Os super ministros: Moro (Justiça) e Guedes (Economia) combinam justiça seletiva e euforia com as privatizações. (Foto: FABIO POZZEBOM / ABR). |
O
presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), chegou a declarar que seu ministério
seria formado por no máximo 15 pastas. Em rede social, ainda antes do primeiro
turno, em outubro, ele afirmou que seria um ministério enxuto, "que possa
representar os interesses da população, não de partidos". Prestes a tomar
posse, seu governo terá 22, na verdade, quase 50% a mais do que o prometido. Um
número que pode ser enganoso, já que algumas áreas foram anexadas. Além disso,
a composição pouco reflete a diversidade do país, na medida em que mostra
concentração geográfica e até étnica.
Dos
22 nomes de primeiro escalão do próximo governo (confira quadro), não há nenhum
negro, que segundo o IBGE representam a maioria da população brasileira
(considerando pretos e pardos, classificação adotada pelo instituto). Mulheres,
que também são mais da metade da população, apenas duas. E também não há
ninguém da região Nordeste – onde se concentra 28% da população brasileira e
onde o adversário de Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad (PT), foi
vitorioso. Apenas sete das 27 unidades da federação estão representadas, todas
do Centro-Sul – destaque para os estados do Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande
do Sul, com quatro cada.
Entre
os nomes, estão dois "super ministros": Paulo Guedes (Economia) e
Sérgio Moro (Justiça). Vindo do setor financeiro, representante do pensamento
ultraliberal, entusiasta da privatização sem limites, Guedes defende
"reformas" e nos últimos dias falou em "meter a faca" no
Sistema S.
Durante
a campanha eleitoral, Moro liberou trechos de delação do ex-ministro Antonio
Palocci sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde 7 de abril
após condenação pelo então juiz federal de Curitiba. Posteriormente, encaminhou
ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) manifestação em que negou ter tentado
influenciar o processo eleitoral. Também afirmou não ser "político" e
negou qualquer relação entre a prisão de Lula e sua ida ao governo.
Além
do perfil restrito, o ministério Bolsonaro também mostra tendência
pró-empresarial, como apontam as indicações do próprio Guedes, de Tereza
Cristina na Agricultura e Ricardo Salles no Meio Ambiente. Além disso, uma
pasta simbólica, a do Trabalho, foi extinta. Suas atribuições serão divididas
em pelo menos três áreas.
A
equipe ainda sofre arranhões naquilo que foi uma das bandeiras do presidente
eleito, o combate à corrupção. Pelo menos nove futuros ministros são
investigados ou réus. O próprio Guedes desperta suspeitas de gestão fraudulenta
em fundos de pensão. E o deputado Onyx Lorenzoni, próximo titular da Casa
Civil, já admitiu ter praticado caixa 2. Como pediu desculpas, foi
"perdoado" por Moro. Em São Paulo, o indicado para o Meio Ambiente,
Ricardo Salles, sofreu condenação nesta semana por improbidade.
É
esse time que começará "agindo de forma efetiva" já no primeiro dia
de janeiro, conforme prometeu Bolsonaro em via social, sua fonte preferencial
de comunicação. Na quarta-feira (19), ele disse não ter dúvida de que
"mudaremos a direção que governos anteriores colocaram o Brasil".
(Com informações da RBA).
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