Política e religião se discute sim, por Nicolau Neto. (Foto: Lucélia Muniz). |
Falar
de religião não é muito comum. Falar de política partidária também não é. Como
assim? Me perguntaria um falador dos temas em esquinas, nas igrejas, na
prefeitura ou na Câmara. É o que mais se discute em minha cidade. Não há
assunto que mais saia da boca do povo que não seja política e religião.
De
fato, respondia se a me fosse realmente feita essa pergunta. Afinal, o que mais
se ouve das bocas das pessoas que frequentam templos religiosos é a bíblia, é
jesus, o divino.... Mas, o que eu enquanto líder religioso tenho feito para
ajudar o próximo? O que eu enquanto fiel tenho feito para praticar a
solidariedade? Enquanto líder e fiel eu visito o meu vizinho, a minha vizinha
porque sinto vontade de colocar os papos em dias ou o faço simplesmente quanto
tenho a intenção de convencê-la a ir à igreja?
Os
discursos mais fortes que pregam os representantes do povo é a melhoria da
saúde, da educação, do transporte, incentivar a cultura... A palavra que mais
se usa é povo, ou melhor, o “em nome do povo”, “pelo povo”. Mas, o que se tem
feito para melhorar a vida do povo? Quais projetos sociais que permitam
independência financeira do povo foram ou estão sendo construídos? Eu conheço
bem a realidade do povo que tanto uso em discursos? Eu realizo visitas
rotineiramente nas casas das pessoas ou simplesmente reconheço um vizinho, um
amigo de dois em dois anos nos períodos eleitorais?
Política
e Religião são o que mais de discute mesmo. Eu falo muito de religião para
dizer que a minha é a correta e a do meu semelhante é a errada. Isso quanto é
entre um católico e um protestante. O católico diz que a dele é a certa e o
protestante da mesma forma afirma que a dele é a correta. Porque quando o
assunto são as religiões africanas, Protestantes e Católicos se unem para se
desfazer dessa forma de cultuar o divino. A Umbanda e o Candomblé não são aos
olhos de católicos e protestantes – na grande maioria - uma religião, mas algo
do mal. Mas eu discuto religião. Eu discuto religião. Vejo um incêndio
acontecendo e pessoas aflitas com aquilo, mas eu não me sensibilizo e ainda
assim promovo uma missa. Porque no meu entender, adorar a deus é mais
importante do que ajudar os aflitos em um incêndio. Rezar e Orar são mais importantes
do que ajudar uma criança que passa por necessidades. Mas eu discuto religião e
discuto na igreja, na rua, na praça... E quanto ao incêndio? E quanto à criança
passando por necessidades? Ah, não se preocupe bôbo. Não ligue para isso bôba.
Deus está vendo. O importante é irmos à igreja. O importante eu celebrar a
missa, o culto.
Quanto
à política partidária...... Essa também não sai de moda. Eu falo dela
diariamente. Falo quando digo que fulano foi o melhor prefeito, enquanto que
cicrano foi um desastre. Falo assim do fulano mesmo sabendo que não corresponde
a verdade dos fatos e continua a dizer que cicrano não realizou o que era
esperado mesmo sabendo que não é bem assim. Falo de política quando faço parte
de um grupo, luto com ele e depois o descarto pelo simples fato de poder
político, de cargo público e de quebra eu ainda uso o nome do povo para
justificar a minha desavença política, a minha picuinha política, o meu desejo
pelo poder. Falo de política ainda quando aquele grupo que eu odiava, hoje eu o
adoro.
Diante
disso, cabe uma pergunta. O que religião e política têm em comum? Deus e o
Povo. Na religião eu uso o nome de deus para justificar as minhas ações, muitas
delas que só prejudica o fiel. Você tem que passar por isso porque deus quer,
portanto aceite. Não questione. Na política, eu uso o nome do povo para mudar
ou permanecer em um grupo político, e na grande maioria das vezes para
financiar o meu projeto de poder.
Por
isso, falar de religião e de política não é muito comum.
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Nicolau Neto
é professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história
e cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito
racial, diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e
humanos das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri
(Grunec); membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe
(ALB/Araripe); servidor público no município de Altaneira, diretor
vice-presidente da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do
Blog Negro Nicolau (BNN).
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