Carente é o teu olhar


Por Alexandre Lucas, Colunista

Existe uma construção que estigmatiza recortes espaciais e populações, e ao mesmo tempo aniquila a capacidade organizativa e política dos sujeitos que é o discurso hegemônico da "comunidade carente”.

Esse discurso é reproduzido tanto pelas organizações da sociedade civil, do poder público e de grupos de voluntários ou similares. Ao assumir na ação essa narrativa, elege também os sujeitos sociais como incapazes e desobrigados de constituir seus espaços de luta e conquista nos seus lugares de moradia.      

O lugar do carente é o lugar do coitado, na visão do corpo estranho que se vê como salvador. Historicamente nos ensinaram a propor migalhas para os que vivem excluídos do direito à cidade e das condições de manutenção digna da vida humana.

Nesta lógica, a caridade sistematizada é violência disfarçada de solidariedade e ao mesmo tempo que não soluciona, distância da resolutividade social, criando um círculo vicioso que ao longo dos anos serviu para alimentar o revezamento e a manutenção do poder e afastar as populações marginalizadas dos centros de decisão.   

Descontruir essa compreensão é um desafio constante que deve pautar a agenda dos movimentos sociais de base comunitária e de luta pelo direito à cidade. Se contrapor ao discurso de “comunidade carente” é apresentar outra alternativa de olhar que perpassa pela compreensão do como é produzida a cidade e a sua desigualdade.

O exercício pedagógico e político coloca em evidência duas narrativas: Uma que amplia a estigmatização e enfraquece a luta popular, deslegitima a organização pelo direito à cidade e potencializa a desesperança, a qual podemos chamar de comunidade carente e do outro lado podemos ter o seu contraponto que reconhece organizações, relações de poder, enxerga possibilidades de redução de danos, consegue perceber abundância, poesia e arranjos criativos e que podemos denominar de comunidades potentes.

Comunidades potentes é a narrativa que devemos abraçar enquanto perspectiva de entendimento de que os sujeitos nos seus lugares é que devem ocupar os espaços de decisão para construir novas realidades e uma fábrica de sonhos reais.

É evidente que quando falamos de comunidade potente falamos de comunidades que se interligam às outras vozes e se tornam teias e conexões com espacialidades e territórios mais amplos.           

É tempo de substituir os antônimos políticos para que as comunidades consigam se perceber e se construir como potências de esperanças coletivas.


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