Desqualificar
as lutas contra as opressões não é nem de esquerda nem marxista
“Por
um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente
livres”
(Rosa Luxemburgo)
Os
fundamentos do marxismo são a emancipação humana, em todas suas dimensões. Não
é preciso mencionar as intuições de Engels ou o feminismo socialista nascido no
século 19. Nem mesmo os avanços que a revolução russa promoveu em seus primeiros
anos.
Se
parte importante da esquerda socialista virou “careta” e conservadora ao longo
do século XX, esse desvio conservador já vem sendo consertado desde os anos
1960. Igualdade de gênero, igualdade racial, liberdades sexuais, liberdades
democráticas são elementos de qualquer programa de esquerda, socialista,
marxista, comunista, revolucionário há muitos anos. Ou deveriam ser.
Ledo
engano. O machismo economicista heterossexual elitista-branco segue firme e
forte entre intelectuais da esquerda. Ávidos por desqualificar as lutas contra
as opressões, como se a classe operária fosse uma massa homogênea de homens
brancos heterossexuais de meia idade – esses escribas não param de menosprezar
tudo que não seja o sindicalismo clássico.
A
primeira operação deles é rotular a luta das mulheres, do povo negro, das LGBT
como ‘identitárias’. Coisa menor, quase ridícula. Não se dão ao trabalho de
conhecer as diferenças políticas que existem no interior dos movimentos.
Tratam, por exemplo, o feminismo como um conjunto homogêneo – algo primário.
Esses
“intelectuais”, além de não incorporarem a dimensão emancipatória da luta
socialista – e entendendo o capitalismo como um sistema articulado de opressões
sobrepostas – nem se dão ao trabalho de diferenciar as perspectivas liberais
das perspectivas socialistas. Descartam tudo.
Sugestão
para essa turma: leiam autoras feministas. Resgatem a história da luta das
mulheres, da luta anti-colonial, da luta das minorias sexuais. Não há
socialismo sem feminismo. Nem sem igualdade racial.
Como
militante LGBT e comunista eu tenho que enfrentar simultaneamente tanto os “neoliberais progressistas” quanto a “esquerda conservadora”.
Para começar: evitem os termos pauta
identitária ou luta identitária
Quando
alguém de esquerda usa essa palavra geralmente quer desqualificar os movimentos
e lutas das LGBT, mulheres, negros.
Não
confundam a crítica aos limites do liberalismo progressista com a legitimidade
das lutas contra as opressões estruturais.
Enfrentar
o capitalismo patriarcal-racista-cisheteronormativo não é coisa menor, ou
apenas reivindicação por representação, que ignoraria a luta de classes. Os
liberais é que se limitam tais demandas à dimensão do “reconhecimento”. Os
socialistas batalham por reconhecimento, igualdade material e participação
política.
Então,
não sejam como José Pacheco Pereira , ou como um certo escritor baiano que me
recuso a divulgar o nome, nem deem uma de Mark Lilla. E tantos outros que é
melhor nem citar. Olhem para o Chile, para o protagonismo das mulheres jovens.
Na dúvida, Nancy Fraser resolve. Ou voltem à Rosa Luxemburgo. Uma esquerda
marxista necessariamente é feminista, libertária, antirracista – tem como
horizonte a própria emancipação humana. Desde sempre.
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Por Julian Rodrigues (professor e jornalista, ativista LGBTI e de Direitos Humanos), no Instituto Búzios.
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