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Trabalhadores e movimentos sociais fazem manifestação pelo fim da escala 6x1 e pela taxação dos super-ricos, no Rio de Janeiro, no dia 10 de julho. (FOTO | Fernando Frazão | Agência Brasil). |
O debate sobre justiça fiscal voltou à pauta nacional com a proposta de taxação de grandes fortunas, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. A medida mira o topo da pirâmide social: os chamados super-ricos. Apresentada como uma tentativa de reequilibrar a arrecadação federal, a proposta enfrenta resistência da maioria dos deputados.
Uma
nota técnica divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no início de 2024
detalhou quem são os super-ricos brasileiros. Divididos em três grupos, entre
eles os milionários enquadrados no 0,01% mais rico, que à época declararam
rendimentos mensais acima de R$ 2,1 milhões.
No
outro extremo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad
Contínua) de 2024 aponta uma renda média nacional de R$ 3.057 mensais, valor
que representa o ganho de 95% da população brasileira.
Além
de mirar os super-ricos, a reforma em discussão também sugere aumentar a carga
tributária sobre setores pouco taxados e altamente lucrativos, como o
agronegócio e as casas de apostas on-line. No entanto, o avanço da proposta
sofre pressões contrárias e perde força diante das articulações por cortes em
despesas com saúde, educação e assistência social.
Congresso branco e milionário protege
seus próprios interesses
Para
o Observatório da Branquitude, no Brasil, a resistência histórica à taxação dos
mais ricos é resultado direto da composição social e econômica dos tomadores de
decisão. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicam que mais da metade
dos 513 deputados federais são milionários.
Dos
dez parlamentares com maior patrimônio declarado, todos são homens brancos. Do
total de 594 congressistas, 70% se autodeclaram brancos. Apenas 6% se
identificam como pretos e 21% como pardos.
Esse
perfil tem reflexos nas prioridades do Legislativo. “Esses parlamentares
convivem com o lobby formal dos setores econômicos mais poderosos”, afirma o
Observatório da Branquitude à Alma Preta. Para o grupo, a proximidade social
entre congressistas e elites econômicas reforça a defesa de interesses privados
em detrimento do bem público.
A
carga tributária no Brasil é baseada majoritariamente em impostos sobre
consumo, o que penaliza de forma mais intensa quem ganha menos. Essa estrutura
afeta com mais força a população negra, periférica, indígena e quilombola,
conforme explica o Observatório da Branquitude.
“O básico, a sobrevida e a alimentação
‘comem’ a renda dessas populações muito mais do que a renda daqueles que estão
nos degraus superiores da pirâmide social”, explica a iniciativa.
Essa
desigualdade se expressa também nas distorções raciais: homens brancos do 1%
mais rico têm mais renda do que todas as mulheres negras do país, grupo que
compõe a maior parcela da população brasileira. Além disso, a falta de
progressividade impede que os recursos arrecadados cheguem com força aos
serviços públicos, dos quais essa população depende com mais intensidade.
Pressão popular enfrenta barreiras
estruturais
A
sociedade civil tenta influenciar o debate fiscal com participação em
audiências públicas e campanhas de mobilização. No entanto, as condições de
pressão são desiguais. “Não temos condições de pressionar em igualdade de
condições com os setores da elite branca”, apontam os analistas do
Observatório.
Grupos
empresariais que seriam afetados pela reforma, como o agronegócio, o setor
financeiro e empresas de apostas, seguem com acesso privilegiado aos
parlamentares. Muitos desses setores têm representantes diretos no Congresso ou
atuam de forma permanente nos bastidores legislativos.
Nesse cenário, a proposta de taxar grandes fortunas segue parada. E, ao manter a estrutura como está, o Congresso reafirma uma escolha política: preservar os interesses de quem já acumula riqueza, mesmo à custa da piora das condições de vida da maioria.
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