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A antropóloga e professora Josyanne Gomes é colunista do Blog Negro Nicolau. |
“E daí? ” Quem se importa com trocadilhos em plena era da internet não é mesmo. Afinal, “isso daí é só uma gripezinha”, mas será que é gripe mesmo? Os dados nos dizem o contrário, hoje, aos vinte e cinco de maio do ano de dois mil e vinte, o Brasil ultrapassa os Estados Unidos, em casos de mortes pela Covid-19 e se transforma no epicentro mundial dessa epidemia que enfrentamos.
Contudo, nós vivenciamos tantas outras crises
também. Enfrentamos a epidemia das fake News, da informação de má fé e da
tentativa de lavagem cerebral. De modo, que pairamos num dilema existencial
crucial do nosso tempo e no nosso país, se informar e enfartar de tanta raiva
vendo tamanho caos político que o Brasil lida, ou, fechar os olhos e agir como
se estivesse tudo numa boa para só assim, preservar a saúde mental?
São questões para serem pensadas, assim como
tantas outras, tais quais: políticas de saúde pública, saneamento básico,
segurança da população vulnerável socialmente, habitação para a população que
realmente necessita entre tantas mais políticas.
Em contra partida, o que temos? Um (DES)
governo que mais parece um tirano, cruel e que não mede sequer suas palavras,
imagina só um líder de um país ser questionado sobre um problema de ordem mundial
e se posicionar com desdém e menosprezo? Não precisam imaginar, infelizmente
isso é real e oficial, nosso país é (des) governado por um homem, que diga-se
de passagem, não é louco e sabe muito bem a proporção e dimensão do alcance de
suas falas e discursos.
Não é à toa, nem por acaso, que o tal do
Bolsonaro, anda por aí cuspindo aquelas asneiras que ele despeja a torto e a
direita. Ele sabe, melhor do que ninguém que essa postura esdruxula dele
reflete em mídia, holofotes e ganha projeção a nível global. Até porque como o
próprio disse em alto e bom tom, ele não é coveiro, sabe muito bem do lugar de
onde fala e para quem ele fala e é por isto mesmo que insiste em proliferar
todas aquelas palavras. Para uns de mal gosto, e que mal gosto hein, para outros
um mito.
Por um lado, esse discurso dele infla o ego
daqueles que pouco se importam com a dor alheia, e enxergam nas tão famosas
lives uma oportunidade para saírem do tédio, de notícias que consideram
falsificadas. O Brasil, para mim, atualmente está dividido entre aqueles que
vivem ou acompanham o luto das famílias que perderam seus entes queridos e, do
outro lado aqueles que se esbajam em carne viva e fazem seus churrascos regados
a muita cerveja e músicas da moda.
Esse texto poderia se chamar também ENTRE
CARNE VIVA E CARNES MORTAS. Porque é isso que vemos todos os dias, nos jornais,
redes sociais, internet de um modo geral, acompanhamos corpos (carnes que eram
vivas) serem jogados em valas como carnes mortas, sem sentido algum, e a noite
assamos carne (que também era viva) para se deliciar ao som de lives, que mais
parecem comemorar as carnes mortas do que passar alguma mensagem de apoio e
conscientização sobre tudo que passamos hoje.
O Brasil é exatamente isso que a gente
enxerga atualmente, nem mais, nem menos, está na medida. Não nos resta comparar
com outras nações, porque nosso contexto social e cultural é totalmente
distinto dos processos civilizatórios de outros países, assim como não nos cabe
também buscar respostas ou saídas para essa pandemia, a nível nacional.
Então, o que faremos? Vamos continuar em
casa, quem puder é obvio, vamos nos cuidar e cuidar uns dos outros e, refletir
sobre de qual lado temos ficado, se do lado das lives, dos lutos, ou, ainda em
cima dos muros.
Abraços virtuais da Flor do Cariri!
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Josyanne Gomes é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Regional do Cariri (URCA), mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora e colunista do Blog Negro Nicolau.
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