Por Alexandre Lucas, Colunista
A
centralidade e a transversalidade da cultura a partir da redescoberta da
profundidade e diversidade da produção estética, artística, cultural e das
narrativas que vão sendo tecidas ao longo da história, nos mais distintos
lugares e territórios, em que os processos híbridos, contraditórios e
contrastantes se mostram como dinâmicos e em constante transformação é uma das
veias que vão modelando o olhar para um movimento que se torna política pública
e vice-versa: Cultura Viva.
O
Cultura Viva, experiência brasileira de política pública para cultura gestada
nos governos Lula-Dilma, que se tornou política de estado em 2014 e se espalhou
na América Latina, enquanto política governamental e movimento. Na perspectiva
de política institucional tem aspectos peculiares para romper com a lógica de
privilégios e de exclusão no campo da democratização da produção e circulação
do simbólico.
O
Cultura Viva se popularizou a partir dos Pontos de Cultura. A sustância e
vitalidade do Cultura Viva se justifica no reconhecimento do protagonismo das
organizações que adubam a cultura de base comunitária cotidianamente nos seus
lugares e territórios.
O
aspecto de territorialidade e lugar no Cultura Viva, tem uma forte ligação com
a própria luta pelo direito à cidade, a partir do momento em que os grupos
estabelecem relações com determinadas espacialidades objetivas e subjetivas e
que são reconhecidos a partir dos seus saberes, fazeres e narrativas e ao mesmo
tempo são conectados as redes e aos espaços ampliados de diálogos, conflitos e conquistas, os quais
vão configurando uma redescoberta das cidades, a partir de uma radiografia que apresentam composições, heterogeneidades e fraturas mais aproximadas da
realidade.
Essa
compreensão de política pública pode contribuir para a construção de um
pensamento de “de baixo para cima”,
numa perspectiva de construção de gestões democráticas e participativas que são
norteadas pelo reconhecimento da capacidade produtiva e política dos sujeitos e
de suas organizações aos definirem suas necessidades, autonomia, processos e
decidirem sobre como querem acessar e construir a cidade.
O Cultura Viva sinaliza a possibilidade para políticas públicas integrativas e a discussão transversal da cultura, a partir das suas margens. O recorte de lugar e território é um caminho que pode contribuir de forma significativa para que os movimentos sociais possam ganhar corpo no seu protagonismo pelo direito à cidade e consequentemente pela democratização do simbólico. Junta-se a isso, os conceitos que vêm sendo temperados na América Latina de construção de um novo tipo de sociedade.
Constituir
a política municipal do Cultura Viva em cada cidade é essencial para
redescobrir a potência criativa de cada lugar e território e redesenhar a
produção, circulação, os circuitos, diálogos, conflitos e concepções políticas.
O Cultura Viva só funciona, enquanto política pública, com participação e decisão popular e obrigatoriamente com investimentos públicos, caso contrário é apenas falseamento da identidade deste conceito de movimento/política pública que é revolucionária na sua forma e conteúdo.
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