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Vereador Emerson. (FOTO/ Roger Cipó). |
Em “O Quilombismo”, livro de 1980 do escritor Abdias Nascimento (1914 - 2011), há a seguinte dedicatória: “Aos jovens negros do Brasil e do mundo, continuidade da luta por um tempo de justiça, liberdade e igualdade onde os crimes do racismo possam jamais se repetir”. Eleito vereador em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo, Emerson Osasco, de 35 anos, traça planos de seguir os ensinamentos de Abdias para combater as desigualdades e fortalecer uma rede de ações afirmativas para a população negra também em outros municípios da região.
“Abdias ensinou com o seu legado que não
basta ser mais um, mas ser um instrumento de mudança. A luta precisa ser mais
perto do povo periférico, onde eu nasci, e não teve movimento negro, mas como
negros e pobres nós nos entedemos como grupo em busca de melhorias e qualidade
de vida”, diz o novo vereador, em entrevista à agência Alma Preta.
Emerson
é programador de computador e no ano passado perdeu um emprego ao participar
ativamente dos protestos “Vidas Negras
Importam” e acusar o crescimento do fascismo e do racismo no país. “Aqui em Osasco a luta está em um momento
delicado. A grande maioria da população periférica ainda não se deu conta do
racismo. Muitas coisas que nos atingem no dia a dia e nos nega oportunidades é
o racismo estrutural”, pontua.
O vereador
eleito pelo partido Rede quer implementar o feriado do 20 de Novembro, dia da
Consciência Negra, na cidade e fiscalizar a implantação da lei 10.630 que
garante o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas. “Outro ponto é o fortalecimento da agenda
cultural preta para que as crianças da nova geração sejam antirracista. É na
base que teremos os efeitos mais impactantes”, detalha.
Emerson
promete ainda abrir as portas do gabinete para denunciar e acompanhar as
investigações de casos de racismo e de injúria racial na cidade. Em Osasco,
40,1% da população se declara negra (a soma de pretos e pardos, 34% e 6,1%,
respectivamente). A média da população negra no estado paulista é de 32%, de
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Voltando
ao livro “O Quilombismo”, que reúne textos do Abdias Nascimento sobre o
racismo à brasileira e a condição do povo negro da diáspora africana, o
escritor, artista plástico, polítici e ativista dos direitos da população negra
escreveu que sua obra é em memória dos trezentos milhões de africanos
assassinados por escravistas, invasores, saqueadores, torturadores e
supremacistas brancos.
Segundo
Emerson, essa violência se perpetuou no genocídio atual da população negra e
nas condições de vida dos negros, que se agravaram com a pandemia da Covid-19.
Apesar da riqueza concentrada da cidade que possui cerca de 700 mil habitantes
e um dos maiores PIBs (Produto Interno
Bruto) do país, Osasco é uma cidade que ainda apresenta problemas que afetam
sobretudo a população mais pobre.
“A população negra, principalmente da zona
norte de Osasco, sofreu. Não teve como fazer distanciamento social, os bancos e
as empresas não quebraram, quem quebrou foi o pequeno comerciante, o Seu João e
a dona Maria. O trabalho informal e os bicos aumentaram e a população não teve
como se proteger. Muitos pretos e pretas morreram. O auxílio emergencial também
não chegou a todos nas periferias e o povo teve que colocar a vida em risco”,
recorda.
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