Quarenta
anos depois, o livro de Abdias Nascimento – uma obra de referência no debate
étnico-racial – é relançado para denunciar a violência contra a população negra
no Brasil.
Falecido
em 2011, aos 97 anos, Abdias deixou um legado de luta contra o racismo na
literatura, na política e em muitos aspectos da sociedade brasileira. O
ativista – que viveu exilado entre 68 e 81, durante a ditadura militar – foi
senador, deputado, escultor, ator e fundador do Teatro Experimental do Negro.
Confira
nesse vídeo especial do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil
(UNIC Rio).
Em
2018, ‘O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado’, de
Abdias Nascimento, completa 40 anos.
Para
denunciar a violência contra a população negra, uma marca persistente da
sociedade brasileira, Elisa Larkin Nascimento – viúva de Abdias – relança o
livro, escrito a partir de pesquisa apresentada na Nigéria em 1977.
“Esse texto, que foi banido do Festival
Mundial de Arte e Cultura Negras, na Nigéria, falava da democracia racial como
um mito e trazia à tona a constatação da situação de genocídio do negro
brasileiro”, contou Elisa, diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-brasileiros (Ipeafro), ao Centro de Informação das Nações Unidas para o
Brasil (UNIC Rio).
Na
ocasião, a fala de Abdias, que questionava a ideia de que o Brasil
experimentava uma plena e harmoniosa convivência racial, foi substituída pela
palestra do professor Fernando A. A. Mourão, que defendia que o Brasil havia
resolvido o problema do racismo, vivendo em uma sociedade de “democracia racial”.
Apesar
de ter sido proibido de participar como orador, Abdias não se calou. O seu
texto foi publicado em inglês e distribuído aos participantes do colóquio.
O
livro, que aborda a violência e abusos contra a população negra, bem como o
histórico da escravidão dos descendentes de africanos no Brasil, dialoga com a
Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), reconhecida pela comunidade
internacional como grupo distinto cujos direitos humanos precisam ser
promovidos e protegidos.
Falecido
em 2011, aos 97 anos, Abdias deixou um legado de luta contra o racismo na
literatura, na política e em muitos aspectos da sociedade brasileira. O
ativista – que viveu exilado entre 68 e 81, durante a ditadura militar – foi
senador, deputado, escultor, ator e fundador do Teatro Experimental do Negro.
Além
da atuação nos palcos, o Teatro Experimental do Negro assumia uma postura
política e integrada com as entidades que lutavam pela igualdade.
Toda
uma vida dedicada à militância pelos direitos humanos foi lembrada na biografia
de Abdias ‘Grandes vultos que honraram o Senado’, escrita por Elisa.
Doutora
em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São
Paulo, com estudo sobre a identidade afrodescendente no Brasil, Elisa destaca
que a forma como o racismo se estabelece na sociedade brasileira está
diretamente relacionada ao passado escravocrata, que restringiu direitos e oprimiu
crenças e concepções da população de ascendência africana.
O
Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados – cerca de 5 milhões
dos 10 milhões que chegaram ao continente americano – durante os cerca de 350
anos de tráfico transatlântico, entre os séculos 16 e 19. O Brasil também foi o
último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888.
“Abdias argumentava que não era apenas a
matança, mas a extinção dos valores culturais de um povo. Houve uma política de
Estado de repressão às religiões de matrizes africanas, que foram o esteio das
expressões culturais. Hoje, temos uma situação caracterizada da continuação
desse genocídio, a violência continua tendo motivação racista, carrega o ódio
racial e reforça estereótipos ligando a população negra à criminalidade”,
lamenta a escritora.
Atualmente,
no Brasil, 7 em cada 10 pessoas assassinadas são negras. Em cada 23 minutos, um
jovem negro é assassinado. Para conscientizar sobre a violência contra a
juventude negra no país, as Nações Unidas criaram, em 2017, a campanha Vidas
Negras.
ONU promove cine-debate sobre legado
africano
O
Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) organiza no
próximo dia 10 de abril, às 18h, no Rio de Janeiro, um cine-debate para
sensibilizar a população sobre o legado da diáspora africana e seus desafios
atuais. A iniciativa tem o apoio institucional do Centro Cultural da Justiça
Federal, onde será realizado o encontro.
O
evento marca o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do
Comércio Transatlântico de Escravos, lembrado todo 25 de março.
Será
exibido o documentário “Rostos Familiares
/ Lugares Inesperados: uma diáspora africana global”, da Dra. Sheila
Walker, diretora-executiva da Afrodiaspora, seguido de um debate sobre o
documentário com pesquisadores e representantes da diáspora africana. (Com informações da ONU).
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