Denise Carreira (FOTO/ Bárbara Alves). |
Este
artigo propõe a necessidade de maior engajamento de pessoas brancas e das
instituições comprometidas com a promoção, defesa e garantia dos direitos
humanos na luta antirracista, abordando alguns dos obstáculos, desafios e
possibilidades envolvidos nessa conflitiva construção, em especial, no que se
refere à reflexão crítica e ao processo de desconstrução da branquitude como
lugar de manutenção de privilégios materiais, subjetivos e simbólicos na
sociedade e base de sustentação do racismo.
O
racismo é compreendido aqui como fenômeno que desumaniza, que nega a dignidade
a pessoas e a grupos sociais com base na cor da pele, no cabelo, em outras
características físicas ou da origem regional ou cultural. Fenômeno que se
ancora em crenças, valores e ações e que sistematiza, perpetua, se renova
continuamente e marca estruturalmente a distribuição desigual de acesso a
oportunidades, a recursos, a informações, a atenção e a poder no cotidiano, na
sociedade, nas instituições e nas políticas de Estado.
Os
contextos nacional e internacional vêm sendo caracterizados pelo crescimento da
força política de grupos ultraconservadores que atacam os direitos humanos, em
grande parte, referenciados em uma noção de branquitude acrítica –
justificadora das hierarquias raciais, defensora da supremacia branca e
propagadora do ódio contra os mais pobres e os considerados diferentes. Diante
desse quadro, é urgente apostar com mais intensidade na construção de processos
que possibilitem: enfrentar e sustentar desconfortáveis conversas,
desestabilizar e reinventar perspectivas, promover aprendizagens e reeducar
relações raciais, repactuando novas bases para a confiança e alianças
políticas, que resultem em ações transformadoras mais articuladas e efetivas.
Processos
que, ao mesmo tempo em que afirmem o lugar dos movimentos negros e indígenas
como protagonistas históricos da luta antirracista e da ampliação da noção
conflitiva de direitos humanos, coloquem em xeque a perspectiva de que o
racismo é um problema das pessoas negras, indígenas e de outros grupos sociais
discriminados e impliquem de fato pessoas brancas e instituições a assumirem
responsabilidades como sujeitos de tensionamento e da transformação das
relações raciais, indo além da convocação ao apoio, à solidariedade e à luta
política “das outras e dos outros”.
Meu
lugar de fala é de uma mulher branca, feminista, educadora, pesquisadora e
ativista que busca se construir há muitos anos como um sujeito antirracista.
Das dores, das dúvidas, das contradições, das descobertas, das reflexões e
potencias, da experiência política desse tenso lugar este artigo se nutre,
assim como do diálogo com autoras e autores negros e brancos que refletem o
fenômeno do racismo e, em especial, o lugar da branquitude – da identidade racial
branca – na manutenção de uma ordem racista.
Artigo
publicado originalmente no Geledés. Clique aqui e confira o texto completo.
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Denise Carreira – Brasil
Denise
Carreira é mestre e doutora em educação pela Universidade de São Paulo. Integra
o colegiado de organização da Ação Educativa e da Plataforma DHESCA. Feminista,
foi coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Relatora
Nacional para o Direito Humano à Educação. A convite do Fundo Malala, integra a
Rede Internacional Gulmakai, de defensoras do direito à educação de meninas e
mulheres. Sobre a agenda racial, integrou o Grupo Interministerial que elaborou
documento preliminar do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes
Curriculares Nacionais de Educação das Relações Étnico-Raciais e é coautora das
publicações Indicadores da Qualidade na Educação: Relações Raciais na Escola, o
Ministério Público e a Igualdade Étnico-Racial na Educação, entre outras.
contato:
denisecarreira2@gmail.com
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