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Primeira mulher negra brasileira é conferencista em Congresso Internacional de Comunicação


Acontece de 15 e 19 de julho a Conferência anual da IAMCR – International Association for Media and Comunication Research, na cidade de Hyderabad, na Índia. As conferências da IAMCR são um dos principais eventos da pesquisa em comunicação no mundo. O órgão internacional tem como objetivo incentivar pesquisas na área de comunicação e vem incentivando, nos últimos anos, a inclusão de estudos emergentes e de regiões economicamente desfavorecidas, fora do eixo hegemônico na área. O IAMCR 2014 tem como tema Region as frame: politics presence e practice, que visa explorar a dinâmica dos sistemas de mídia, padrões de comunicação e relações organizacionais dentro deste novo “enquadramento” da região como uma categoria física e conceitual. Este ano será homenageado o estudioso da Comunicação, Stuart Hall, um dos fundadores dos Estudos Culturais, que faleceu em 10 de fevereiro deste ano.

Professora Rosane da Silva Borges, jornalista  e doutora
em ciências da comunicação, fará conferência na Índia
sobre novas propostas de representação da mulher
negra tomando como referência e Educomunicação.
Para as conferências, o evento conta com grandes nomes da comunicação e de outras áreas, como o premiado sociólogo espanhol Manuel Castells. O Brasil terá dois conferencistas, entre eles a professora doutora Rosane da Silva Borges (UEL) que fará conferência na sessão Mediating Marginalities: Caste, Race, Ethnicity e o professor doutor Carlos Affonso Souza (UERJ). Autora de oito livros, entre eles Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (Imprensa Oficial) e a biografia de Sueli Carneiro (Summus), Rosane Borges transita em diversos campos da pesquisa em comunicação, com enfoque para o tópico do imaginário e das representações sociais em torno de grupos historicamente discriminados.

Qual a importância deste evento?

Os congressos internacionais da IMACR são um evento importante para repor o debate em torno das principais demandas da comunicação, uma área que se converteu em vetor majoritário para pensarmos o dinamismo das sociedades contemporâneas. Sabemos que além do seu aspecto técnico e veicular, a comunicação comporta uma dimensão fundante que nos provê os modos de sociabilidade em curso, colaboram para tecer as identidades fluidas que nos habitam e oferecer horizontes possíveis para os sentidos da vida cotidiana. Nesse sentido, esse congresso oferece um painel atualizado sobre as principais interrogações que movem as pesquisas na área em seus diversos aspectos, numa perspectiva transdisciplinar. Revolver o campo da comunicação e deslocar os eixos geográficos de sua atuação no âmbito da pesquisa tem sido um desafio para a IMACR.

Quais são os pontos principais da sua conferência?

Irei apresentar uma reflexão em torno das representações das mulheres negras e como tais representações derivam de um imaginário que, de per si, nos institui, social e simbolicamente. Proponho uma aliança entre educação e comunicação, para que tal imaginário seja implodido e construamos, a partir de outros referenciais, um outro imaginário que restitua efetivamente a nossa humanidade. Tomo essa questão como essencial no território da comunicação, em geral, e das mídias, em particular. Existe uma inequívoca correlação entre o racismo e o prodigioso imaginário que dá sustentação a um ideal de superioridade de uns e inferioridade de outros. Sabemos que imagem é poder, um bem importante para a disputa da hegemonia. A visibilidade do mundo, não atende apenas ao princípio iluminista da transparência, mas aos processos de instituição das crenças com as quais concordamos ou discordamos. As redes sociais vem dando escala inaudita a esse fato. É certo que algumas dessas imagens são postas sob suspeita, a exemplo das veiculadas ad nauseum sobre o conflito israel-palestino nesses últimos dias. Não temos dúvida da ação desmedida e massacrante de Israel. Por outro lado, não podemos deixar de considerar que várias dessas imagens são, comprovadamente, montagens para sensibilizar o mundo. Tal recurso nos coloca o desafio de pensar o estatuto da imagem e das crenças que elas conseguem suscitar. A disputa por atenção e adesão passa, necessariamente, pelo poder mobilizador das imagens que se multiplicam em escala exponencial. Pensar imagem, imaginário, racismo e sexismo constitui-se em urgência política.

As mulheres negras têm pouca participação em eventos como este. Como você observa isso?
Normalmente sim, principalmente na composição de conferencistas. Quando participamos de grandes conferências como essa ingressamos no rol dos grupos de trabalho, apresentando nossas pesquisas. É preciso consolidarmos grupos de pesquisa, alicerçados em bases disciplinares comuns, para que possamos partilhar as nossas investigações em escala amplificada.

Como este quadro pode ser alterado?

Por meio de incentivo à pesquisa com foco nas relações raciais. No campo da comunicação, onde a presença de pesquisadoras negras é ínfima, faz-se necessário estimular o ingresso de mulheres negras nas áreas de pesquisa afins.

Quais são suas expectativas com a Conferência?

As melhores possíveis. Acredito, pela própria natureza da Conferência, que as discussões políticas serão um fio condutor para pensarmos o tempo presente que não se permite uma compreensão mais acurada, tendo em vista a velocidade informacional. Há quem diga que devemos ser dromoaptos, ou seja, ter a capacidade de acompanhar o ritmo veloz que os suportes comunicacionais imprimem aos eventos cotidianos. Faz-se necessário dar a comunicação, do ponto de vista da investigação científica, a centralidade que ela ocupa nos desdobramentos tecnológicos que não podem, por si sós, explicar os fenômenos recentes que nos atordoam.


Texto de Silvia Castro, jornalista e pesquisadora na área da Comunicação e foi publicado originalmente no Portal Áfricas.

URCA vira palco de discussões sobre africanidade e papel da mulher negra


A Universidade Regional do Cariri – URCA foi palco de uma intensa discussão nesta quinta-feira, 03/07, sobre africanidade e também no que toca o papel que a mulher negra ocupou durante o período escravocrata e as suas diversas formas de resistir a essa condição.

Em mesa redonda professores debatem sobre "os mundos da África no Brasil". Foto: Profª Beatriz Benevenuto.
A temática teve início pela manhã através de uma iniciativa do Núcleo de Pesquisa em Ensino de História e Cidadania – NUPHISC da referida instituição de ensino superior que promoveu uma mesa redonda com o propósito de discutir “os mundos da África no Brasil”. As professoras Simone Pereira da Silva, Marcela dos Santos Lima, ambas da URCA e Maria Firmino, da Secretaria de Educação do Município de Juazeiro do Norte, trabalharam o assunto a partir da vertente religiosa e que foi mediada pelo professor Joaquim dos Santos.

Simone em uma exposição oral chegou a compartilhar um trabalho de pesquisa que vem desenvolvendo sobre as manifestações do reisado nos municípios de Crato e Barbalha, na região do cariri, a partir das contribuições negras. Em um relato minucioso a professora demonstrou a riqueza e a diversidade como que se apresentam.

Já a professora Marcela apresentou dados de uma pesquisa de gênero realizada a partir do campo religioso Umbanda. Na pesquisa foi trabalhado o feminismo e dentro deste o imaginário da mulher ameaçadora, dona e senhora do corpo. Marcela relata e explica que a pesquisa científica foi feita a partir do seu espaço de pertencimento e desenvolve o que ela chamou de oralidade da pesquisa através do seu pai de santo Daniel de Xangô, da Casa de Oxossi e, claro, da entidade da umbanda. De forma sintetizada ela partilhou a conceituação de umbanda e suas linhas, em direita e esquerda, assim como a origem da palavra pomba-gira.

Nessa mesma linha de raciocínio Maria Firmino discutiu a história do povo banto e a rota de migração feita de forma forçada por intermédio do tráfico negreiro para o Brasil. Ainda aqui, Firmino lembrou da diáspora negra e de forma categórica afirmou ser este o maior genocídio da história da humanidade. Como filha de santo, ela contou sua experiência de fazer parte do Candomblé e os preconceitos que sofre no cotidiano, fruto, inclusive da falta de conhecimento da história do povo negro e suas manifestações culturais.

Este signatário (foto ao lado – Profª Beatriz Benevenuto) ressaltou sobre a importância de se pesquisar e compartilhar trabalhos em momentos como esse relacionado ao povo africano, ao povo negro. E mais importante ainda é variar as formas e as linhas de pesquisa que venha a tentar compreender a relevância dos negros e das negras africanos (as) nas mais diversas linhas, cultural, social e organização política. Deve-se levar em consideração ainda que tão necessário quanto essas pesquisas, esses estudos é saber como fazê-lo. Sendo assim, é preciso buscar contar a história dos africanos pela vertente africana, quebrando preconceitos e estereótipos que sempre acompanhou a história negra contada pela visão do europeu, do opressor. E por último, há que se pensar em estratégias que possam colaborar com o cumprimentos por parte dos municípios da Lei 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira e indígena nas escolas.

A professora de História da rede pública do município de Iguatu, Beatriz Benevenuto ao comentar sobre a mesa redonda pontuou “durante as apresentações e os debates, o sentimento era de como é bem mais proveitoso saber mais a respeito da cultura e religiões africanas através das experiências de pessoas que vivem tal cultura e religião, isso desmistifica muita coisa, muitos estereótipos arraigados na história do povo brasileiro que é essencialmente africana”.

A tarde este signatário esteve com o Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa. Tínhamos como objetivo analisar e debater sobre obra de Ângela Davis - "Mulher, Raça e Classe”. Em pouco mais de duas horas de discussão foi apresentado os quatro primeiros capítulos do livro, a saber, O Legado da Escravatura: bases para uma nova natureza feminina; O movimento anti-escravocrata e o nascimento dos direitos das mulheres; Classe e raça no início da campanha dos direitos das mulheres e Racismo no movimento sufragista feminino. Ficou acordado que na próxima segunda-feira, 07 de julho, haverá um novo encontro de formação para a completa análise da obra.