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(FOTO/ Nicho 54). |
A
mostra de filmes ‘Insurreição!’ do Nicho 54, que acontece entre os dias 27 de
agosto a 5 de setembro, promove um espaço de valorização dos negros no
audiovisual, através da exibição online de 13 filmes sobre biografias de
resistência negra. O público terá acesso gratuito da Sala 54. A iniciativa
conta com uma pluralidade de curtas e longa-metragens nacionais e
internacionais, três deles exibidos pela primeira vez no Brasil.
O
Instituto Nicho 54, nasceu em novembro de 2019, e se estruturou em três
pilares, que são curadoria, formação e mercado. A assinatura brasileira
‘Insurreição!’ contará com produções de horror, comédia e obras experimentais
que buscam a reflexão do público para temas como processos coloniais,
resistência à escravização e formação da sociedade brasileira.
“Essa
estrutura se deve à importância de uma atuação que trouxesse os diferentes
agentes da indústria do cinema, porque sentíamos que ao termos discussões sobre
audiovisual e racialidade no Brasil, do ponto de vista de alteração de uma
realidade de desigualdade, os debates tendiam a ficar concentrados em um lugar
específico”, reflete Heitor Augusto, programador-chefe do Nicho 54 e curador da
mostra.
Exibição
Destaque
para a estreia brasileira de 'Nationtime' de William Greaves, um dos principais
documentaristas negros estadunidense e autor de mais de 100 produções do gênero
documental que versam sobre história, política e cultura afro-americana. Após
ter ficado perdido por um longo período e ter sido encontrado em um galpão em
Pittsburgh em 2018, o documentário, lançado em 1972, ganha exibição em versão
restaurada na mostra em sessão autorizada por Louise Greaves, viúva e parceira
cinematográfica do diretor.
O
festival também fará exibição inédita no país da produção 'Pátria'
(Zahlvaterschaft), do cineasta alemão Moritz Siebert, que retrata a luta de um
homem em busca da cidadania alemã há mais de 30 anos, desvelando facetas do
sistema colonial. O filme integrou a seção Forum Expanded, do Festival de
Berlim deste ano.
Outra
atração internacional é 'Panteras Negras: vanguarda da revolução' (The Black
Panthers: Vanguard of the Revolution), único documentário em longa-metragem a
explorar a importância do Partido dos Panteras Negras para a vida cultural e
política dos Estados Unidos. O filme traz uma grande quantidade de entrevistas
tanto com ex-lideranças quanto com anônimos, além de endereçar as contradições
e complexidades do partido.
Já
'As pretas contra-atacam' (Chocolate Babies), de Stephen Winter, apoia-se na
sátira social para acompanhar um grupo de gays, lésbicas e travestis que lutam
contra políticos conservadores homofóbicos nas ruas de Nova Iorque. A sessão em
‘Insurreição!’ celebra os 25 anos da primeira exibição deste filme no OutFest,
festival voltado à representação das pessoas LGBTQIA+.
Outro
destaque fica para 'As Aventuras Amorosas de um Padeiro', dirigida por Waldyr
Onofre - apenas a quarta pessoa negra brasileira a dirigir um longa-metragem -.
O filme apresenta uma fábula controversa sobre luta de classes e relacionamento
interracial no Brasil dos anos 1970.
Curadoria
“Quando
pensamos em resistência negra, qual forma ela toma? Com quais corpos a
associamos? A nossa abordagem curatorial em ‘Insurreição!’ convida o público a
repensar pré-concepções e ir além da imagem do homem negro como símbolo único
da militância. Priorizamos um entendimento amplo de luta negra, trazendo para
destaque também os corpos dissidentes que constroem espaços divergentes da
cisheteronormatividade”, afirma o curador do Nicho 54.
‘Insurreição!’
É a segunda mostra promovida pelo Eixo Curatorial do NICHO 54 neste ano. A
primeira delas foi a 'América Negra: Conversas Entre as Negritudes
Latino-americanas', que exibiu 35 filmes, produzidos em 10 países diferentes,
entre os dias 04 e 13 de junho. Contando com grande audiência internacional, a
evento foi acompanhdo em mais de 20 países, entre eles Brasil, Estados Unidos,
Colômbia, Equador e México.
“Entendemos
a curadoria como esse espaço para a construção de pertencimento para os
espectadores negros e negras, bem como um espaço para uma representação
complexa das nossas vivências. A nova mostra do NICHO 54 representa a
consolidação dessa visão curatorial racializada”, acrescenta Augusto.
Captação de recursos
O
programador-chefe contou a Alma Preta Jornalismo, durante o evento de coletiva
de imprensa da mostra ‘Insurreição!’, quais foram as estratégias de captação de
recursos utilizadas pelo Instituto para construção desse espaço de valorização
do cinema negro:
“O
Nicho 54 utiliza uma estratégia múltipla de captação. Um eixo muito importante
da nossa captação é encontrar parceiros e financiadores. Sabemos que no Brasil
o contexto está cada vez mais hostil e, além disso, temos observado nos últimos
anos um profundo sucateamento das instituições fomentadoras. Então parte da
nossa estratégia está em interlocução com agentes fora do Brasil”, pontua
Augusto.
As
duas mostras organizadas pelo Nicho 54 foram projetos financiados pela Open
Society Foundations, fundação criada por George Soros, que contribui para a
construção de democracia ao redor do mundo ao se aproximar das pautas dos
Direitos Humanos. Segundo o curador, o recurso possibilita a construção das
mostras, cursos, atividades de mobilização, catálogos e materiais de apoio para
replicação em contextos educacionais.
“Parte da nossa estratégia está em interlocução com agentes fora do Brasil. Isso não é só uma necessidade, mas também uma vocação. Por conta das nossas trajetórias, o Nicho 54 nasce internacional. E a diáspora é um potencial interminável, as questões negras no Brasil são particulares e universais”, completa.
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Com informações do Alma Preta.
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