O
PSDB reuniu seus próceres e alguns convidados ilustres, como os governistas de
sempre, Renan Calheiros e Romero Jucá, para comemorar os 20 anos do Plano Real.
Atordoado
com o indiciamento e a renúncia de Eduardo Azeredo (deputado do PSDB-MG);
atropelado pelo escândalo da Siemens e chamuscado com o fio desencapado do caso
Alstom; com a garganta seca pelo susto de uma crise de racionamento de água em
São Paulo; enfim, com uma avalanche de notícias ruins, era preciso mudar de
assunto.
Que
tal como comemorar, pela enésima vez, mais um aniversário do Plano Real?
A
celebração, embora feita no Senado neste dia 25, teve como referência o 27 de
Fevereiro de 1994, data em que foi publicada a certidão de nascimento do Plano
Real.
A
Medida Provisória nº 434, assinada pelo presidente Itamar Franco, criava a
Unidade Real de Valor (URV) e previa sua posterior substituição por uma nova
moeda, o Real - o que viria a ocorrer em 1º. de julho daquele ano.
Aécio
aproveitou o aniversário para criticar a política econômica do governo Dilma
Rousseff. É seu foco principal, quase exclusivo.
Sua
crítica mais ácida é que Dilma não respeita o tripé que sustenta o Plano Real:
o cumprimento das metas de inflação, o câmbio flutuante e a manutenção de um
superávit primário elevado.
É
difícil saber por que os tucanos reclamam. Das três vezes em que a inflação
superou o teto da meta, duas foram no governo FHC (2001 e 2002).
O
câmbio flutuante só foi implantado por FHC em seu segundo mandato, de uma forma
tão atabalhoada que gerou a crise econômica mais aguda que o Real já
atravessou.
O
Superávit primário foi sempre maior nos governos de Lula e Dilma do que ao
longo do governo FHC (a página do Banco Central na internet traz as séries
históricas que permitem fazer todas essas comparações).
Os
tucanos reclamaram, na solenidade, que o PT não apoiou o Plano Real e não
reconheceu o "legado" de FHC. De fato, o PT foi contra o Plano Real e
carimbou de “herança maldita” a situação que recebeu em 2003.
Mas
é fácil explicar a posição do PT. É isso o que se espera de um partido de
oposição: que se comporte como oposição.
Difícil
é entender que o próprio PSDB não tenha defendido o Real, com unhas e dentes, e
não tenha se ufanado do legado de FHC durante as últimas três campanhas
presidenciais.
Em
2002, 2006 e 2010, os candidatos tucanos, José Serra e Geraldo Alckmin,
varreram FHC para baixo do tapete.
Renegaram
o legado que FHC invoca. Deixaram para trás o que julgavam passado.
Hoje,
Aécio celebra o passado. O PSDB tem mesmo boas razões para comemorar. Demorou
12 anos para o partido voltar a defender o governo FHC.
Antes
que seja tarde, ambos, FHC e o PSDB, lutam para entrar para a História em uma
posição melhor do que saíram.
O
governo tucano terminou com inflação retornando à casa de 2 dígitos, dólar fora
de controle, zero de reservas internacionais, empréstimos do FMI, apagões e
racionamento de energia.
Eis
uma parte importante do legado que, décadas depois, preferem que seja
esquecida.
Os
tucanos seguiram à risca o provérbio de Pedro Malan, segundo o qual, no Brasil,
até o passado é incerto. A aposta e a celebração, portanto, fazem sentido.
Olhar o passado é sempre uma oportunidade para tentar reescrevê-lo.
O
PSDB demonstrou, neste aniversário do Real, que sobrevive e resmunga em seu
sarcófago, esperando o retorno de seus dias de glória.
O
partido quer voltar a ser governo porque simplesmente não consegue e não
aguenta mais ser oposição.
O
difícil é chegar lá dormindo o sono profundo de sua falta de projeto para o
país e confinado à letargia de suas iniciativas.
Essa
elite política destronada e embalsamada roga aos deuses do universo que a
despertem e a conduzam ao seu Palácio; suplica que lhe devolvam o cetro, de
preferência, em uma carruagem dourada.
Assim
se explica que FHC tenha invocado, em seu discurso, a ajuda divina. Exclamou,
ou praguejou, contra a reeleição de Dilma Rousseff: "De novo o mesmo, meu Deus?!"
A
análise é do cientista político Antonio Lassance e foi publicado originalmente
no Carta Maior