João Cândido, o Almirante Negro. (FOTO/ Reprodução). |
No
dia 06 de dezembro de 1969 partiu para as esferas mais altas o ex marinheiro
João Cândido, que liderou nos primeiros anos do Século XX, a revolta da chibata
e por isso mesmo ficou conhecido como o Almirante negro e o porta voz dos
Direitos Humanos no Brasil.
Quem foi João Cândido?
Na
fazenda encruzilhada, hoje Município de Encruzilhada do Sul, distante de sua
Capital, Porto Alegre 170 Km, nasceu o menino João Cândido Felisberto, no dia 2
de junho de 1880, filho de escravos. As condições econômicas não lhe deram o
direito ao estudo, mas era dotado de uma inteligência e liderança imensas.
Ingressou na Marinha brasileira ainda adolescente e aprendeu a dominar todos os
instrumentos a bordo.
A
Marinha o enviou para a Inglaterra para aprender a operar com o navio
Encouraçado Minas gerais que fora fabricado pela Inglaterra. De lá ele trouxe a
ideia de pedir ao governo para acabar com os castigos da chibata que eram aplicados
nos marujos por alguma indisciplina. Na época o marinheiro João não foi ouvido
e o seu pedido não fora atendido.
O
fato é que os castigos na Marinha seguiram a sua rotina e um certo dia foram dadas
250 chibatadas em um dos marujos, causando indignação nos colegas e por isso
resolveram realizar o levante conhecido como revolta da chibata, tendo João
Cândido como líder. Mais de dois mil marinheiros, pardos e negros, assumiram o
comando dos quatro navios de guerra: Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro,
aos gritos de “Viva a liberdade” e “Abaixo a Chibata”. Levantaram as bandeiras
vermelhas e apontaram os canhões para a Cidade do Rio de Janeiro, ameaçando
bombardearem a Cidade que era também a Capital do País na época, caso não cumprissem
as suas reivindicações. Os navios estavam parados na Baia de Guanabara. O
Presidente Hermes da Fonseca fez um acordo com os marinheiros garantindo
cumprir com os direitos que eles lutavam: Melhores salários, anistia aos
revoltosos, o fim dos castigos na Marinha. Os marinheiros acabaram a revolta
que teve a duração de cinco dias e o Presidente não cumpriu a sua palavra.
Mandou prender os revoltosos e expulsar outros tantos da Marinha.
A
Revolta da Chibata aconteceu de 2 a 27 de novembro de 1910. Em 2020 completará
110 anos.
"Não
podíamos admitir que, na Marinha do Brasil, um homem ainda tirasse a camisa
para ser chibatado por outro homem", declarou João Cândido, em depoimento
ao Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio, em março de 1968...
Quando João
Cândido saiu da prisão, para sobreviver precisou vender peixes na Praça XV.
Ficou esquecido na História como ficam as pessoas que lutam e enfrentam as
forças poderosas no Brasil. Só voltou para as noticias e debates por causa do
Jornalista Edmar Morel, do Jornal O Globo que escreveu a sua biografia num
livro intitulado “A Revolta da chibata” (1959).
João Cândido
foi homenageado com a música “Mestre Sala dos Mares” composta por Aldir Blanc e
João Bosco e interpretada por Elis Regina.
João
Cândido faleceu pobre, viveu seus últimos dias na Baixada Fluminense, em São
João do Meriti, numa rua totalmente insalubre. A casa foi cedida pelo Ex
Governador Roberto Silveira e recebia uma pensão que fora concedida por Leonel
Brizola, quando governou o Rio Grande do Sul. Foi casado três vezes e deixou onze filhos.
No
dia de seu enterro, policiais à paisana fotografaram o cortejo para saberem
quem compareceu. João foi um incômodo para a sociedade elitista e militar.
A
cada dia 10 de dezembro, data em que se comemora a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, nós não podemos esquecer a memória do líder João Cândido e a
sua importância para os Direitos Humanos do Brasil.
O
Almirante negro
A
baia de Guanabara sabe de ti
Ela
guarda tua história
Os
canhões apontados e a bandeira vermelha levantada
“Não
à Chibata”, eis aí o teu grito e de todos os marujos
Que
se alimentavam de justiça
João
sem medo
Cheio
de humanidade
E de
humanos direitos
Nós
não te esqueceremos
Mestre
dos mares brasis
Fonte:
A conturbada vida de João Cândido, líder da Revolta da Chibata preso, expulso da Marinha e internado como louco
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Fátima Teles é poeta, escritora com cerca de 5 obras, professora formadora com atuação na Secretaria Municipal de Educação de Brejo Santo, membra da Academia de Letras do Brasil/Seccção Ceará e do Instituto Cultural do Cariri(ICC).
Obrigada pela oportunidade ��
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