![]() |
Estudantes da escola municipal Ruben Bento Alves, de Caxias do Sul (RS), onde são realizadas atividades escolares que envolvem temas de relações étnico-raciais. (FOTO | Carlos Macedo | Folhapress). |
A fim de fortalecer o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira e contribuir com a mudança de um cenário preocupante, professoras da Escola Municipal Embaixador Barros Hurtado, localizada em Cordovil, bairro da Zona Norte carioca, implementam, nas matérias de matemática, ciências e espanhol, conteúdos que enaltecem a educação antirracista.
A Lei 10.639/2003 torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar. No entanto, apesar da existência da legislação, sua implementação ainda enfrenta desafios que envolvem todo o ecossistema acadêmico. Além das escolas, as secretarias municipais e estaduais de educação desempenham um papel central na definição de diretrizes, alocação de recursos e formação contínua dos profissionais da educação. Da mesma forma, a participação ativa de gestores, educadores, estudantes e seus familiares é essencial para garantir a efetividade desse processo.
“As mais de duas décadas da Lei 10.639 colaboram, sem dúvidas, para uma revisão histórica e a inclusão de outros olhares, visões e percepções entre os profissionais de educação e, obviamente, entre os estudantes. O ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos da educação básica, embora ainda longe do ideal, tem contribuído para a ampliação das políticas e estratégias pedagógicas de valorização da diversidade”, defende Ana Paula Brandão, gestora do Projeto SETA, organização cujo objetivo é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista.
Saberes matemáticos no continente africano, Feira Afroetnomatemática, e descobertas dos povos africanos e indígenas
Docente da disciplina de matemática há 18 anos, Juliana Teixeira, implementa conteúdos antirracistas em suas aulas através de conhecimentos do continente africano. De acordo com a professora, para realizar esse trabalho é necessário, principalmente, desconstruir a visão eurocêntrica tão divulgada.
“Como exemplo prático, posso citar a Feira Afroetnomatemática, realizada em nossa escola. Os alunos pesquisam, constroem e ensinam sobre diversos jogos educativos africanos, além de trabalharem conceitos matemáticos por meio da capoeira, da engenharia africana, tranças, entre outros temas”, comenta.
Clarissa Raso, professora de ciências, aborda o conteúdo sempre que o assunto pode ser contextualizado com a história, a cultura, os costumes e as contribuições afro-brasileiras. Ao abordar astronomia, por exemplo, Clarissa inclui contos, narrativas e descobertas realizadas pelos povos africanos e indígenas.
No ensino de evolução, ela trabalha a origem da humanidade no continente africano, explorando as características físicas e genéticas que explicam a adaptação e sobrevivência dos diferentes grupos populacionais ao redor do mundo. Já em botânica, a proposta é explorar o conhecimento sobre plantas medicinais, investigando seu uso tradicional e sua relevância até os dias atuais, reconhecendo a importância dos saberes ancestrais.
“Com essas abordagens em sala de aula, os alunos demonstram interesse em trabalhar a temática, pois se sentem pertencentes e identificados com o assunto. As transformações no conhecimento ocorrem gradualmente, mas, ao observarmos atentamente, percebemos melhorias na autoconfiança, na empatia e até mesmo no comportamento”, salienta a professora.
Já durante as aulas de espanhol, Elisabete Macedo, que tem mais de duas décadas de profissão, apresenta aos estudantes personalidades negras e indígenas da cultura hispano-americana, além de políticos, literários e artistas. “Nos encontros, percebemos que os alunos se identificam mais com as histórias de vida dos personagens apresentados. Com isso, notamos que eles passam a ter mais orgulho de si mesmos”, compartilha a educadora, que tem a expectativa de os estudantes desenvolverem uma consciência crítica sobre os diversos corpos e culturas que compõem a população brasileira.
Mais de 40 aprovações em escolas federais e estaduais
O bom trabalho desenvolvido por todo o corpo docente da escola conquista bons frutos. Em 2024, a Escola Municipal Embaixador Barros Hurtado teve 43 aprovações em instituições federais e estaduais, como Pedro II, FAETEC, CEFET, Instituto Federal do Rio de Janeiro e Escola SESI. Os resultados positivos plantam, no coração da professora Mônica Aniceto, docente de língua portuguesa, expectativas de um futuro melhor.
“Essas crianças moram em Cordovil ou nas proximidades. Isso não pode ser considerado trivial. O bairro só aparece na televisão por causa da violência que o cerca. No entanto, esses alunos têm tudo para conquistar avanços em prol de uma sociedade mais igualitária. Não tenho dúvidas de que estamos entregando cidadãos conscientes e críticos”, finaliza a educadora.
De acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2023, a rede municipal do Rio de Janeiro alcançou os melhores resultados da série histórica. O crescimento entre 2021 e 2023, nos Anos Iniciais, foi o maior aumento registrado entre as avaliações desde 2009. O Indicador mede a qualidade da educação no Brasil.
_____
Com informações do Geledés.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!