Como forma de recontar histórias esquecidas ou que não são contadas, a artista curitibana, Renata Castro, promove representatividade por meio de modelagem 3D, através do estudo de anatomia humana, representando figuras negras históricas. As imagens são divulgadas por meio de um perfil no Instagram e também do site Artstation.
Formada
em design gráfico pela Universidade Positivo, Renata conta que sempre percebeu
a falta de representação negra dentro de seu contexto. “Aquela sensação de
repetição, onde o preto é sempre coadjuvante e que suas escolhas não têm peso”.
Segundo ela, esse campo possui pouca representação da cultura negra e também é
pouco ocupado por pessoas negras. “Especificamente falando em modelagem 3D, eu
mesma, na minha jornada até aqui, tive a sorte de esbarrar com poucos
modeladores negros – que consigo contar nos dedos, literalmente. Ainda
precisamos de mais acessibilidade, divulgação, inclusão, apoio (de outros
artistas, principalmente), para que o mercado se torne mais equilibrado e
igualmente qualificado”, conta ela.
A
artista fala ainda que o design é uma ferramenta que pode alcançar rapidamente
qualquer público, por ser visual, é melhor absorvida e melhor divulgada entre
as pessoas. A artista fala ao Notícia Preta que, após ver um episódio de
“Buenas Ideias”, canal no YouTube focado em contar trechos de momentos
históricos importantes no Brasil, ficou surpresa em como não tinha ouvido falar
de tal história. “Em um dos episódios, o historiador Eduardo Bueno contou sobre
a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, em 1910. Um homem negro,
cansado das punições por tortura ainda praticados dentro da marinha, decidiu se
rebelar e lutar pelo fim dos castigos desumanos que sofriam na corporação. […]
Era uma história que eu ainda não tinha ouvido falar e, se eu, sendo negra, já
não conhecia, imagina o restante das pessoas”, disse ela.
“
Espero poder inspirar outros artistas negros e negras que estejam querendo se encontrar na arte
“Eu
pensei: ‘preciso fazer algo para que essas histórias cheguem na maior
quantidade de pessoas possível. Todos tem que saber quem lutou pelos direitos
do povo negro e de alguma forma contribuiu à nossa história’”, diz a artista.
Sobre seu processo de produção, Renata conta que faz uma pesquisa aprofundada
sobre a história dessas personalidades, para compor detalhes da individualidade
da pessoa, trazendo maior fidelidade à obra. “Eu monto meu material de referência com fotos, registros históricos,
etc., começo o modelo com base nesses arquivos e ao final, coloco expressões,
detalhes, jeitos e trejeitos que ajudem a chegar nessa fidelidade”, detalha
Renata Castro.
Ela
conta que pretende contar histórias de pessoas pretas do mundo todo, mas sempre
focando no Brasil. “Meu próximo modelo será a Zacimba Gaba, uma princesa
guerreira angolana que ajudou muito na luta a favor da liberdade de pessoas
escravizadas, foi tida como líder em batalhas de libertação e como refúgio para
os desamparados. Outros nomes como Harriet Tubman, Achille Mbembe e James
Baldwin vem em seguida, sendo indispensáveis, como todos os outros, para compor
a história do nosso povo”, completa ela.
Renata
finaliza contando que a ideia é espalhar essas histórias e envolver outras
pessoas. “Incentivá-las a conhecer mais,
a procurar mais sobre histórias de negros e negras e não deixar que ninguém
diga o contrário, muito menos deixá-las guardadas na gaveta, como um dia o lado
opressor quis. Incentivar também o compartilhamento e reconhecimento dessas
pessoas. É inadmissível que essa parte da nossa história se apague”,
conclui.
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Com informações do Notícia Preta.
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