Quando alguém (esteja investido em cargos eletivos ou não) deseja suprimir o poder de organização, mobilização e de luta do povo, não pensa duas vezes em destruir duas áreas: Cultura e Educação.
O
desmonte da cultura, a bem verdade, não começou com Bolsoanro (sem partido),
mas está sendo aprofundada com ele. A extinção da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir) não ocorreu com Bolsonaro. No entanto, as
consequências danosas à população negra estão sendo acentuadas no seu governo.
Basta ver o que ocorre com a Fundação Palmares, onde o presidente nega constantemente
a existência do racismo, o que contraria a História. Ele se posiciona contra
todas as políticas públicas/ações afirmativas que visem promover uma reparação
histórica, além de buscar construir uma sociedade com equidade.
De
Michel Temer que assumiu a presidência a partir de um golpe jurídico-parlamentar-midiático
a Jair Bolsonaro, a escalada de perca de direitos, principalmente da população
mais vulnerável - negros, mulheres (negras sobretudo), lgbts, indígenas -, só
tem crescido. A violência física e psicológica tem aparecido com mais
frequência e aqueles/as que as praticam fazem questão de demonstrá-la.
O
Brasil dos últimos quatro anos piorou consideravelmente, pois quem mais deveria
dar exemplo na criação de políticas públicas para a construção da equidade, faz
justamente o contrário. Viram-se representados/as nele. E, portanto, se o
representante do executivo federal e seus ministros praticam, eles também
podem. Essa é a música que vem sendo tocada no Brasil, principalmente a partir
de 2018.
A
intenção do governo federal é acabar com a participação social e com o poder de
organização e mobilização social e para isso tenta destruir tudo que contribui
para a análise crítica da sociedade, para o fortalecimento da identidade e da
liberdade. Foi assim com a extinção do Ministério da Cultura (MinC) em 2016 e
agora rebaixado a condição de secretaria especial. Mas só rebaixar não é o
suficiente, é preciso também proibir filmes e demais formas de manifestações artísticas que promovam discussões sobre homofobia, racismo e machismo, por
exemplo.
Eu sempre gosto de afirmar que a cultura é símbolo do processo de redemocratização do país, pois ganhou status de ministério em 1985.
A
aversão desse governo a população negra salta aos olhos. Nenhum negro ou negra
para os ministérios. Ao contrário, em vez de diversidade, militarizou os
cargos. Mas só a falta de representatividade não basta, é preciso de igual
modo, alimentar ainda mais o preconceito, a discriminação e o racismo. Quem não
se lembra de quando em 2017 durante uma palestra no Clube Hebraica no Rio de
Janeiro, Bolsonaro proferiu a frase “fui
num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem para
procriador ele serve mais”, ou “que
seus filhos não ’correm risco’ de namorar negras ou virar gays porque foram ‘muito
bem educados’’”, ainda em 2020 e já no cargo de presidente quando disse que
um deputado negro por demorar a nascer “deu
uma queimadinha”?
O
que elenquei aqui é apenas uma parte da política da segregação, mas o pouco
citado só vem a reforçar a política elitista, racista, machista e de desmonte cultural desse
governo
Portanto,
quem destrói a cultura acaba de certa forma, matando os focos de resistências,
de luta e de poder de organização popular. O que deveria ser o contrário,
porque a cultura é um dos principais laços do fortalecimento da identidade,
seja ela individual ou coletiva. Mas certamente não está sendo válida para
algumas entidades culturais. É possível perceber a omissão de grande parte delas,
que em nenhum momento teceu crítica a essa barbárie que o país passa. Há um
silêncio estarrecedor em muitas delas.
Algumas
ações individuais e pontuais vêm acontecendo no sentido de se contrapor a essa
política de aversão à cultura, mas não são suficientes.
A
pandemia não é a culpada pela desmobilização, uma vez que o desmonte da cultura
começou em 2016.
Que
os movimentos negros, indígenas, LGBT e de mulheres não se deixem contaminar
por esse doentio silêncio. Que as demais instituições culturais possam acordar
desse sono profundo para que a resistência continue sendo aflorada.
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