Fernanda Melchionna, Maria do Rosário e Jandira Feghali representam campo progressista na Câmara. (FOTO/Ederson Nunes-CMPA/Agência Câmara). |
A
56ª Legislatura da Câmara Federal terá a maior bancada feminina já eleita. São
77 deputadas federais, ou 15%, de um total de 513 deputados. Em 2014 foram
eleitas 51 mulheres para a Câmara (10%). Segundo estudo do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), apenas três estados não
elegeram mulheres: Amazonas, Maranhão e Sergipe. Entre as 77 eleitas, as
novatas são a maioria, 47, e outras 30 foram reeleitas em outubro de 2018.
Apesar
do crescimento da representação feminina na Câmara, a experiente deputada
Jandira Feghali (PCdoB-RJ) aponta um aspecto que caracteriza o Congresso
Nacional mais conservador eleito desde a redemocratização do país nos anos 80.
“Em termos numéricos, é a maior bancada
feminina que o Congresso já teve, principalmente na Câmara. Agora,
qualitativamente, diria que temos problemas. A extrema-direita e a direita
cresceram e as mulheres desse campo também.”
Esse
quadro não promete que as pautas feministas tenham apoio semelhante ao
demonstrado na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, quando a atuação
articulada e unificada das mulheres (o chamado lobby ou bancada do batom)
redundou em inúmeras conquistas inseridas na Constituição, como licença maternidade
de 120 dias, proibição de discriminação em razão do sexo, plena igualdade entre
homens e mulheres, entre outras, embora muitos direitos da Constituição
permaneçam até hoje sem regulamentação.
“Grandes conquistas no texto constitucional
se deram pela atuação suprapartidária e muito articulada com o movimento social
feminista”, diz Jandira. Ao longo do tempo, outras conquistas foram sendo
obtidas dentro do Congresso. “Isso em várias pautas, inclusive na pauta da
violência, como a Lei Maria da Penha (2006) e a tipificação do feminicídio
(2015).”
Já
no Congresso atual, é a primeira vez que as mulheres podem não estar unidas em
torno de temas fundamentais ao feminismo em qualquer país democrático,
principalmente considerando que estamos no século 21, como o direito ao aborto
e o aumento da participação feminina na política.
“Embora a maioria da bancada feminina
certamente vá atuar em conjunto nas pautas centrais e principais das mulheres,
temo que não tenhamos uma bancada unificada, e haverá deputadas atuando contra
as próprias mulheres e contra uma agenda única”, diz Jandira.
“Essas nem sequer concordam com os termos
feminista ou feminicídio. Acham que isso não existe, acham que homicídio de
mulheres é igual a qualquer homicídio, e são contra as conquistas que já
tivemos.” Para a deputada do PCdoB, porém, há condições de unificar as
mulheres pelo menos em alguns pontos convergentes, como assédio ou violência
contra crianças, pedofilia, creche e, talvez, acesso à educação.
“Mas nem todo mundo pensa igual em relação à
educação. Tem a ‘escola sem partido’ e algumas mulheres não vão combater a
violência contra a mulher na escola. Vai haver mulheres contra temas basilares,
na luta contra o preconceito e pautas que são óbvias no século 21”.
Novata
na Câmara dos Deputados, ex-vereadora em Porto Alegre, a deputada Fernanda
Melchionna (Psol-RS) adverte que “não
basta ser mulher” no atual contexto de luta por direitos, quando não só o
Congresso é conservador, mas o país é governado por Jair Bolsonaro, cuja
ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou
nesta sexta-feira: “Vamos ensinar nossos
meninos na escola a levar flores para as meninas, por que não? A abrir porta do
carro para a mulher, por que não?”
“O que a gente quer é igualdade e respeito,
lutar por políticas públicas para efetivar a Lei Maria da Penha, combater a
cultura do estupro, da violência e do ódio, que é estimulada por frases que
Bolsonaro usou a vida inteira contra as mulheres, como a barbaridade dirigida à
Maria do Rosário, que são combustível para a violência”, diz Fernanda.
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