Mulheres negras e indígenas ocupam cargos de poder no governo de Edmilson Rodrigues. (FOTO/ Reprodução/ Alma Preta). |
Mesmo sendo uma capital que historicamente recebeu relevante contribuição populações afroindígenas, Belém tem sido administrada, majoritariamente, por homens brancos. As eleiçõe deste ano mudaram um pouco esse cenário e, pela primeira vez, mulheres indígenas e negras ocupam cargos de poder e protagonismo dentro da admistração pública.
Ouvidora
Geral do Município, Márcia Kambeba, é primeira indígena a fazer parte do alto
escalão da gestão. “Isso representa, sem dúvida, uma maior visibilidade para
nós, indígenas, mostrarmos a nossa forma de fazer política. Sobretudo pensando
no bem comum e oportunizando que as reivindicações da população sejam ouvidas.
Nessa administração do prefeito Edmilson Rodrigues podemos ver a diversidade
feminina de gênero, raça e classe social que retrata a pluralidade do nosso
povo”, analisa Kambeba.
Nascida
no Amazonas, ela é mestre em Geografia, professora convidada da Universidade do
Estado do Pará (UEPA), ativista, compositora, poeta, fotógrafa, atriz,
palestrante e autora de três livros. “Como mulher indígena e ativista, eu não
posso me ausentar da vida política. Porque nós fazemos política todo dia quando
lutamos por nossos direitos e o direito de viver na cidade é importante e
imprescindível. Ser indígena no Brasil de hoje é resistir a todas as formas de
invisibilidade que a sociedade e o Estado nos impõe. Fazer política para nós,
indígenas, não é uma opção e sim uma necessidade. Então, pensando o contexto
histórico de Belém, ser a primeira indígena no primeiro escalão do Governo
Municipal fortalece a nossa luta. Que eu seja a primeira de muitas mulheres e homens
indígenas a ocupar cargos de destaque”, pontua.
Da
etnia Omágua/Kambeba, Márcia foi a primeira indígena candidata a vereadora de
Belém. Ela concorreu nas últimas eleições. Não foi eleita, mas foi convidada a
fazer parte da gestão. “Queremos criar um programa de participação com o povo
‘Ouvidoria em Ação’. Para não só ouvir os problemas, mas pensar juntos as
soluções. Nesse período de pandemia, não podemos atender presencialmente, mas
estamos fazendo por e-mail, telefone e site. Por esses meios podemos receber
reclamações, sugestões e até caso o povo tenha elogios também. Meu maior
desafio é fazer um bom trabalho de forma que o povo se sinta representado junto
ao governo e o governo junto ao povo”, declara a ouvidora.
Servidora
de carreira da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) há 19 anos, Jane
Patrícia Gama assumiu a Coordenadoria de Diversidade Sexual (CDS). Ela é a
primeira mulher negra, ativista, afro-religiosa e lésbica no espaço. “Desde de
muito nova, eu lido com os preconceitos criados pela sociedade, com o preto, a
mulher, a relação homoafetiva. Então, desde cedo, aprendi que devo lutar por
mim e pela minha gente, já sofri retaliações de todos os lados e de todo tipo
de gente. Inclusive do preto que não se aceita, da lésbica que não se reconhece.
Então, receber este cargo para mim foi algo gratificante e o fato de ser
reconhecida me deu mais força e coragem para buscar melhorias por minhas
frentes de luta” desabafa.
Jane
é graduada em Línguas Portuguesa e Espanhola e tem especialização em Políticas
Públicas de Igualdade Racial pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela é
ativista dos movimentos negro, afro-religioso e LGBTQI+, membro do coletivo
Sapato Preto e Yalorixá de Nanã, filha de Mãe Matilde de Oxalá e também
concorreu ao cargo de vereadora das últimas eleições. "Nós sabíamos que
essas eleições seriam diferentes, não só pela cota que cada partido teria que
ter, mas também porque percebemos essa necessidade de estarmos presentes na
esfera política, então quando mulheres se elegem e trabalham para levantar
todas as outras é muito gratificante e necessário para que tenhamos igualdade
de direitos".
Para
Jane, as eleições de 2020 deixaram um saldo muito positivo para a sociedade uma
vez que incluiu novas perpectivas no poder. "Acredito que, com essas
eleições, uma parte de mulheres, negras e LGBTQI’s ganharam a notoriedade para
lutar por melhorias, por nossas vidas porque ainda somos mortos pelas nossas
ideologias, orientações sexuais, pela nossa cor e pelo simples fato de sermos
mulheres. E, inclusive, essas pessoas que ocupam esses cargos na esfera
política serão muito mais cobradas e criticadas se cometerem qualquer erro.
Justamente, por serem mulher, preta e LGBTQI’s” analisa.
A
Secretaria de Saneamento também experimenta uma titularidade diversa. Ivanise
Gasparim (na foto principal) é a primeira negra na cadeira. Ela é graduada em
Direito e Psicanálise, já foi vereadora de Belém. Ivanise acumula experiências
como secretária estadual de Trabalho, Emprego e Renda e secretária municipal de
Economia. Além disso, foi secretária adjunta de Planejamento em São Luís,
coordenadora do projeto de combate à pobreza rural do Instituto Interamericano
de Combate à Pobreza, em Brasília e atuou na Secretaria Nacional de
Reordenamento Agrário.
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