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Senado aprova em segundo turno reforma da previdência. (FOTO/Roque de Sá/Agência Senado). |
Combater
privilégios foi uma das principais justificativas utilizadas pelos governos
Michel Temer e Jair Bolsonaro para a aprovação da Reforma da Previdência. Não
há dúvida de que o país conta com funcionários públicos recebendo altas pensões
– como generais que vão para a reserva ameaçando a democracia e que ficaram,
por ora, de fora das mudanças que foram chanceladas pelo Congresso Nacional
nesta terça (22).
Quem
não ficou foram milhões de brasileiros que até sonhavam em receber uma
aposentadoria de 1,5 ou 2 salários mínimos, mas terão que se contentar com o
piso devido ao novo cálculo que será implantado, que vai achatar benefícios.
Por
pouco, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não nos empurrou para a
substituição do sistema de repartição (em que os da ativa contribuem para bancar
os aposentados) pelo de capitalização (em que cada um faz sua poupança
individual). Perguntem aos idosos do Chile – onde a mudança ocorreu e que hoje
vive dias de convulsão social em parte pelas baixas aposentadorias – o que eles acham de
políticos que enxergam linhas de planilha no lugar de pessoas.
Considerando
que uma parte da classe média baixa só vai perceber que se meteu na maior
roubada depois que o período de transição da Reforma da Previdência passar, o
Congresso Nacional tem a obrigação moral de equilibrar um pouco a balança na
Reforma Tributária. Não por uma questão fiscal, mas por Justiça Social e
redução da desigualdade. Aprovando o aumento de taxação dos super ricos, por
exemplo, que pagam proporcionalmente menos imposto que a tal classe média.
Retorno
da taxação de dividendos recebidos por acionistas de grandes empresas (com
redução no Imposto de Renda das pessoas jurídicas), taxação de grandes heranças
e grandes fortunas; reajuste da tabela do Imposto de Renda, com os mais ricos
pagando progressivamente mais, cobrança progressiva e efetiva do Imposto
Territorial Rural, entre outras medidas, seriam bem-vindas para mostrar que o
país não é completamente uma distopia tropical.
Até
que isso aconteça, os verdadeiros privilegiados vão rir à toa. Os super ricos
têm mais de 70% da sua renda isenta de tributação e pagam alíquota efetiva de
imposto de renda de apenas 6% – enquanto que na OCDE [Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o clube dos países ricos], a alíquota
média é de 40%. Segundo a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018, coordenada pelo economista
francês Thomas Piketty, o Brasil tem a maior concentração de renda do mundo
entre o 1% mais rico – os milionários brasileiros ficaram à frente até dos bilionários
do Oriente Médio.
Compra-se
uma Reforma
Qual
a diferença do governo Bolsonaro comprar a aprovação da Reforma da Previdência
com a promessa de liberação de mais recursos para emendas parlamentares e o
governo Temer ter comprado a rejeição à autorização para que o Supremo Tribunal
Federal processasse o presidente da República com a promessa de liberação de mais
recursos para emendas parlamentares? Do ponto de vista ético, nenhuma.
Mas
como o primeiro tema interessa a um grande número de atores ditos sérios, como
o mercado, ocorreu uma passada de pano generalizada para o balcão de negócios.
Houve uma cobrança aberta por parte de deputados e senadores pela liberação de
bilhões em troca da aprovação do projeto de mudança nas aposentadorias.
A
justificativa corrente é de que a Reforma da Previdência vai ser uma pedrada
nas pretensões eleitorais dos deputados-candidatos em 2020 (prefeituras) e 2022
(reeleição, Senado, governos). As emendas e promessas de obras federais
ajudariam a lustrar a imagem deles diante da população – principalmente em
áreas com um grande número de cidadãos que serão afetados negativamente pelo
projeto. Mas comprar e vender votos na Reforma da Previdência através do
oferecimento de recursos de emendas para a execução de políticas públicas que
deveriam ser obrigatórias é barganhar o futuro das pessoas oferecendo migalhas
no presente.
Atualizar
o sistema de aposentadorias é necessário devido à mudança de nossa pirâmide
demográfica, não se discute isso. Mas se o governo federal tem tanta certeza
que a população concorda com as mudanças, não deveria ter liberado um centavo.
E se os deputados e senadores acham que esse é o melhor projeto possível e que
seu voto não será visto como traição aos trabalhadores, deveriam entregá-lo por
consciência e não vendê-lo.
_________________________________
Por
Leonardo Sakamoto, em seu Blog.
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