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Maria Firmino dos Reis. (FOTO/Reprodução/Google). |
Maria
Firmina dos Reis foi uma escritora brasileira, considerada a primeira
romancista brasileira. Ela nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de
1822. Entretanto, seu batismo ocorreu apenas em 21 de dezembro de 1825,
constando na certidão sua condição de “filha natural” de Leonor Felippa dos
Reis e estando ausente do documento o nome de seu pai (ADLER, 2017).
Afrodescendente nascida fora do casamento e vivendo num contexto de extrema
segregação racial e social, aos cinco anos ficou órfã e teve que se mudar para
a vila de São José de Guimarães, no município de Viamão, situado no continente
e separado da capital pela baía de São Marcos. O acolhimento na casa da tia
materna teria sido crucial para a sua formação (Mott, 1988).
Maria
Firmina dos Reis Formou-se professora e exerceu, por muitos anos, o magistério,
chegando a receber o título de “Mestra Régia”. Em 1847, com vinte e cinco anos,
Reis vence concurso público para a Cadeira de Instrução Primária na cidade de
Guimarães-MA, conforme registra seu biógrafo Nascimento Morais Filho (1975). E,
ainda segundo este autor, ao se aposentar, no início da década de 1880, funda,
na localidade de Maçaricó, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma
das primeiras do País. O feito causou grande repercussão na época e por isso
foi a professora obrigada a suspender as atividades depois de dois anos e meio.
Maria
Firmina dos Reis foi presença constante na imprensa local, publicando poesia,
ficção, crônicas e até enigmas e charadas. Segundo Zahidé Muzart (2000, p.
264), “Maria Firmina dos Reis colaborou
assiduamente com vários jornais literários, tais como A Verdadeira Marmota,
Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista e outros”.
Além disso, teve participação relevante como cidadã e intelectual ao longo dos
noventa e cinco anos de uma vida dedicada a ler, escrever, pesquisar e ensinar.
Atuou como folclorista, na recolha e preservação de textos da cultura e da
literatura oral e também como compositora, sendo responsável, inclusive, pela
composição de um hino em louvor à abolição da escravatura.
Maria
Firmina dos Reis trouxe a público três narrativas de ficção: Úrsula, de 1859,
seguramente o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América
Latina – e primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua
portuguesa -, no qual aborda a escravidão a partir do ponto de vista do Outro;
Gupeva, de 1861, narrativa curta de temática indianista, publicada em capítulos
na imprensa local, com várias edições ao longo da década de 1860; e o conto “A
escrava”, de 1887, texto abolicionista empenhado em se inserir como peça
retórica no debate então vivido no país em torno da abolição do regime servil.
Já
seu volume de poemas Cantos à beira-mar, cuja primeira edição é de 1871, traz
textos marcados por forte inquietação e por uma subjetividade feminina por
vezes melancólica diante da realidade oitocentista marcada pelos ditames do
patriarcado escravocrata e representada como problema perante a sensibilidade da
autora.
Maria
Firmina dos Reis faleceu em 1917, pobre e cega, no município de Guimarães-MA.
Infelizmente, muitos dos documentos de seu arquivo pessoal se perderam e até o
momento não se tem notícia de nenhuma imagem sua digna de credibilidade. A
propósito, circula na internet uma foto da escritora gaúcha Maria Benedita
Borman, pseudônimo “Délia”, como se fosse da autora maranhense. A escultura
reproduzida nesta página foi elaborada a partir de retrato falado colhido pelo
biógrafo da autora.
Em
2017, por ocasião do centenário da morte de Maria Firmina dos Reis, seus livros
foram relançados: Úrsula, já na sétima edição, trazendo em apêndice o conto “A
Escrava”, de 1887; Gupeva, em sexta edição; além de Cantos à beira-mar, volume
de poemas novamente disponível em publicação da Academia Ludovicence de Letras,
de São Luís, organizada pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler.
Data
ainda de 2017 o volume crítico Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor,
também de autoria de Dilercy Aragão Adler, em que a pesquisadora divulga
documentos até então inéditos, encontrados no Arquivo Público do Maranhão,
dando conta da verdadeira data de nascimento da autora – 11 de março de 1822 –
até então confundida com a data de seu batismo, que só ocorreria três anos mais
tarde. O livro de Adler esclarece também a condição social de sua mãe, Leonor
Felippa dos Reis, em verdade uma escrava alforriada que pertenceu ao Comendador
Caetano José Teixeira. Tais descobertas esclarecem em definitivo dúvidas até
então existentes sobre o nascimento da escritora e o estrato social a que
pertenceu sua mãe.
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Com
informações do Play in Traffiki.
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