A
Universidade Regional do Cariri – URCA foi palco de uma intensa discussão nesta
quinta-feira, 03/07, sobre africanidade e também no que toca o papel que a
mulher negra ocupou durante o período escravocrata e as suas diversas formas de
resistir a essa condição.
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Em mesa redonda professores debatem sobre "os mundos da África no Brasil". Foto: Profª Beatriz Benevenuto. |
A
temática teve início pela manhã através de uma iniciativa do Núcleo de Pesquisa
em Ensino de História e Cidadania – NUPHISC da referida instituição de ensino
superior que promoveu uma mesa redonda com o propósito de discutir “os mundos
da África no Brasil”. As professoras Simone Pereira da Silva, Marcela dos
Santos Lima, ambas da URCA e Maria Firmino, da Secretaria de Educação do
Município de Juazeiro do Norte, trabalharam o assunto a partir da vertente
religiosa e que foi mediada pelo professor Joaquim dos Santos.
Simone
em uma exposição oral chegou a compartilhar um trabalho de pesquisa que vem
desenvolvendo sobre as manifestações do reisado nos municípios de Crato e
Barbalha, na região do cariri, a partir das contribuições negras. Em um relato
minucioso a professora demonstrou a riqueza e a diversidade como que se apresentam.
Já
a professora Marcela apresentou dados de uma pesquisa de gênero realizada a
partir do campo religioso Umbanda. Na pesquisa foi trabalhado o feminismo e
dentro deste o imaginário da mulher ameaçadora, dona e senhora do corpo.
Marcela relata e explica que a pesquisa científica foi feita a partir do seu
espaço de pertencimento e desenvolve o que ela chamou de oralidade da pesquisa
através do seu pai de santo Daniel de Xangô, da Casa de Oxossi e, claro, da
entidade da umbanda. De forma sintetizada ela partilhou a conceituação de
umbanda e suas linhas, em direita e esquerda, assim como a origem da palavra pomba-gira.
Nessa
mesma linha de raciocínio Maria Firmino discutiu a história do povo banto e a
rota de migração feita de forma forçada por intermédio do tráfico negreiro para
o Brasil. Ainda aqui, Firmino lembrou da diáspora negra e de forma categórica
afirmou ser este o maior genocídio da história da humanidade. Como filha de
santo, ela contou sua experiência de fazer parte do Candomblé e os preconceitos
que sofre no cotidiano, fruto, inclusive da falta de conhecimento da história
do povo negro e suas manifestações culturais.
Este
signatário (foto ao lado – Profª Beatriz Benevenuto) ressaltou sobre a
importância de se pesquisar e compartilhar trabalhos em momentos como esse
relacionado ao povo africano, ao povo negro. E mais importante ainda é variar
as formas e as linhas de pesquisa que venha a tentar compreender a relevância dos
negros e das negras africanos (as) nas mais diversas linhas, cultural, social e
organização política. Deve-se levar em consideração ainda que tão necessário
quanto essas pesquisas, esses estudos é saber como fazê-lo. Sendo assim, é
preciso buscar contar a história dos africanos pela vertente africana,
quebrando preconceitos e estereótipos que sempre acompanhou a história negra
contada pela visão do europeu, do opressor. E por último, há que se pensar em
estratégias que possam colaborar com o cumprimentos por parte dos municípios da
Lei 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o ensino da história e cultura
africana e afro-brasileira e indígena nas escolas.
A
professora de História da rede pública do município de Iguatu, Beatriz
Benevenuto ao comentar sobre a mesa redonda pontuou “durante as apresentações e os debates, o sentimento era de como é bem
mais proveitoso saber mais a respeito da cultura e religiões africanas através
das experiências de pessoas que vivem tal cultura e religião, isso desmistifica
muita coisa, muitos estereótipos arraigados na história do povo brasileiro que
é essencialmente africana”.
A
tarde este signatário esteve com o Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas
Simoa. Tínhamos como objetivo analisar e debater sobre obra de Ângela Davis -
"Mulher, Raça e Classe”. Em pouco mais de duas horas de discussão foi
apresentado os quatro primeiros capítulos do livro, a saber, O Legado da
Escravatura: bases para uma nova natureza feminina; O movimento anti-escravocrata
e o nascimento dos direitos das mulheres; Classe e raça no início da campanha
dos direitos das mulheres e Racismo no movimento sufragista feminino. Ficou
acordado que na próxima segunda-feira, 07 de julho, haverá um novo encontro de
formação para a completa análise da obra.