Ato em defesa da história negra pede saída de Sérgio Camargo da Fundação Palmares

 

(FOTO/ FCP).

A saída imediata de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Cultural Palmares (FCP) é a principal reivindicação do ato virtual que aconteceu na noite da quinta-feira (24), com a participação de ex-presidentes da fundação, ex-ministros da Cultura, parlamentares e movimentos organizados contra o racismo.

O ato foi acompanhado do lançamento de um manifesto contra o expurgo de 54% do acervo de livros da Palmares e outras medidas contra a população quilombola promovidas pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Uma parte do Brasil, uma parte de nós é africana. É importante reafirmar essa parte em nós. A criação da Fundação Cultural Palmares foi criada para preservar a nossa história. O que antes era sangue, suor e lágrima, hoje ainda é sangue, suor e lágrimas”, acredita Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura.

O expurgo de livros para supostamente combater o viés ideológico, de acordo com Sérgio Camargo, deve ser seguido também da retirada de obras de artes e documentos históricos da fundação; o que, na opinião de parlamentares, representa um ato de censura, obscurantismo e racismo.

 “A cultura é revolucionária e faz mal aos olhos do capitão do mato a serviço de um governo que nos odeia”, aponta a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).

Já o deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA) acredita que as ações de Camargo à frente da Palmares refletem sobre ele mesmo. “Quem nega a si mesmo dá pena. Ele se auto-anula com esses atos contra a memória da Fundação Palmares”, diz. 

Ao todo, seriam retirados 5.175 livros dos mais diversos autores. “Em 1978, a carta de princípio do MNU definiu como prioridade a defesa do povo negro e da nossa história. E é isso que estamos fazendo hoje, de cabeça erguida, pedindo a saída de Sérgio Camargo”, pontua Iêda Leal, do MNU (Movimento Negro Unificado).

No Brasil, existem mais de 6 mil comunidades quilombolas e nem 60% delas estão certificadas. Entre as atribuições da Fundação Cultural Palmares, o reconhecimento e certificação destes territórios é de grande importância para a preservação da história afro-brasileira. Entretanto, na gestão de Sérgio Camargo foi autorizado o desmatamento dentro de terras quilombolas.

As comunidades quilombolas são fundamentais para a preservação ambiental. Para nós nunca foi fácil. Não acredito que alguém com atos tão cruéis contra o seu povo consiga dormir em paz”, lamenta Antônio Crioulo, da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras e Quilombolas).

O ato virtual foi organizado pela Frente Parlamentar de Incentivo à Leitura da Câmara Federal, pela bancada negra da Câmara Federal, entidades da sociedade civil como a Conaq, Uneafro Brasil, Favelas em Luta e Associação Brasileira de Imprensa e fundações de apoio de sete partidos políticos.

Os ex-presidentes da República José Sarney e Fernando Henrique Cardoso gravaram depoimentos de apoio ao resgate da Fundação Cultural Palmares.

No Rio de Janeiro, uma sentença da 2ª vara federal de São Gonçalo, em caráter liminar, proibiu que a Fundação mantivesse a decisão de retirar obras do acervo, mesmo que seja para doação. A liminar é em resposta à ação civil pública apresentada pelo coletivo Direito Popular, que é coordenado pelo advogado Paulo Henrique Lima, o Ph Lima. O argumento da ação é que a retirada das obras lesa o patrimônio público. A decisão judicial estabelece pena de multa pessoal de R$ 500 pela doação de cada item do acervo e intima Camargo a oferecer explicações sobre os atos em 15 dias.

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Com informações do Alma Preta.

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