Grunec celebra 22 anos de luta antirracista. (FOTO/ Redes Sociais). |
Por José Nicolau, editor
O
ano era 2001. Um grupo constituído por cerca de cinco pessoas se reuniram
depois de uma aula de natação na garagem da casa de uma delas e passaram a
dialogar sobre as mazelas que afligiam a sociedade brasileira e, de forma mais especifica, aqueles grupos que
sempre estiveram e ainda estão a margem – negros e negras.
Destes
diálogos sobre desigualdades surgiu a ideia de transformar discursos
individuais em ação coletiva e em luta organizada visando, sobretudo, promover
a igualdade étnica/racial e a autoestima da população negra do cariri e
difundir a consciência quanto a afrodescendência. O que caminha no sentido de
valorizar a nossa história. Com esse ideal nascia o Grupo de Valorização Negra
do Cariri (GRUNEC) que oficialmente (com registro) está com 21 anos.
O
GRUNEC se constituiu ao longo desses 22 anos como um coletivo que escolheu o
caminho da luta, da resistência e da persistência ao trabalhar de forma
comunitária e saindo da zona de conforto para visitar as comunidades de base,
as comunidades tradicionais, como o povo indígena e os grupos remanescentes de
quilombolas.
Enquanto
entidade organizativa, de combate a toda forma de discriminação, preconceito e
de racismo, tem atuado na proporção em que essas injustiças ocorrem. Como
exemplo, seja tendo sua organização, colaboração ou idealização, pode-se citar
a Caminhada contra a Intolerância Religiosa realizada anualmente em Juazeiro do
Norte, a Marcha Regional de Mulheres Negras do Cariri que visa denunciar formas
de discriminação, opressão e aniquilamento, além do Congresso Artefatos da
Cultura Negra que em 2019 chegou a sua décima edição e que tem se consagrado
como o maior evento de pesquisa sobre a população negra do país.
Nesta
ambiência de atuação, não se pode esquecer também de um dos trabalhos mais
colaborativos em que pese a educação voltada para as relações étnico-raciais: o
Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri feito junto a
Cáritas Diocesana de Crato – CE, tendo como resultado o lançamento da “Cartilha Caminhos, Mapeamento das Comunidades Negras e
Quilombolas do Cariri Cearense”. Este trabalho contou com a participação de
cerca de 25 comunidades. Seis delas se autoreconheceram remanescentes de
quilombolas. Note-se ainda que comunidades como
as de Arruda (Araripe), Sousa (Porteiras), Serra dos Chagas
(Salitre) e Carcará (Potengi) já contam com certificado de
remanescentes de quilombolas adquirido junto da Fundação Cultural Palmares.
Outras
atuações colocam este coletivo negro como protagonista. Cita-se aqui a 1ª
Audiência Pública Federal no ano de 2007, onde discutiram a implementação da
Lei nº 10.639/03 ao reunirem representantes de 42 municípios da Região do
Cariri, o 1º Seminário no Crato em 2005, para discutir a Igualdade Racial e a
realização anualmente da Semana da Consciência Negra.
O
Grunec reúne sem seus quadros professores e professoras universitários/as,
docentes da educação básica, estudantes, pesquisadores/as, líderes
religiosos/as e ativistas sociais, dentre outros e continua firme e forte,
principalmente agora em tempos de cortes de direitos, legitimação desenfreada
do racismo, do machismo e de ofensas sem barreiras a comunidades LGBTs. Por
isso, os lemas mais apregoados do grupo são “Aquilombar é Preciso” e “Pelo Bem
Viver”.
Verônica
Neves, uma das fundadoras do GRUNEC, usou suas redes sociais para lembrar esses
22 anos de luta antirracista no cariri. Ao lembrar a trajetória do grupo,
Verônica cita que “não foi e não é fácil
viver, cotidianamente, o aniquilamento imposto ao povo preto, no País inteiro”.
Destacou
ainda a violência cometida contra a população preta e periférica. “Na nossa região do Cariri Cearense não é
diferente. Visualizamos nos índices oficiais e perversos da violência contra as
mulheres, no genocídio da população jovem negra periférica, no
"açoite" com o segmentp LGBTQIA+, na mortalidade infantil, no mais
Sagrado direito de professar a nossa fé, na violencia a que ainda são submetidos as comunidades
quilombolas, na nossa ausência nos espaços de poder, na falta de acesso às políticas públicas,
enfim, no nosso direito de viver com dignidade”.
Dentro
desse contexto, ela mencionou ainda o não cumprimento da Lei 10.639/03 que
obriga escola públicas e particulares a trabalharem em todos os componentes curriculares
e em todo o ano letivo a História e Cultura Africana e Afro-brasileira. “É aí não posso deixar de citar o faz de
conta da implementação da Lei 10.639/03, da Política de Saúde Integral da
População Negra, da Lei de Cotas, o
impacto da pandemia do covid 19 no nosso povo, no adoečimento mental, na falta
de perspectiva e por ai vai”, disse.
“Não é fácil, aliás, nunca foi. Então, hj 21 de abril, feriado pra nós, por nossa causa, por nossos heróis e heroínas tão invizibilizados/as pela sociedade, celebro com muito orgulho a existência deste coletivo aguerrido, rendo homenagens aos que passaram e aos que resistem. É no Aquilombamento que transformarmos está sociedade num local lindo pra se viver. Resistiremos, assim, eu creio”, asseverou a líder peta do cariri cearense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!