Dramas insepultos do passado comprometem amadurecimento democrático e perpetuam a violência estatal. (FOTO/CEMDP). |
Na
próxima segunda-feira, 1º de abril, o golpe de 1964, que instalou por mais de
duas décadas uma ditadura civil-militar no Brasil completa 55 anos. Para marcar
a data, entidades da sociedade civil organizam uma série de eventos que
relembram as atrocidades cometidas naquele período.
Organizações
da sociedade civil esperam adesão ainda maior da população aos atos após
polêmica criada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que autorizou os quartéis
a celebrar o golpe que derrubou João Goulart em 31 de março, apesar de as
próprias Forças Armadas sugerirem comedimento. Durante a semana, a hashtag
#DitaduraNuncaMais figurou entre as mais comentadas do Twitter, com mensagens
em reação às declarações do presidente.
Literatura
Na
livraria Tapera Taperá, na região central de São Paulo, o debate Literaturas e
Ditaduras conta com a participação da historiadora Adrianna Setemy, professora
da PUC-PR e da UFPR, e do escritor Ricardo Lísias, que, entre outras obras, é
autor do blogue Diário do Fim do Mundo, de análise da conjuntura política
brasileira. Com mediação do jornalista Tomás Chiaverini, o evento será
realizado nesta sexta-feira (29), a partir das 19h.
DOI-Codi
Já
no sábado (30), em São Paulo, ocorrerá o 6º Ato Unificado Ditadura Nunca Mais,
nas dependências do antigo DOI-Codi. O prédio, que fica na Rua Tutoia, zona sul
paulistana, é considerado o maior centro de tortura e extermínio do período da
ditadura. Hoje, abriga uma delegacia policial.
Organizado
pelo Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça (CPMVJ) e o Núcleo de
Preservação da Memória Política (NM), além de relembrar as vítimas do DOI-Codi
– 52 pessoas mortas nas suas dependências ou por seus agentes, segundo a
Comissão Nacional da Verdade (CNV) –, os manifestantes reivindicam que o local
seja transformado em centro de memória.
O
edifício foi tombado em 2014 pelo
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
(Condephaat). Desde então, os movimentos aguardam decisão do governo do estado
para transferir a posse do local da Secretaria da Segurança Pública para a
Secretaria de Cultura, para que então possa vir a ser transformado num museu,
aos moldes do Memorial da Resistência que hoje ocupa o prédio no centro da
cidade onde funcionou o antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social
(Deops).
A
partir das 10h, haverá atividades culturais, com apresentações teatrais, musicais,
slam de poesia, entre outras. "Que
esse lugar de tortura, de mortes e assassinatos, seja convertido num espaço de
cultura e educação em direitos humanos. É um pleito que sempre foi urgente",
afirma o diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurício Politi.
Caminhada do Silêncio
As
atrocidades cometidas pelo Estado contra seus próprios cidadãos não se
restringem a governo ditatoriais. Contra a truculência, a crueldade e
ilegalidades cometidas contra civis, ontem e hoje, a Comissão Especial sobre
Mortos e Desaparecidos Políticos, em parceria com o grupo Tortura Nunca Mais de
Salvador, realizam a 1ª Caminhada do Silêncio.
Com
velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes se
concentram a partir das 16h, na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera, neste
domingo (31), em São Paulo. Após programação cultural, os manifestantes saem em
caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos
Políticos, que fica ao lado do parque. Participantes ficarão em vigília até a
0h do dia 1º.
"Nosso foco sempre foi demonstrar que a
violência e a impunidade do passado reforçam a confiança dos agentes de Estado
nos dias de hoje que podem permanecer com esse tipo de atitude contra
populações vulneráveis. Não pode adotar uma atitude terrorista, de prender
ilegalmente, sumir com as pessoas, não entregar os corpos", diz a
presidenta da comissão, Eugênia Gonzaga, se referindo às violações cometidas
nos tempos da ditadura, mas também àquelas que continuam a serem perpetradas
contra populações vulneráveis nos dias de hoje, como indígenas e jovens negros
nas periferias.
Ela
diz que o Brasil necessita avançar em políticas da chamada Justiça de
Transição, adotada por inúmeros países que passaram por regimes de exceção, que
compreende o reconhecimento dos crimes cometidos, a reconstituição de
documentos históricos destruídos e a identificação de corpos de presos
políticos, dentre outras ações. "A
avaliação é que o país que não cumpre com essas medidas não chega a um
amadurecimento democrático e não consegue eliminar essas mazelas relativas à
violência", diz a procuradora.
Unifesp
Na
segunda-feira (1º), o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) da
Universidade Federal de São Paulo promove o debate Ditadura, Nunca Mais! 55
anos do Golpe Militar no Brasil, com a presença da ex-ministra da secretaria de
Políticas para Mulheres Eleonora Menicucci e do deputado estadual Adriano Diogo
(PT-SP), que presidiu a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva. Participam
também os historiadores Elson Silva (membro da Comissão Nacional da Verdade),
Janaina Teles (da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos) e
Cleber Vieira (diretor da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros -
ABPN).
O
evento ocorrerá a partir das 18h, no auditório da Escola de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (EFLCH) da Unifesp, em Guarulhos, na região metropolitana. (Com
informações da RBA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!