O
juiz Emanuel José Matias Guerra, da Justiça Federal do Ceará, aceitou um pedido
de ação popular e determinou a suspensão da nomeação de Sérgio Nascimento de
Camargo como presidente da Fundação Palmares.
A
decisão suspende o ato do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, publicado no
Diário Oficial da União em 27 de de novembro. A Fundação Palmares integra a
Secretaria Especial da Cultura, o antigo Ministério da Cultura, e tem por
objetivo promover políticas públicas em defesa da população negra.
Conforme
o juiz da 18ª Vara Federal, no interior do Ceará, há “diversas publicações” feitas por Sérgio Nascimento que têm o “condão de ofender justamente o público que
deve ser protegido pela Fundação Palmares”.
A
Advocacia-Geral da União disse que ainda não foi notificada da decisão da
Justiça Federal no Ceará. “Contudo, a
instituição já estuda o recurso cabível que irá apresentar com vistas à
manutenção do ato”, afirma a AGU, por meio de nota.
O
advogado Hélio Costa, autor do pedido de suspensão da nomeação, afirmou que a
presidência de Sérgio Nascimento na Fundação Palmares “contraria o interesse público e representa claro desvio de finalidade
do ato administrativo”.
“Não podemos jamais permitir que a fundação
sirva a interesses diversos completamente contrários aos objetivos para os
quais foi criada. Portanto, a referida decisão representa uma vitória ao
movimento negro e, a meu ver, deve ser mantida ao final do processo”,
afirmou o advogado ao G1.
Em
uma publicação feita em rede social antes de ser nomeado para o cargo, Sérgio
Nascimento classificou o racismo no Brasil como “nutella”. “Racismo real existe nos Estados Unidos. A
negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda.”
Sobre
o Dia da Consciência Negra, Sérgio afirmou que o “feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial”.
Ele
disse que a data “causa incalculáveis
perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos
Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o
revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo”.
Reação de instituições
Representantes
de movimentos negros reagiram às afirmações do jornalista Sérgio Nascimento,
logo após a assinatura do ato, na semana passada.
“Ela [a Fundação Palmares] deveria agir pra
defender a cultura afro-brasileira. E, infelizmente, esse senhor ele não veio
pra gerir, ele veio pra função de desconstruir todo o legado que vários negros
e negras construíram”, disse Claudia Vitalino, presidente da Unegro, após a
nomeação de Sérgio para o cargo.
“O movimento negro, ele surge no primeiro
negro que foge da senzala. No primeiro negro que se volta contra a escravidão.
Aqui, surge o movimento negro. Então, o movimento negro vem lá da época de
Zumbi, das Dandaras. Não tem nada a ver com esquerda ou direita”,
acrescentou Silvio Henrique, do Conselho da Igualdade Racial.
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