Griots; os contadores de história da África Antiga. (FOTO/Reprodução). |
Contadores
de histórias, mensageiros oficiais, guardiões de tradições milenares: todos
esses termos caracterizam o papel dos Griots, que na África Antiga eram
responsáveis por firmar transações comerciais entre os impérios e comunidades e
passar aos jovens ensinamentos culturais, sendo hoje em dia a prova viva da
força da tradição oral entre os povos africanos.
Utilizando
instrumentos musicais como o Agogô e o Akoting (semelhante ao banjo), os griots
e griottes estavam presentes em inúmeros povos, da África do Sul à Subsaariana,
transitando entre os territórios para firmar tratados comerciais por meio da
fala e também ensinando às crianças de seu povo o uso de plantas medicinais, os
cantos e danças tradicionais e as histórias ancestrais. Diferente da civilização
ocidental, que prioriza a escrita como principal método para transmissão de
conhecimentos e tem historicamente fadado povos sem escrita ao âmbito da
"pré-história", em sociedades de tradição oral a fala tem um aspecto
milenar e sagrado, e deve-se refletir profundamente antes de pronunciar algo,
pois cada palavra carrega um poder de cura ou de destruição.
Nesse
sentido, os Griots são os guardiões da palavra, responsáveis por transmitir os
mitos, as técnicas e as tradições de geração para geração.
O termo
"griot" tem origem no processo de colonização do continente africano,
sendo a tradução para o francês da palavra portuguesa "criado".
Durante o processo de colonização da costa africana a partir do século XIV, com
a progressiva construção de fortes portugueses que funcionavam como entrepostos
comerciais, o Reino de Portugal realizava comércio com Reinos africanos como
Kongo, Mali e Songhai. Esses primeiros contatos já transformavam tanto as
culturas africanas como a nação de Portugal, mas acabaram levando a muitos
reinos à desestruturação cultural. Com o tráfico de escravizados e o processo
de Neocolonização do século XIX, países como França, Bélgica e Alemanha
adentraram os territórios africanos, contribuindo para essa desestruturação.
Entretanto,
até os dias de hoje os Griots seguem em seu papel de guardiões da tradição,
estando presente em muitos lugares da África Ocidental, incluindo Mali, Gâmbia,
Guiné e Senegal, e entre os povos Fula, Hausá, Woolog, Dagomba e entre os
árabes da Mauritânia.
Aqui
no Brasil, podemos ver semelhanças entre os Griots e os repentistas, que também
se utilizam da oralidade para transmitir cultura.
Em
sociedades marcadas pela escravidão, os sujeitos foram historicamente
considerados meros "objetos" sem memória. Nesse sentido, é importante
relembrarmos a importância da memória para esses povos, sendo os Griots a
manifestação viva de uma memória transmitida de geração em geração. (Por Joseane
Pereira, no Aventuras da História).
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