Aconteceu,
neste sábado (3/3), a Conferência Cidadã, evento organizado pelos movimentos
sociais para oferecer as candidaturas de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara ao
PSOL. Sônia já é filiada ao partido. Guilherme se filiará na tarde desta
segunda-feira (5/3). Ambos precisarão do aval da Conferência Eleitoral do PSOL,
que ocorre no próximo dia 10. Há outras pré-candidaturas inscritas,
representando diferentes posições partidárias, todas elas legítimas. Mas por
que, então, a imensa maioria da militância e da direção partidária, além da
bancada federal do partido na Câmara dos Deputados, preferem Guilherme Boulos?
Exatamente porque sua candidatura, como ficou demonstrado no evento de ontem,
representa a confluência de diferentes lutas, extrapolando em muito as fileiras
do PSOL.
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Juliano Medeiros é presidente nacional do Psol. (Foto: Psol50). |
O
PSOL surgiu como um contraponto aos limites do projeto de conciliação liderado
pelo Partido dos Trabalhadores após a vitória de Lula, em 2002. Foram tempos
difíceis. Por muitos anos o partido “pregou no deserto”, sem que suas ideias tivessem
o alcance necessário para alavancar um projeto radical de esquerda, alternativo
ao petismo. Só com as crises econômica e política que atingiram o Brasil, a
partir de junho de 2013, suas críticas passaram a ter maior acolhida na
esquerda. Com o golpe que destituiu Dilma, ficou claro que a conciliação tinha
limites estruturais. A história, enfim, dava razão ao PSOL.
Nesse
processo de reflexão sobre os limites do lulismo, se forjou um novo campo
político nos movimentos sociais. Esse campo inclui o MTST, as lutas pelo passe
livre, as ocupações de escolas, a primavera feminista, uma nova geração de
intelectuais críticos, artistas progressistas, o despertar das lutas indígenas,
dentre muitos outros. Esse campo político, claramente “pós-lulista”, aponta agora
a necessidade de oferecer uma alternativa ao povo brasileiro. Essa alternativa,
que já vem sendo construída nas lutas contra a retirada de direitos, promovida
pelo ilegítimo governo Temer, e na defesa da democracia, ganha agora expressão
eleitoral.
O
evento de ontem, na Casa das Caldeiras, foi algo inédito nos últimos anos. Um
encontro entre diversas formas de resistência que decidem ir além: ocupar a
política partidária, somando esforços com aquele que é hoje a única força
política capaz de incorporar esse despertar de lutas e ir além dos limites
impostos pela falsa democracia das elites: o PSOL. Estamos diante do encontro
de gerações de lutadores históricos, como Ivan Valente, Luiza Erundina, Chico
Alencar, Edmilson Rodrigues, que não se renderam às razões de Estado ou às
ilusões da conciliação, com uma nova onda de movimentos sociais que expressam
as contradições que a nova dinâmica da exploração capitalista produziu em nosso
país. Um momento histórico.
É
claro que o novo sempre causa estranhamento, desconforto. Muitos prefeririam
manter tudo como está. Mas a história exige de nós ousadia. Um ciclo se encerra
na política brasileira. Não há espaço para “acordos” com os donos do poder. A
hora é de radicalidade e luta sem tréguas contra golpistas e todos os que
querem destruir os direitos do povo brasileiro. Não há mais dúvidas: o novo
começa a nascer. (Publicado originalmente na Revista Fórum).
*
Juliano Medeiros
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Graduado
e mestre em História pela Universidade de Brasília (UnB) e doutorando em
Ciência Política pela mesma instituição. Autor de "Um Mundo a Ganhar e
outros ensaios" (Multifoco, 2013), co-autor de "Um partido necessário
- 10 anos de PSOL" (Fundação Lauro Campos, 2015) e "Cinco Mil Dias -
o Brasil na era do lulismo" (Boitempo, 2017). Atualmente ocupa a presidência
nacional do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). É colunista da Revista
Fórum.
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