Com
anuência dos poderes legislativo e executivo, o município de Juazeiro do Norte,
no cariri cearense, deu um passo gigantesco para os porões da História. Na
verdade, para a camada mais suja da História carregada de racismo e de afronta
ao Estado Laico que perdura no país desde sua colonização.
No
último dia 22 de junho, a prefeitura publicou no Diário Oficial a Lei Nº 5.162
que excluiu religiosos de matrizes africanas do conjunto de grupos prioritários
para receberem a vacinação contra a Covid-19 na medida em que incluiu no termo
“líderes
religiosos” apenas “padres, pastores e bispos”. Para a historiadora, poeta e ativista negra
Karla Alves, a prática se “configura como
RACISMO INSTITUCIONAL.”
Karla
destaca o perigo de uma lei como essa que carrega sob o “parabrisa a vacinação um conteúdo sociológico impregnado de racismo,
buscando atualizar a ideia de que práticas religiosas de matriz africana e
indígena não são religiões” e que a lei e, ou, o discurso contido nela “serve de justificativa para permitir e
legitimar a violência historicamente praticada contra líderes e praticantes de
religiosidades originárias, pois está dizendo, através da negação da existência
desses cultos à natureza enquanto religião, que elas podem ser proibidas,
interrompidas em nome das religiões legitimadas enquanto tal”.
A
historiadora lembra também que “esse
racismo é histórico, visto que o Estado busca atualizar periodicamente as
justificativas que validam a violência sofrida pelos povos de Terreiro no
Brasil durante séculos”.
Karla
informou ao Blog Negro Nicolau que a referida lei foi revogada. "Preferiram recuar do que incluir outros
líderes religiosos", disse.
Lideranças
religiosas de terreiros, como ialorixás de Juazeiro, chegaram a produzir abaixo
assinado onde ressaltam a importância da liberdade religiosa e de se respeitar o
já fragilizado Estado Laico.
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