(Foto: Reprodução/Jornal GGN). |
Jair
Bolsonaro entregou a Damares Alves o Ministério dos Direitos Humanos turbinado
com a Funai e a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente. A
ironia - para dizer o mínimo - está no fato de a pastora e assessora de Magno
Malta ter passado os últimos anos batendo cartão em templos, especialmente no
Nordeste, pregando sobre o papel "missionário"
da Igreja Evangélica na "restauração
da Nação" e na evangelização das crianças, que "começa na barriga". Missão divina e
decorrente da "falência das instituições".
Damares
também é pessoalmente contra feministas, contra qualquer referência a religiões
de matriz afro em sala de aula e contra a diversidade sexual. Hoje, confirmada
no cargo, ela diz que "se preciso
for" estará nas ruas com "as
travestis" e nas portas das escolas pelas "crianças que são discriminadas por sua orientação sexual". Mas
o discurso nem sempre foi este.
Novídeo, ela diz que crianças não devem pensar que é "legal" nem
natural o relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo, e afirma
expressamente que "a
homossexualidade é aprendida no berço, na forma que se lida com a criança, mas
ninguém nasce gay." Torna-se, portanto, evita-se.
Nomeada
nesta quinta (6), ela já antecipou à imprensa as duas prioridades de sua
gestão: as mulheres "invisíveis"
- "a indígena, a ribeirinha, a
catadora de siri, quebradora de côco", etc - e a "questão da infância". "O objetivo é propôr à Nação um pacto de
verdade pela infância. Conversando com os demais ministros, a infância vai ser
priodade neste governo. É a intenção do presidente e o presidente está motivado."
Não
é preciso muito esforço para descobrir as motivações da Damares, ao menos
enquanto pastora.
A
meta, visível na repetição do que apresenta nos cultos, é plantar e cultivar
nos fiéis a sementinha do interesse em pautas que curiosamente os parlamentares
da Frente Parlamentar Evangélica escolheram trabalhar nos últimos anos.
INDÍGENAS
Ela
costuma fazer referência, por exemplo, a Magno Malta e uma lei aprovada na
Câmara dos Deputados, sob a presidência de Eduardo Cunha, que obriga o governo
federal a retirar crianças indígenas das aldeias. O motivo? Há povos que
sacrificam quem nasce com deficiência.
Quando
não está falando da evangelização de indígenas - ela sonha em ver Jeová louvado
em 300 linguas nativas - Damares dá atenção especial aos assuntos que circundam
a Escola Sem Partido, sob o pretexto de que crianças estão sendo sexualizadas e
abusadas com "essa história de ideologia de gênero".
"O único lugar seguro para as crianças no
Brasil é o templo. Não existe outro lugar no Brasil mais seguro para as
crianças que a igreja", afirma.
"Todas as instituições que defendem crianças
faliram e falharam na proteção da infância no Brasil. A escola falhou, não é
mais um lugar seguro para as crianças. Os clubes não são seguros. Nem os
consultórios médicos são mais seguros. Não existe lugar seguro. Todos falharam.
Só há um lugar seguro: a igreja, o templo", insiste.
Na
comunicação com mulheres evangélicas, Damares costuma dizer que "acabou a brincadeira na igreja". O
tempo de se preocupar com casamento, filhos e trivialidades cedeu lugar ao
tempo de guerra. A igreja tem uma missão, a de restaurar a Nação, e precisa
formar soldados com urgência.
"A sua missão é treinar crianças para
governar sobre esta terra. Estão nas suas mãos os princípes e princesas que vão
herdar e governar esta terra porque todas as instituições faliram. É hora de
treinar as crianças para governar essa Nação. (...) O Brasil vai se curvar
diante do deus das nossas crianças."
ABORTO
O
fim do aborto é o outro tema de discussão obrigatória, mas não é tratado como
questão de saúde pública e tampouco relacionado aos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres. Quando o assunto é interrupção da gravidez, não há
que se falar em qualquer direito da mulher.
"'Mas pastora, é direito da mulher abortar'.
É Mentira! 'Mas pastora, as feministas estão falando 'meu corpo, minhas
regras'. Olha aqui, ministério infantil, fale para elas: 'o seu corpo é seu,
faça o que você quiser com seu corpo, venda para quem quiser, dê a quem quiser.
Mas o que está dentro da sua barriga não é seu corpo, é outro corpo, é vida, e
você não pode decidir por outra vida."
ENSINO AFRO
Por
volta da 1 hora de vídeo, Damares, em tom alarmante, entra na discussão sobre
as leis federais que obrigam o ensino da cultura afro e indígena nas escolas.
"Estou preocupada, irmãos, com a questão do
satanismo e do ensino afro em sala de escolas."
"Eu sou a favor, a lei é perfeita, e tem que
ensinar a cultura afro para acabar com o preconceito, e a cultura indigena,
para as crianças entenderam a formação do nosso povo. (...) Mas sabe o que
estão ensinando para nossas crianças? A religião afro. Há diferença entre
cultura afro e religião afro. Não se pode falar da Biblia e de Jesus, mas eles
falam de orixás."
"Estão confundindo nossas
crianças na sexualidade e na religiosidade." (Com
informações do Jornal GGN).
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