Professor Nicolau Neto é empossado na Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe


Professor Nicolau Neto é empossado na Academia de Letras
do Brasil/Seccional Araripe. (FOTO/Beto Ribeiro).
Texto: Nicolau Neto

O pátio da Escola de Ensino Médio Dona Carlota Távora, no município de Araripe, foi palco na manhã deste sábado, 12, de sessão solene visando empossar cinco acadêmicos na Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe-CE, dentre eles o professor, historiador, palestrante, blogueiro e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, Nicolau Neto.


O evento começou por volta das 9h30 e contou com a participação de parte dos/as acadêmicos e acadêmicas, de professores/as, homenageados e homenageadas, familiares representantes de patronos das cadeiras a serem ocupadas pelos empossados, dos ex-prefeitos do município de Araripe, Dr. Humberto Bezerra e Dr. Neno,  Celézio Brilhante, ex-prefeito de Potengi, da vereadora por Potengi, Vanda, do presidente da Câmara de Araripe, Roberto Guedes e dos candidatos a vereador por Altaneira nas últimas eleições, Paulo Henrique Maia e Tiago Cardoso (este último atuou como mestre de cerimônia), a esposa de Nicolau, a professora Valéria Rodrigues, oficializou o assento dos empossados.


A mesa de honra do acadêmico Nicolau Neto foi composta por sua esposa,
Valéria Rodrigues (a dir.), pela presidenta da ALB, Lúcia Nunes (centro) e
por Sandro Cidrão, vice-presidente da instituição. (FOTO/Nicolau Neto).

Nicolau escolheu como patrono João Sabino Dantas, popularmente conhecido por João Zuba. Filho de José Sabino Dantas e Maria das Dores de Jesus, que abraçaram a agricultura como local de trabalho e para a manutenção da família, João Zuba nasceu no sítio coité, zona rural do município de Assaré, no Ceará, em 05 de junho de 1945 e faleceu com 71 anos na noite do dia 24 de fevereiro de 2017 em face de problemas respiratório e de diabetes que acabou gerando um excesso de glicose circulando no sangue, causando problemas nos vasos sanguíneos e no coração.

Agricultor por profissão, mestre da cultura popular por paixão. Foi um exímio exemplo de esposo e pai. Passou boa parte de sua vida construindo cacimbas, quando as águas do açude pajéu ainda não eram realidade nas residências dos munícipes, além de ter trabalhado durante anos moendo cana-de açúcar no engenho no sítio Catolé, município de Assaré. Mas foi na Banda Cabaçal que ele passou a ser conhecido no imaginário popular, principalmente nos municípios do cariri oeste.

João Zuba, mestre da banda cabaçal. (FOTO/Heloisa Bitu).

Nicolau estruturou seu trabalho de pesquisa em sete pontos, a saber: 1 - Infância, juvenilidade e o encontro com o engenho de cana-de-açúcar; 2 - A construção de cacimbas e a dificuldade para conseguir água; 3 - A filha que nunca chegou no seio da família; 4 - João Zuba e a Banda Cabaçal; 5 - Um legado cultural de João Zuba; 6 - Altaneira homenageia João Zuba e a Banda Cabaçal e 7 - A morte de João Zuba e a paralisação das apresentações da banda cabaçal.

Durante a apresentação do trabalho, Nicolau destacou o resumo, parte integrante da pesquisa:

A região do cariri é um armazém de saberes culturais e espaço de estudos em que pese as suas mais diversas manifestações. A banda cabaçal aparece aqui como sendo um dos berços dessa região. Não se pode esquecer de notar que os engenhos de cana-de-açúcar e as relações sociais e econômicas deles gerados encontram foco nas mais variadas pesquisas acadêmicas. O objetivo desse trabalho é compreender as relações estabelecidas entre João Zuba e seus vários ofícios e como ele se tornou uma das principais referências culturais do município de Altaneira. A pesquisa é de cunho qualitativo, a partir do uso da metodologia que enfocou em grande parte a história oral. É estabelecido um diálogo com material bibliográfico e de textos escritos para site e blogs, sendo, pois, Maria Leila Torres Dantas, de João Sabino Dantas, Cleideomar Sabino Dantas e Luiz Sabino Dantas, seus filhos, além de Sebastião José de Amorim e Luiz Manoel de Almeida as principais fontes de diálogo para a construção deste ensaio. Este trabalho parte da tese de que a cultura popular local representada pela banda cabaçal é uma rica manifestação que pode e deve ser valorizada e reconhecida como patrimônio cultural imaterial do município e as pesquisas dela resultantes em importante material didático escolar.

Por fim, considerou que é impossível falar de cultura popular em Altaneira sem destacar a participação ativa e ousada do agricultor João Zuba. Além de idealizador e propagador de uma cultura inspirada no trabalho braçal, na vida simples do homem e da mulher da roça, colaborou para o fortalecimento do vínculo dos mais jovens com suas raízes indígenas e africanas através da música. 

João Zuba ficou muito triste quando soube
que não podia mais tocar pífano.
(FOTO/Reprodução/Vídeo).
Nicolau ainda afirmou que somente a força de vontade dos mestres e mestras de cultura para manter viva a cultura não é o suficiente. É preciso ações mais incisivas e mais concretas por parte das instituições, principalmente do poder público constituído no sentido de propor políticas públicas que reconheça e valorize os modos de fazer cultura. Pensar assim é entender a cultura como complexa e diversa e que como tal necessita de projetos e ações que a enxerguem como um direito e como cidadania.

O trabalho completo que foi intitulado “João Zuba: entre a moenda de cana e a construção de cacimbas, o amor pela banda cabaçal” será entregue a Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe e, posteriormente disponibilizados para a Biblioteca Pública do município de Altaneira e para a família de João Zuba.

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