O
jurista Afrânio Silva Jardim, considerado um dos maiores processualistas do
Brasil, anunciou nesta quinta-feira (20), em sua conta no Facebook que está se
retirando “deste ‘mundo’ falso e hipócrita” do Direito. O jurista diz ainda que
a sua decepção e muito grande e pergunta: “Como lecionar direito com um Supremo
Tribunal Federal como este???”.
Afrânio Jardim. (Foto: Reprodução/Revista Fórum). |
A
decisão do jurista foi tomada após o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Dias Tofolli, vetar, na noite desta quarta-feira (19), a liminar
expedida por seu colega, Marco Aurélio Mello, que libertaria presos condenados
em segunda instância, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Afrânio
aponta em dez tópicos as razões para a sua drástica medida, após quase 39 anos
lecionando direito processual penal e 31 anos atuando no Ministério Público.
Apesar do tom cáustico e pessimista, o jurista avisa que vai “procurar outra
‘trincheira’ para uma luta mais eficaz em prol de um outro modelo de sociedade.
A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para mim”, disse.
A
minha decepção e desgosto é muito grande. Como lecionar direito com um Supremo
Tribunal Federal como este??? Estou me retirando deste “mundo” falso e
hipócrita.
Após
quase 39 anos lecionando direito processual penal e 31 anos atuando no
Ministério Público do E.R.J., diante da notória perseguição do nosso sistema de
justiça contra o ex-presidente lula, confesso e decido:
1).
Não mais acredito no Direito como forma de regulação justa das relações
sociais.
2).
Não mais acredito em nosso Poder Judiciário e em nosso Ministério Público,
instituições corporativas e dominadas por membros conservadores e reacionários.
3).
Não vejo mais sentido em continuar ensinando Direito, quando os nossos
tribunais fazem o que querem, decidem como gostariam que a regra jurídica
dissesse e não como ela efetivamente diz.
4).
Não consigo conviver em um ambiente tão falso e hipócrita. Odeio o ambiente que
reina no Fórum e nos tribunais. Muitos são homens excessivamente vaidosos e que
não se interessam pelo sofrimento alheio. O “carreirismo” talvez seja a regra.
Não é difícil encontrar, neste meio judicial, muito individualismo e
mediocridades.
5).
Desta forma, devo me retirar do “mundo jurídico”, motivo pelo qual tomei a
decisão de requerer a minha aposentadoria como professor associado da Uerj. Tal
aposentadoria deve se consumar em meados do ano que se avizinha, pois temos de
ultrapassar a necessária burocracia.
6).
Vou procurar outra “trincheira” para uma luta mais eficaz em prol de um outro
modelo de sociedade. A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para
mim.
7).
Confesso que esta minha decisão decorre muito do que se tornou o Supremo
Tribunal Federal e o “meu” Ministério Público, todos contaminados pelo
equivocado e ingênuo punitivismo, incentivado por uma mídia empresarial,
despreparada e vingativa.
Com
tristeza, tenho de reconhecer que nada mais me encanta nesta área.
8).
Acho que está faltando honradez, altivez, cultura, coragem e honestidade
intelectual em nosso sistema de justiça criminal.
9).
Casa vez menos acredito no ser humano e não desejo conviver com certas
“molecagens” que estão ocorrendo em nosso cenário político e jurídico.
10).
Pretendo passar o resto de meus dias, curtir a minha velhice em um local mais
sadio… (Com informações da Revista Fórum).
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