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(FOTO/ Marcello Casal Jr./ Agência Brasil). |
O Programa Nacional do Livro Didático (PNDL) é responsável pela regulamentação e distribuição de livros didáticos no Brasil. A nova proposta do edital para publicação de livros didáticos até 2023 exige "promoção positiva da imagem do Brasil e da amizade entre os povos", além da "promoção de valores valores cívicos, como respeito, patriotismo, cooperação e honestidade".
No
edital divulgado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE),
vinculado ao Ministério da Educação (MEC), o texto substitui em quatro linhas o
que antes era especificado em dez tópicos e levava em consideração questões
raciais, de gênero, xenofobia, LGBTfobia, sexismo, promoção da diversidade e
respeito à mulher no Brasil.
Considerado
um facilitador da aprendizagem, o programa contempla 140 mil escolas e cerca de
40 milhões de estudantes a partir da publicação dos livros, desde a educação
infantil até o ensino médio, e funciona como nivelador de conteúdo dos livros
didáticos. Na edição de 2021, que vale por quatro anos, foram retiradas as
exigências que proibiam conteúdos racistas, de estereótipo de gênero, de
violência contra a mulher e LGBTfóbicas.
O
professor de sociologia Rogério Souza conta que o programa permitiu que a
população de classe mais baixa tivesse acesso aos livros. “Durante muito tempo, o conhecimento historicamente acumulado ficou
concentrado em espaços como universidades e bibliotecas. O PNLD democratiza o
acesso a conhecimentos e saberes sistematizados que, somando-se às vivências de
estudantes, cria condições para a concretização do processo de ensino
aprendizagem”, explicao educador do Instituto Federal de São Paulo.
“Há uma nítida tentativa de reestruturar as
identidades dos grupos e anular conquistas dos últimos 30 anos. O novo edital
inviabiliza questões específicas de grupos marginalizados e reforça a
idealização de uma falsa democracia racial brasileira”, analisa o sociólogo
sobre as mudanças feitas no programa.
Retrocesso ao longo dos anos
O
PNLD sofreu diversas alterações, entre elas, a inclusão de pautas ligadas à
temática racial no país, resultado da pressão feita por movimentos negros em
1987. Na época, o programa era responsável pela regulamentação e distribuição
de 60 milhões de livros didáticos para instituições de ensino de todo o país.
É
prevista desde 2003 a obrigatoriedade de ensino da história e cultura
afro-brasileira e indígena em livros didáticos, mas eram poucas as
representações de pessoas não-brancas nos materiais disponibilizados pelo
governo federal.
O
professor Rogério lembra que em 2017 o governo publicou decreto que modificou o
nome do programa, os materiais distribuídos, a forma de avaliação e a duração
dos ciclos das obras. O educador aponta que o novo edital se mantém no mesmo
sentido. “Essa contextualização é
importante porque as ações do governo Bolsonaro continuam a política
educacional iniciada no governo Temer”, destaca.
"Que país pretendemos deixar para
as próximas gerações?"
A
professora, Karina Oliveira, mestranda em Estudos Culturais pela USP
(Universidade de São Paulo), sinaliza as consequências das alterações. "Pode resultar em uma geração que não vai ter
acesso a pautas importantes sobre diversidade. Além disso, é uma mudança que
fortalece a violência contra esses grupos", pondera.
Karina
enxerga na sociedade civil um agente importante para que o PNLD volte a
promover o respeito à diversidade e às subjetividades da população brasileira.
“Assim como houve pressão dos movimentos
sociais nos anos 80, é importante pressionar para que novas mudanças aconteçam
nos próximos anos” sugere.
"Que país pretendemos deixar para as próximas
gerações?", questiona o siciólogo Rogério, que também compreende a atuação
importante da população. "Precisamos fortalecer e reincorporar estratégias
de desconstrução de narrativas que reafirmam o racismo estrutural",
conclui.
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Com informações do Alma Preta Jornalismo.
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