Casa do Ofá será a 1ª instituição de ensino voltada à educação afro-brasileira em Pernambuco

 

(FOTO/ Acervo Pessoal/ Kelma Baptista).

A pedagoga, contadora de histórias e empreendedora social pernambucana Kemla Baptista tenta viabilizar o sonho de abrir um espaço educativo cuja proposta de aprendizagem será dedicada aos ensinamentos da história afro-brasileira, ainda nos primeiros anos da vida da criança. Voltada para o público infantil, a “Casa do Ofá”, vai funcionar no bairro do Varadouro, em Olinda, e promete desconstruir narrativas pedagógicas tradicionais na cidade.

A escolha do nome do projeto tem a ver com o instrumento ‘Ofá’, que reúne o arco e a flecha em um só símbolo. O objeto é conhecido como paramenta do orixá Oxóssi, força da natureza e sábio das matas que, segundo a história contada pelas religiões de matriz africana, alimentava seu povo através da caça. A metáfora ao símbolo, em Olinda, será usada para buscar e alcançar conhecimento ancestral, desde o nome da instituição de ensino.

O espaço é o desdobramento do trabalho que Kemla já protagoniza, o “Caçando Estórias”, um negócio social baseado em tradição oral, literatura, contação de histórias, educação antirracista e mobilização social. Após 12 anos atuando de forma itinerante com este projeto, a empreendedora social espera firmar um espaço para realizar atividades com crianças com uma programação fixa de educação.

Com “A Casa do Ofá” de portas abertas, em breve, a pedagoga visa trabalhar o olhar das crianças sobre as questões sociais e atentar a toda a rede educativa a valorização da construção da identidade preta. Para ela, fomentar uma educação antirracista, de reconstrução denarrativas, é trazer novas formas de olhar o mundo ao redor desde a infância.

Kemla ainda destaca a importância da ruptura da forma de fazer educação no estado como um meio de romper com o passado pautado sob o olhar de subalternidade e escravização do povo negro no estado e a nível nacional.

Não só em Pernambuco, mas no Brasil como um todo, nós temos uma deficiência de espaços educativos alternativos, mas alternativos que dialoguem com as nossas vivências e pertenças pretas. Para mim, ter um espaço como este é uma resposta ao desafio de romper com uma educação hegemônica e branca, principalmente em estados como Pernambuco, que ainda sofre com o histórico colonialista, mas, sei que, para muitos, ainda é novo esse tipo de educação e abordagem”, pondera a pedagoga.

Kemla atenta para à falta de opções de  escolas que fujam das temáticas tradicionais apresentadas em sua maioria, mas que sejam acessíveis ao bolso de todos os tipos de família. Por isso, a casa também receberá gratuitamente crianças e famílias moradoras das comunidades do entorno do sítio histórico de Olinda.

A criança, no momento que ela colocar os pés do portão pra dentro, ela já estará em outro ambiente. Um ambiente onde o racismo, a gordofobia, a misoginia, a lgbtfobia, todas essas fobias sociais e construções negativas da sociedade se revelarão de outra forma. Elas serão barradas. Aqui, estarão crianças de todas as origens. Todo tipo de família será bem recebida”, afirma Kemla.

Para a programação da instituição, já estão previstas atividades como o Ateliê Afro Lúdico do projeto “Caçando Estórias”, com a presença de convidados, encontros de Mediação de Leitura e Musicalização com o “Caçando Estórias”, brincadeiras com o corpo através da Capoeira, aulas de danças africanas, danças populares brasileiras e circo, roda de contos com piquenique no quintal, além de atendimento terapêutico e psicopedagógico para crianças e famílias.

Abertura gradativa

Kemla Baptista conta que, mesmo após um período de reformas na casa histórica que será sede do espaço educativo, terá que aguardar mais um pouco pelos riscos à saúde que a população brasileira ainda enfrenta. As vivências culturais afro-brasileiras para crianças, suas famílias e educadores, terão que esperar o período de vacinação contra a COVID-19, pelo que informa a idealizadora do projeto e só serão iniciadas de forma gradativa.

A pedagoga havia aberto uma vakinha online para angariar fundos para melhor atender, estruturalmente, quem quisesse participar das atividades da casa e relata, na página da campanha, tirar do próprio bolso valores referentes aos custos mensais do imóvel, como aluguel e energia, mesmo no período em que a casa ainda encontra-se fechada.

Com a meta de alcançar o montante de R$4.000,00, recentemente, a campanha ultrapassou o valor, chegando a R$4.875,00. A ação contou com um total de 33 doadores e segue aberta para quem quiser ajudar nos custos mensais do espaço.

Para ajudar, acesso o link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/obra-casa-do-ofa-parte-i

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Por Victor Lacerda, no Alma Preta.

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