidos do Brasil, já pontuava:
O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa e nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não tem nada de sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial.
Ao
longo de 2021 o Blog deu um salto gigantesco em acessos. Já são mais de 7
milhões. Hoje o Blog conta com oito colunistas e oito parcerias (sem
nenhum rendimento. Nem para o Blog e nem para as instituições parceiras).
Que 2022 venha carregado de esperanças (do verbo esperançar) de dias melhores onde cada pessoa/família tenha condição de viver com dignidade. Afinal, como já alertou Paulo Freire “é preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”.