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Líder indígena Teka Potyguara. (FOTO/ Reprodução/ Video/ Secult Monsenhor Tabosa). |
O município de Monsenhor Tabosa, localizado nos sertões do Ceará, a partir do poder legislativo, entrou para a história do estado e do país ao dar um grande passo para o reconhecimento e valorização das histórias e das culturas indígenas. A Câmara aprovou no último dia 22 de abril e por unanimidade um projeto de lei que reconheceu a língua indígena Nheengatu como cooficial.
Agora,
além do português, o município com 17. 025 habitantes segundo a última
estimativa do IBGE (2016), contará com a Nheengatu como língua. Segundo a líder
indígena Teka Potyguara, da etnia Potyguara, Monsenhor Tabosa se configura como
a primeira cidade da região nordeste que tem esse reconhecimento. Ela destaca a
aprovação como “uma grandeza” e
afirmou que faz mais de “20 anos” que
ela está como uma das pioneiras nessa luta e “que vem trabalhando na revitalização dessa língua” e destacou que “se ela está reconhecida hoje é porque está
há muito tempo no município”.
Segundo
Teka, a comunidade indígena fez nos últimos três anos uma parceria com a
Universidade Federal do Ceará (UFC) que trouxe um professor doutorando indígena
do Amazonas, o Kada Kawa. Conforme vídeo da Secretaria da Cultura do Município,
Teka afirmou que o professor vem ajudando a trabalhar a língua escrita.
“Também já temos dois materiais. Uma cartilha de alfabetização na língua aqui em Monsenhor Tabosa e já estamos terminando um livro na língua (Nheengatu). Isso é de uma grandeza que vocês nem sabem o tamanho desse avanço”, complementou.
Monsenhor
Tabosa está incluído na Terra Indígena “Serra
da Mata” junto aos municípios de Tamboril e Boa Viagem onde há quatro
etnias: Potyguara, Tabajara, Gavião e Tubiba-Tapuya com 28 aldeias e pouco mais
de 4.700 indígenas.
Nheengatu
Os
povos nativos ou tradicionais, denominado posteriormente de indígenas, influenciaram
o modo de vida no Brasil, inclusive na comunicação a partir dos sotaques.
Diversas palavras usadas hoje são de origem dos nativos, mesmo esses povos
tendo sido duramente impactados negativamente a partir do processo de
colonização portuguesa, em que as variações linguísticas foram alvo de
apagamento dos colonizadores/escravizadores.
Antes
da invasão portuguesa, por exemplo, há relatos de que no Brasil tinha cerca de oito
milhões de nativos (indígenas) e falando diferentes línguas. Segundo
pesquisadores e pesquisadores da temática, calcula-se que mais de 50 idiomas e
que tinham como variante o tronco linguístico Tupi, da família Tupi-Guarani. Dentre
essas línguas está o Nheengatu. Ela assim como outras, sofreu com esse processo
de apagamento entre os séculos XV e XVII quando os jesuítas criaram uma “língua geral” para comunicação entre
essas comunidades e os colonizadores e usaram como parâmetro a gramática
portuguesa.
De acordo com a jornalista Ana Freitas em texto publicado para a Revista Babbel, o Nheengatu
era a língua geral mais falada no país, sendo usada na comunicação cotidiana
entre colonizadores, indígenas, escravizados e colonos de origem portuguesa
antes de ser proibida no século XVIII pela coroa portuguesa. Ela destaca ainda
que “a proibição foi um golpe no uso do
nheengatu, mas não o extinguiu completamente. Até 1877, o idioma era mais usado
que o português no Amazonas e no Pará”.
Batizado de nheengatu, tupi para “língua boa”, aqueles e aquelas que falam este idioma tem lutado cotidianamente, a exemplo de líder Teka em Monsenhor Tabosa por seu reconhecimento e por sua revitalização. Um demonstração de apego pelo que lhe identifica.
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