Mãe Stella lançou canal no YouTube. (Foto: Alan Tiago Alves/G1). |
Morreu,
nesta quinta-feira (27), na cidade de Santo Antônio de Jesus, no recôncavo da
Bahia, Maria Stella de Azevedo Santos, mais conhecida como Mãe Stella de
Oxóssi, aos 93 anos. A ialorixá estava internada no Hospital INCAR desde o dia
14 de dezembro, quando deu entrada com uma infecção.
A
unidade de saúde confirmou o óbito por meio de comunicado oficial, em que
lamentou o falecimento.
"É com grande pesar que
informamos que a paciente Maria Stella de Azevedo Santos, de 93 anos, devido a
sepse [infecção generalizada] de foco urinário, bem como insuficiência renal
crônica associada a hipertensão arterial sistêmica, veio hoje a óbito às 16
horas [no horário da Bahia]".
O
comunicado foi assinado pelos médicos José Geraldo de Souza Castelluci e Gilmar
Ribeiro Silva Dias
A
companheira de Mãe Stella, a filha de santo, psicóloga e escritora Graziela
Dhomini também se pronunciou, em mensagem enviada por celular, após a
confirmação da morte.
"Sei que Mãe Stella estará sempre a olhar por
todos. Ela já partiu. Sempre lúcida e bricalhona, disse que vai encontrar
comigo nos óruns (9 dimensões) e no Sol, isto é, na luz. Gratidão eterna",
disse Graziela.
Desde
2017, Mãe Stella estava morando na cidade de Nazaré, a cerca de 210km de
Salvador. Ela se mudou de Salvador para lá depois de um desentendimento entre
filhos de santo do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, na capital, e a companheira
dela, Graziela.
Biografia
Considerada
uma das maiores ialorixás do país, Mãe Stella nasceu no dia 2 de maio de 1925,
em Salvador. Foi a quarta filha de Esmeraldo Antigno dos Santos e Thomázia de
Azevedo Santos.
Aos
13 anos de idade, foi levada pela tia, que a criava, para o terreiro de mãe
Aninha, a fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá. Um ano depois, foi iniciada no
candomblé. Na juventude, sempre gostou de ler. Formou-se enfermeira, profissão
que exerceu durante 30 anos. Em 1976, aos 51 anos de idade, foi escolhida pelos
orixás para ser a nova líder do terreiro de São Gonçalo do Retiro. Mãe Stella
foi a quinta ialorixá a comandar o Ilê Axé Opó Afonjá.
Em
1999, Mãe Stella conseguiu que o terreiro fosse tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Em
2005, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal da
Bahia (Ufba). Quatro anos depois, recebeu o mesmo título pela Universidade do
Estado da Bahia. Além disso, Mãe Stella foi agraciada com a Comenda Maria
Quitéria, da Prefeitura de Salvador, com a Ordem do Cavaleiro, do Governo do
Estado, e a Ordem do Mérito, do Ministério da Cultura.
Estudiosa
e divulgadora da crença religiosa africana, Mãe Stella foi a primeira ialorixá
no Brasil a escrever livros e artigos sobre o candomblé. Em 2013, foi eleita
por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de
número 33 cujo patrono é o poeta Castro Alves.
A
ialorixá tem nove livros publicados, entre eles “Meu tempo é agora”, “Òsósi – O
Caçador de Alegrias”, “Epé Laiyé- terra viva” e "Ófun".
A
líder religiosa, cultural e social do seu povo sempre condenou o sincretismo
religioso. Para a mãe de santo Stella de Oxóssi, candomblé é candomblé, e
catolicismo é catolicismo. Não concordava com a fusão entre santos e orixás.
Sempre
preocupada em garantir a preservação da cultura negra, Mãe Stella participava
de conferências e dava palestras. No Ilê Axé Opô Afonjá, montou o primeiro
museu aberto em uma casa de candomblé, onde podem ser vistas as roupas e os
objetos usados pelas mães de santo da casa e pelos orixás.
O
livro “Mãe Stella de Oxóssi – Estrela nossa, a mais singela!”, obra organizada
pelo escritor Marcos Santana, conta a história de vida da ialorixá com poesias,
depoimentos, resenhas e análises de algumas de suas produções intelectuais. A
obra foi lançada em 2014, no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.
O
livro é uma coletânea que reúne resgate histórico e cultural, com textos de
diversos autores, como: Edivaldo Boaventura, Muniz Sodré, Antonio Olinto, Jorge
Amado, Fernando Coelho, Padre Arnaldo Lima, Dorival Caymmi, Jorge Portugal,
Menininha dos Gantois, Detinha de Xangô, Marcos Santana e da própria Mãe
Stella.
Em
2014, ela também foi homenageada da Flica, festa literária que é realizada
todos os anos na cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Na mesma época,
criou a biblioteca itinerante adaptando um ônibus para levar a qualquer lugar
livros que abordam curiosidades sobre todas as religiões. Pregava um respeito
mútuo e uma convivência pacífica entre todas as crenças para que as pessoas se
aproximassem pela fé.
Mais
do que uma sacerdotisa de um dos mais importantes terreiros de candomblé do
país, Mãe Stella de Oxóssi foi uma militante do resgate cultural de um povo.
Em
2017, Mãe Stella idealizou e lançou um aplicativo com orientações e mensagens
de fé e motivação e ainda decidiu criar um canal no YouTube com ensinamentos e
referências da cultura iorubá, memórias, depoimentos e textos sobre a sua vida.
O
aplicativo disponibiliza áudios com mensagens motivacionais de Mãe de Stella,
vídeos caseiros da intimidade da ialorixá, galeria de fotos e livros escritos
pela mãe de santo em em formato e-book.
O
canal no YouTube, por sua vez, intitulado "Da Cabeça de Mãe Stella",
tem relação com uma das bandeiras que a ialorixá levantava, que é tornar mais
acessível os ideais do candomblé, religião brasileira de matriz africana que
resiste no país.
A
ideia de criar o canal no YouTube surgiu da própria Mãe Stella que, como
espectadora frequente de palestras filosóficas publicadas na plataforma, teve a
ideia de veicular no site seus próprios ensinamentos da cultura iorubá. (Com
informações do G1).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!