Não há dúvida, não há não ditos, não há meias palavras, eles estão em guerra contra nós, por Sônia Meneses


Professora Sônia Meneses. (FOTO/ Reprodução).

Estado da Morte

O que vamos fazer?

Será que iremos assistir inertes o desmonte do estado democrático de direito?

Será que vamos apenas lamentar as notícias tristes, os escárnios, as indignidades que nos violentam todos os dias? Como podemos aceitar todas essas iniquidades, apenas chocados de nossas cadeiras?

Estamos mergulhados em um estado autoritário, ou alguém duvida?

Como alguém pode imaginar que nesse país ainda predomina um estado de direito saudável quando pessoas estão sendo presas sem provas? Quando se censura peças de teatros, eventos acadêmicos? Quando se coloca um negador, odiador do movimento negro para presidir a instituição importante de defesa das demandas do movimento negro do país?

Quando se retira o nome do maior educador do país da plataforma que levava seu nome. Odeiam Paulo Freire simplesmente porque ele pensou uma educação inclusiva, crítica, uma pedagogia da autonomia. Odeiam professores porque na maioria das vezes inquietam o pensamento, ensinam a perguntar.

Não há dúvida, não há não ditos, não há meias palavras, eles estão em guerra contra nós. Estão em guerra contra todos que são pobres, negros, mulheres que questionam sua condição, professores, contra as universidades, contra a arte, a informação, contra qualquer um que tenha a coragem de rasgar esse véu nefasto que deitou-se sobre esse país.

Como pode qualquer professor ou educador defender tal estado de coisas? O adiamento das matrículas dos mestrados profissionais, um dos programas mais bem-sucedidos de formação de professor que o estado brasileiro já criou, é uma aviltante prova desse projeto de destruição. O ofício que nos foi enviado fala especialmente das 3000 bolsas dos mestrados. Aí está o fundo de tudo. Para esses que aí estão, isto é um gasto inútil. Não se importam, porque o estado brasileiro virou totalmente seu foco, agora trabalha escancaradamente para os donos de botiques da barra da tijuca, para grilheiros, latifundiários, donos de igrejas e outras abominações. Estado da morte, mata nosso presente, mas sobretudo, aniquila nosso futuro.
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Sônia Meneses é Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professora adjunta da Universidade Regional do Cariri (URCA) e organizadora da obra História, memória e direitos.

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