A força do movimento negro, por Nicolau Neto. (Foto: Cláudio Gonçalves). |
Comecemos
essa discussão com o poema de Jorge Posada:
"
Um negro sempre será um negro,
Chame-se pardo, crioulo, preto,
cafuzo, mulato ou moreno-claro
Um negro sempre será um negro:
Na luta que assume pelo direito ao
emprego
E contra a discriminação no trabalho
Um negro sempre será um negro:
Afirmando-se como ser humano
Na luta pela vida".
Tem-se
aqui uma nítida ideia de que é preciso um senso crítico quanto ao tema em
questão. Faz-se necessário então a desconstrução do mito da igualdade racial.
O
Brasil é o país que tem a maior população de negros fora da África. Os negros
foram trazidos do continente africano para cá, escravizados e, não se
contentando com isso, as elites político-econômicas da época, através de
diversas práticas, cuja escravização foi uma delas, fizeram com que negros e
negras deixassem de praticar suas linguagens, religiões e costumes adotando
práticas europeias.
No
dia 20 de novembro, data dedicada à consciência negra, é importante destacar
que o movimento negro tem por objetivo não deixar esmorecer e resgatar essa
cultura afro- brasileira, rebatendo a desigualdade e a separação racial que
insiste em permanecer sobre o povo negro. Ressaltemos ainda que ele (o
movimento) é uma batalha travada contra o senso comum. Numa sociedade onde se
assume que existe preconceito racial é contraditória a afirmação que não há
discriminação e racismo pessoal.
Não
é novidade que o racismo está presente no cotidiano. As questões aqui são: onde
o racismo atrapalha, rouba, diminui, fere, interfere, omite, engana, diferencia
a população negra que constitui toda uma nação de outra raça? Aí está a chave.
É entra o movimento negro, numa armadura e resistência coletiva de uma raça
presente e atuante.
Nunca
é demais lembrar, já que ele insiste, apesar dos avanços que já foi efetivado,
que o Estado é o personagem responsável em garantir a igualdade. Porém, se o
estado age de forma ativamente contrária ou de forma omissa em seus serviços de
policiamento, saúde pública, geração de renda e trabalho, educação, o que leva
a discriminação racial, então temos algo além de problemas sociais. O Estado
passa a alimentar um atraso e constrói um apartheid.
No
entanto, o país é composto de edifícios, a saber, as instituições de ensino,
Ongs, empresas, templos religiosos e famílias. Porém, muitas dessas
organizações não estão afastadas de conceitos errados, uma vez que não romperam
com seus dogmas racistas, não tendo em seus quadros representantes de diversas
raças e etnias. Isso leva ao fato de que o racismo tem efeito letal e em massa.
Diante
desse quadro movimento negro assume seu papel de destaque, não se baseando
apenas em probabilidades e teorias, mas em fatos comprovados nos diversos
espaços de poder na sociedade. As ações do movimento estão diretamente ligadas
às lutas não só contra o racismo e a discriminação racial, mas também ao
machismo e intolerâncias religiosas e culturais.
No
Brasil, as referências para essas lutas continuarem são muitas, como por
exemplo, Zumbi, Dandara, Beatriz Nascimento, Tia Simoa, Abdias Nascimento, Revolta dos Malês, Grupo de Valorização Negra do Cariri
(GRUNEC), Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa e tantas representações de luta
e resistência do povo negro. Assim, o movimento negro é resultado de uma série
de manifestações decorrentes de um processo histórico. A amplitude do movimento
negro é um conjunto de manifestações que surgem de inquietações individuais e
coletivas.
Conclui-se
que o movimento negro precisa expandir suas ações e chegar em outras
localidades.
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Nicolau
Neto
é professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história
e cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito
racial, diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e
humanos das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri
(Grunec); membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe
(ALB/Araripe); servidor público no município de Altaneira, diretor
vice-presidente da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do
Blog Negro Nicolau (BNN).
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